A política americana tem atravessado alguns momentos de convulsão. Os conflitos teimam em não cessar, há protestos nas ruas e Los Angeles foi palco de um caos generalizado. Mas outro acontecimento, certamente menos importante para o povo americano que os outros, mas não menos mediático, agitou as águas em Washington – a separação Elon Musk/Donald Trump.
Importa relembrar que Musk, um dos homens com mais património do mundo, fundador de empresas como a Tesla, a SpaceX ou a Starlink, foi um dos principais apoios de Trump na sua segunda corrida à Casa Branca e acabou por ser recompensado com uma função tanto importante quanto complexa: cortar as gorduras de um Estado hipertrofiado. De motosserra em punho, inspirado pelo presidente argentino Javier Milei, Musk tentou aniquilar uma boa parte da despesa norte-americana através do seu recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).
Contudo, ao fim de sensivelmente seis meses, os resultados não foram, de todo, os esperados. O empresário, ainda antes das eleições, disse que poderia realizar cortes no valor de «pelo menos 2 biliões». No final, de acordo com uma peça do New York Times que remove os erros no processo de apuramento dos cortes na despesa, o DOGE conseguiu apenas poupar 2 mil milhões de dólares.
O despesismo de Trump, que fez passar no Congresso um pacote legislativo que vai aumentar a dívida «em cerca de 3 biliões, ou sensivelmente 5 biliões caso se torne permanente», como reportou o Congressional Budget Office, não facilitou o trabalho de Musk, que recentemente se queixou do facto de o DOGE estar a ser utilizado como «bode expiatório». O proprietário da Tesla já tinha demonstrado o seu desagrado com o imbróglio tarifário causado por Trump, mas foi a sua crítica deste última pacote legislativo, a «Big, Beautiful Bill», que deixou a rutura mais perto.
A cisão acabou por chegar quando Musk publicou, no dia 3 de junho, na sua rede social X, a seguinte mensagem: «Lamento, mas já não aguento mais. Este projeto de lei do Congresso (…) é uma abominação nojenta». A partir desta publicação foi criada uma bola de neve de insultos entre Trump e Musk, alguns dos quais podem ser vistos aqui.
“Abominação nojenta”
Elon Musk, em reação ao pacaote legislativo que acabava de ser aprovado pelo Congresso, escreveu na sua rede social X o seguinte: «Lamento, mas já não aguento mais. Este projeto de lei do Congresso, maciço, ultrajante e cheio de carne de porco, é uma abominação nojenta. Que vergonha para aqueles que votaram a favor: sabem que fizeram mal. Sabem que o fizeram».

“Palavras sábias”
Após publicar a mensagem onde critica duramente o pacote legislativo, Musk dedicou-se a partilhar publicações antigas do presidente americano. Aqui, Musk repostou um tweet de Trump, de 2013, onde dizia que se sentia «envergonhado» ao ver que os republicanos estavam «a alargar o limite máximo da dívida». Musk acrescentou o comentário, em tom de provocação, «palavras sábias».

A questão dos subsídios
Em resposta às publicações de Elon Musk, Donald Trump, numa conferência na Sala Oval, disse: «Estou muito desiludido com o Elon. Ajudei-o muito. Ele conhecia o funcionamento do projeto de lei melhor que qualquer pessoa aqui sentada. Não tinha qualquer problema com ele. De repente, ficou com um problema e só o desenvolveu quando soube que íamos reduzir o subsídio aos veículos elétricos». Musk negou.

A peça-chave do sucesso eleitoral
O proprietário da Tesla acredita que foi a peça-chave que permitiu a Donald Trump regressar à Casa Branca. «Sem mim, Trump teria perdido as eleições, os Democratas controlariam a Câmara e os Republicanos teriam 51-49 no Senado». A este publicação seguiu-se uma em que Musk perguntou se seria necessário criar um partido político. Dos mais de 5 milhões que votaram, 80% escolheu o “Sim”.

Os subsídios, de novo
Os subsídios aos veículos elétricos atribuídos a Elon Musk foram a principal arma de arremesso de Donald Trump. Aqui, o presidente norte-americano diz que «Elon estava a ficar “desgastado”, pedi-lhe para se ir embora, retirei-lhe o seu subsídio de VE (…) e ele ficou LOUCO!».

O pedido de desculpas
Passada uma semana de trocas de acusações, algumas, como vimos, graves, Elon Musk acabou por se retratar. Na manhã de 11 de junho, o multimilionário escreveu no seu X, como é habitual, que lamenta «algumas das [suas] publicações sobre o Presidente Donald Trump», reconhecendo que «foram longe demais».

Musk, um fardo para o orçamento americano?
Por muito paradoxal que possa parecer, Trump escreveu que «a forma mais fácil de poupar dinheiro no nosso orçamento, milhares e milhares de milhões de dólares, é acabar com os subsídios e contratos governamentais do Elon. Sempre me surpreendeu o facto de Biden não o ter feito!». Musk ripostou, garantindo que não concordava com os subsídios e que o próprio Trump já o tinha reconhecido.

A bomba
Esta é a publicação de Elon Musk que gerou mais controvérsia em todo este confronto. «Está na altura de lançar a grande bomba: Donald Trump está nos ficheiros de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos. Tem um bom dia, DJT!».
Trata-se de um agrave acusação contra o presidente dos EUA, razãpo pela qual Musk já eliminou a publicação da sua conta e que o levou a pedir desculpas.
