Presidenciais. Candidatos pescam em terreno adversário

Presidenciais. Candidatos pescam em terreno adversário


Numas presidenciais em que o favorito vem de fora do sistema político, a caça de apoios fora dos partidos de origem e no mundo militar assume um valor acrescido.


Já é tradicional nas eleições presidenciais os candidatos, quase sempre vindos das hostes partidárias, quererem apresentar-se como figuras mais abrangentes, que conseguem pescar em eleitorados fora das fronteiras partidárias em que se situam. Desta vez, a necessidade de mostrar independência dos partidos aumentou, já que, pela primeira vez depois da presidência de Ramalho Eanes (1976/1986), o candidato favorito, vem de fora dos partidos e é militar. Gouveia e Melo surge distanciado à frente em todas as sondagens e isso faz com que os outros candidatos já no terreno, Marques Mendes e António José Seguro, tenham como estratégia apresentar apoios de peso de diferentes áreas políticas e até militares. Os trânsfugas que apoiam as diversas candidaturas são, portanto, por estes dias, a notícia privilegiada dos candidatos presidenciais.

Almirante pesca no PSD

Desde muito cedo que vários nomes ligados aos sociais-democratas se foram posicionando ao lado do almirante Gouveia e Melo. Muitos deles manifestaram o apoio a uma eventual candidatura, muitos meses antes de a decisão do homem que comandou o processo de vacinação contra a Covid-19 ter finalmente anunciado a sua decisão.

Durante meses, figuras como Ângelo Correia, Martins da Cruz, Carlos Carreiras ou Isaltino de Morais, trabalharam nos bastidores na recolha de apoios e na estratégia de uma campanha mais do que certa. Gouveia e Melo esteve sempre a par das démarches. Foi mantendo encontros privados com figuras que lhe iam sendo recomendadas e foi ajustando o timing das intervenções que iria ter, entre a sua passagem à vida civil e o momento em que anunciaria a candidatura.

Aos nomes mais sonantes na área do PSD viria a juntar-se o histórico António Capucho e, para o jantar de apresentação formal da candidatura no Porto ficou guardada a grande surpresa: Rui Rio, que antecedeu a Luís Montenegro na presidência do PSD, apareceu de surpresa para ser anunciado como mandatário da candidatura.

Parecendo o candidato que alberga os inconformados dos vários partidos ao centro e centro-direita, o almirante conta também com o apoio de dois ex-líderes do CDS: Ribeiro e Castro e Francisco Rodrigues dos Santos.

 Na área do PS o dano é menor para os candidatos da área socialista. Até ao momento só surgiram dois apoios de segunda linha: Diogo Leão, que foi coordenador do partido na Comissão de Defesa Nacional, e Ricardo Pinheiro, ex-secretário de Estado do Planeamento.

Marques Mendes entre o PS e as FA

Foi o primeiro a formalizar a candidatura a Belém, num timing que muitos consideraram extemporâneo. Com o apoio do PSD garantido à partida, o trabalho do antigo líder social democrata e comentador televisivo focou-se na procura de apoios que descolem a sua imagem do partido.

Tendo como principal adversário alguém que se diz apartidário, Luís Marques Mendes aposta em mostrar apoios que venham de outras paragens. Do mundo militar, ao político, ao académico, ao cultural, os contactos de muitos anos na vida pública têm sido de ajuda para recolher apoios essenciais para se apresentar com uma candidatura transversal à sociedade.

Ao mundo militar foi buscar o apoio de Pina Monteiro, o antigo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, que numa cerimónia de 10 de junho amparou Cavaco Silva quando este desmaiou. Taveira Martins e Manuel Rolo são outros dois ex-chefes militares que já declararam apoio ao candidato.

À área da cultura, o antigo comentador foi buscar a escritora Alice Vieira e o cantor Toy, próximos do PS e, menos alinhados politicamente, António Sala, Marina Mota, Carlos Cunha, Rita Salema e Adriano Jordão.

É na juventude que Mendes consegue dois nomes de peso: André Sampaio, filho de Jorge Sampaio e João Perestrelo, filho de Marcos Perestrelo. Também no mundo autárquico o candidato consegue pescar entre os socialistas, é o caso do Presidente da Câmara de Fafe e de Fernando Paulo, o atual vereador na Câmara do Porto que integra as listas de Manuel Pizarro nas próximas eleições.

Seguro reclama apoios socialistas e não só

António José Seguro, o último dos nomes de peso a apresentar a candidatura a Belém, é também aquele  que tem dois desafios paralelos. Pescar em águas do partido que já liderou e que resiste a dar-lhe apoio e conseguir apoios de outras áreas políticas e da sociedade civil, que consigam impor a candidatura como uma candidatura de peso.

No primeiro teste, no passado domingo nas Caldas da Rainha, Seguro conseguiu causar uma primeira boa impressão. Sala cheia, cenário profissional e caras conhecidas para todos os gostos.

Começando por nomes socialistas, que no seu caso são considerados trânsfugas, causou impacto o friso que se sentou na primeira fila. João Soares, Maria de Belém, Alberto Martins, Álvaro Beleza e Francisco Assis fizeram questão de dar a cara e assim pressionarem um futuro apoio do partido. Faria e Costa, que no passado apoiou a candidatura de Manuel Alegre e Adalberto Campos Fernandes manifestaram apoio a Seguro e o próprio Manuel Alegre já veio apelar ao partido para que se junte à candidatura do seu ex-secretário-geral.

Tal como Marques Mendes, também Seguro faz questão de contar com nomes de militares entre os apoiantes com mais visibilidade. Augusto Pinto é almirante e tem a particularidade de ter sido professor de Gouveia e Melo. À Força Aérea o candidato foi buscar o apoio de Alfredo Cruz.

Tendo assumido a candidatura há poucos dias, ainda são escassos os nomes divulgados, e em áreas políticas diferentes da socialista, são ainda menos. Mesmo assim António José Seguro fez questão de dar destaque nos últimos dias ao apoio de Varandas Fernandes, militante do CDS e Nuno Miguel Henriques, o social-democrata que preside à Câmara das Caldas da Rainha.