Por que razão a Europa não se preparou para a guerra?


A União Europeia tem muitos e grandes defeitos, claro – burocracia a mais, enormes desperdícios de esforço, de tempo e de dinheiro, etc., etc., etc. Mas como projeto político e económico continua a ser um tremendo sucesso.


Desde a invasão da Ucrânia pelo exército russo, em finais de fevereiro de 2022, os europeus vivem tempos de enorme ansiedade. Como poderia ser de outra forma? Desde o fim da II Guerra Mundial que não se assistia a nada tão grave no Velho Continente. E desde então a situação só tem piorado, com o deflagrar da guerra no Médio Oriente e o regresso à Casa Branca de Trump, que começou logo por declarar que as relações com a Europa não estavam entre as suas prioridades.

Por que não nos preparámos para um conflito?, tem questionado muita gente. Até preparámos, diria eu, mas de uma maneira diferente.

Tanto a Grande Guerra de 1914-18 como a de 1939-45 – no fundo quase um conflito único com uma interrupção pelo meio – tiveram origem dentro de fronteiras.

Foi a rivalidade entre as vizinhas França e Alemanha que acendeu o rastilho das duas guerras mundiais. E, se quisermos recuar, foi essa mesma rivalidade que resultou na guerra franco-prussiana de 1870-1871, que pode ser vista como um antecedente distante de 14-18. Recuando mais ainda, foram os sonhos imperialistas de Napoleão que devastaram a Europa
no início do século XIX.

O perigo veio sempre de dentro. Nada podia ser tão eficaz, portanto, como esquecer o rancor e estreitar laços entre os antigos rivais. Nomeadamente através das trocas comerciais e de um mercado comum. Esse foi o projeto de Alcide de Gasperi, de Robert Schuman, Jean Monnet e Konrad Adenauer.

O facto é que as décadas que decorreram desde a constituição da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – o embrião da atual União Europeia –, em 1951, até à atualidade constituem o período mais longo de paz e de prosperidade que se conhece na Europa.

Como se vê, o plano deu frutos.

A Europa não se preparou para guerra? Preparou-se mais para a paz, é verdade, mas também está mais forte do ponto de vista da segurança. Invadir a Polónia hoje, por exemplo, não é o mesmo que invadi-la em 1939. Enquanto se comportar como um bloco, a União Europeia tem um músculo que evidentemente lhe faltaria se os Estados-membros estivessem cada um por sua conta. Parece óbvio que há mais condições para enfrentar uma ameaça externa do que havia há 80 anos. Mas sobretudo há mais força para dissuadir essa ameaça.

A União Europeia tem muitos e grandes defeitos, claro – burocracia a mais, enormes desperdícios de esforço, de tempo e de dinheiro, etc., etc., etc. Mas como projeto político e económico continua a ser um tremendo sucesso. E honestamente não se vê outra maneira de um conjunto de pequenos estados, incluindo Portugal, que aderiu há 40 anos, manter a sua relevância num mundo que se rege, como sempre se regeu, pela lei do mais forte.

Por que razão a Europa não se preparou para a guerra?


A União Europeia tem muitos e grandes defeitos, claro – burocracia a mais, enormes desperdícios de esforço, de tempo e de dinheiro, etc., etc., etc. Mas como projeto político e económico continua a ser um tremendo sucesso.


Desde a invasão da Ucrânia pelo exército russo, em finais de fevereiro de 2022, os europeus vivem tempos de enorme ansiedade. Como poderia ser de outra forma? Desde o fim da II Guerra Mundial que não se assistia a nada tão grave no Velho Continente. E desde então a situação só tem piorado, com o deflagrar da guerra no Médio Oriente e o regresso à Casa Branca de Trump, que começou logo por declarar que as relações com a Europa não estavam entre as suas prioridades.

Por que não nos preparámos para um conflito?, tem questionado muita gente. Até preparámos, diria eu, mas de uma maneira diferente.

Tanto a Grande Guerra de 1914-18 como a de 1939-45 – no fundo quase um conflito único com uma interrupção pelo meio – tiveram origem dentro de fronteiras.

Foi a rivalidade entre as vizinhas França e Alemanha que acendeu o rastilho das duas guerras mundiais. E, se quisermos recuar, foi essa mesma rivalidade que resultou na guerra franco-prussiana de 1870-1871, que pode ser vista como um antecedente distante de 14-18. Recuando mais ainda, foram os sonhos imperialistas de Napoleão que devastaram a Europa
no início do século XIX.

O perigo veio sempre de dentro. Nada podia ser tão eficaz, portanto, como esquecer o rancor e estreitar laços entre os antigos rivais. Nomeadamente através das trocas comerciais e de um mercado comum. Esse foi o projeto de Alcide de Gasperi, de Robert Schuman, Jean Monnet e Konrad Adenauer.

O facto é que as décadas que decorreram desde a constituição da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – o embrião da atual União Europeia –, em 1951, até à atualidade constituem o período mais longo de paz e de prosperidade que se conhece na Europa.

Como se vê, o plano deu frutos.

A Europa não se preparou para guerra? Preparou-se mais para a paz, é verdade, mas também está mais forte do ponto de vista da segurança. Invadir a Polónia hoje, por exemplo, não é o mesmo que invadi-la em 1939. Enquanto se comportar como um bloco, a União Europeia tem um músculo que evidentemente lhe faltaria se os Estados-membros estivessem cada um por sua conta. Parece óbvio que há mais condições para enfrentar uma ameaça externa do que havia há 80 anos. Mas sobretudo há mais força para dissuadir essa ameaça.

A União Europeia tem muitos e grandes defeitos, claro – burocracia a mais, enormes desperdícios de esforço, de tempo e de dinheiro, etc., etc., etc. Mas como projeto político e económico continua a ser um tremendo sucesso. E honestamente não se vê outra maneira de um conjunto de pequenos estados, incluindo Portugal, que aderiu há 40 anos, manter a sua relevância num mundo que se rege, como sempre se regeu, pela lei do mais forte.