Além das circunstâncias, António José Seguro anunciou a candidatura a Presidente da República Portuguesa, num ato de cidadania de quem, tendo um histórico de participação política em Portugal, na União Europeia e no Mundo, sempre afirmou uma visão diferente da política e do exercício político, assente no conhecimento da realidade, na defesa do interesse geral e no seu entendimento sobre o melhor para as pessoas, as comunidades e o país.
Alguns, enleados num ódio sem qualquer racional, como os que a direita e os populistas alimentam, desesperam em expressões públicas e mobilizações privadas para voltar a fazer o que fizeram no passado, condicionar e dinamitar.
Alguns, sem noção do caminho percorrido, das opções políticas, do exercício concretizado e dos resultados obtidos, enquanto Seguro se afastou da vida pública depois do afastamento inédito e extemporâneo, ainda não perceberam o que se passou a 18 de maio e a gravidade do quadro em que colocaram o partido e a democracia.
Esses alguns, são a expressão do país que temos, do estado a que chegámos, com a extrema-direita como segunda força partidária, a direita no poder (governos regionais, governo nacional e presidência da República), uma miríade de problemas não antecipados ou resolvidos e um deslaço crescente das regras sociais e do compromisso dos portugueses com a democracia, pela degradação do ambiente político e pela falta de respostas para os problemas e aspirações.
Esses alguns que destratam, que procuram menorizar, que fustigam sem se olhar ao espelho, que destilam vocábulos de exclusão como se o exercício político ou o cívico fosse um privilégio apenas ao alcance dos que fazem parte das bolhas da política, dos media e do espaço público, com as naturais projeções nas redes sociais, mas com cada vez menos adesão à realidade do país ou consideração nas cogitações das pessoas, ainda não perceberam que são parte do problema. Puderam ser parte da solução, mas criaram mais problemas que respostas, ao pensarem mais na sobrevivência política individual e nas circunstâncias de grupo do que no país. Até pode não ter sido por mal, não foi por falta de aviso, de 10 anos de modestos avisos nestas páginas, mas os resultados frágeis, legam um país à beira de um ataque de nervos.
Não é por causa destes alguns, do perfil adequado de Seguro para a função presidencial ou de uma relação de amizade forjada em 35 anos que estarei no próximo domingo, pelas 16 horas, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. Pelo presente e pelo que quero para o futuro.
É pelo presente, porque o país, a democracia e a República, precisam de um exercício presidencial de alguém que não seja do sistema instalado, dos interesses que tolhem o foco essencial do esforço de construção de respostas para as pessoas, para os territórios e para o país, vistos como um todo e não apenas dos que têm expressão mediática, peso eleitoral ou força pelo representam. Porque o presente não é aceitável nem sustentável, pela falta de coesão, pelas desigualdades, pelo ódio instalado, pela falta de compromisso para fazer o que 51 anos de democracia não concretizaram, pela persistência de passivos acumulados e de novas decisões políticas que ninguém compreende, pelos novos riscos individuais ou coletivos, pela falta de esperança e pela falta de uma visão mobilizadora para o país. Quem gere o país só tratou e trata da sua circunstância. Também é por isso que chegámos aqui, sem noção dos protagonistas, sem autocrítica, sem explicação e, por vezes, sem pingo de vergonha na cara, como se a falta de memória ou de escrutínio fossem um bálsamo para todos os tipos de exercícios destrutivos e de salvaguarda da casta dos ungidos para o exercício da cidadania e do poder.
É pelo futuro, porque a República e a democracia, precisam de alguém como António José Seguro, sem telhados de vidro, sem ser verdadeiramente do sistema vigente, com experiência política nacional e internacional (partidária e pública), com experiência académica e profissional que não diminua, com uma visão política para o país e sintonia com uma realidade que não precisa de conhecer à pressa porque sempre esteve integrado nela, com seriedade, humanismo, proximidade, moderação, sentido institucional, capacidade de construir pontes sem cartas escondidas ou interesses aquém do interesse geral e noção do nosso quadro constitucional, da exigência da nossa participação no projeto europeu e do mundo em que vivemos.
Sim, Seguro pode dar um contributo cívico diferenciado ao país, pela decência, pela proximidade à realidade do cidadão comum, pelo inconformismo, pelo equilíbrio, pelo distanciamento suficiente para fazer o que é preciso com o foco nas pessoas e no país, pela ambição em ter um país em que todos contam e não apenas os que fazem parte das bolhas de afirmação político-partidária, dos interesses económicos e dos personagens que pululam o espaço mediático e de opinião (e que opiniões).
Sim, estarei lá, com António José Seguro, porque há um Portugal que resiste, que não se conforma com o estado a que chegámos, que não foi parte do problema, que está mais próximo de poder ser parte da solução e que não está disponível para que, por causa de umbigos, de legados, de interesses instalados ou faltas de noção, a Democracia e a República possam ser deitados fora com a água do banho pelos portugueses.
NOTAS FINAIS
ESTRANHA FORMA DE GOVERNO. No país onde quase nada nos surpreende, Montenegro surpreendeu. Pela negativa. Acantonou a cultura com a juventude e o desporto. Alocou à Administração Interna alguém que estava a fiscalizar a ação também do governo, a Provedora de Justiça, tipo das Finanças para o Banco de Portugal em sentido inverso. Diz que vai reformar o Estado, enquanto mantém na saúde a responsável pela insuficiência das respostas ajustadas às necessidades. Como diria alguém, depois da vitória, é tudo poucochinho.
PORTUGAL NA CEE, É COMO SE NÃO TIVESSE SIDO IMPORTANTE. Portugal tornou-se membro da União Europeia (antiga CEE) a 1 de janeiro de 1986. A assinatura do Tratado de Adesão foi feita em 12 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Quatro décadas de pertença ao projeto europeu é um número redondo, mas é como se não tivesse tido importância.
O RACIONAL DA VITÓRIA. A euforia da conquista da Liga das Nações não deve esconder que não está tudo bem. Quando se tem um acervo de talento como o que a seleção nacional de futebol tem ao seu dispor, fruto do trabalho dos clubes, uma vitória importante não deve tolher uma avaliação sobre a capacidade de aproveitamento do potencial existente e da criatividade vigente das opções do selecionador. Por agora, parabéns.