
Existem poucos nomes mais controversos na política internacional que Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro israelita tem estado no centro das discussões mais acaloradas quanto ao mais recente conflito no Médio Oriente, principalmente pela sua intransigência, humanismo ou falta dele e pelas manobras que tem empreendido ao longo dos anos que lhe permitam manter-se no poder. Mas quem é o Bibi, como é conhecido?
Netanyahu nasceu a 21 de outubro de 1949 em Telavive. Nascido, naturalmente, numa família de judeus – o pai polaco e a mãe israelita –, emigrou juntamente com os pais para Filadélfia, nos Estados Unidos, em 1963. Regressou pouco tempo mais tarde a Israel para se alistar no exército numa altura em que o Estado de Israel, ainda bastante jovem, sofria não só pelas dores de crescimento como também, e principalmente, pela animosidade dos vizinhos árabes. De novo na sua terra natal, Benjamin Netanyahu ingressa na unidade Sayeret Matkal – grupo de elite do exército israelita –, através da qual esteve determinado a defender a sua bandeira na icónica guerra do Yom Kipur, em 1973, onde a região do Sinai e os Montes Golã testemunharam um aceso conflito entre Israel e uma aliança árabe liderada pela Síria e pelo Egito e apoiada pela Arábia Saudita, Argélia, Jordânia, Iraque, Líbia, Kwait, Tunísia, Marrocos e até Cuba e Coreia do Norte. Como sabemos, e apesar da evidente inferioridade numérica e militar, os israelitas emergiram como grandes vencedores do conflito que vitimou moralmente cerca de 20 mil soldados, dos quais apenas cerca de 2500 eram israelitas.
Após o conflito, voltou à vida académica. Foi em Massachussetts, no conceituado MIT, que conclui o seu MBA antes de se colocar de novo ao serviço de Israel, desta vez como como diplomata. Em 1988 foi eleito para o parlamento israelita (Knesset) e rapidamente subiu a uma posição de poder, tornando-se ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros até 1992. Um ano mais tarde é eleito líder do Likud, ao qual pertence até aos dias de hoje, e a sua linha de ação foi, desde logo, clara e dura. Apresentou-se como acérrimo adversário da política de paz e de apaziguamento do governo liderado por Ytzhak Rabin, que decidiu retirar as forças israelitas de Gaza e da Cisjordânia. Assim, a posição de Netanyahu quanto aos territórios palestinianos e aos colonatos não é, de todo, nova.
O gosto pelo poder Benjamin Netanyahu é o político que mais tempo serviu como primeiro-ministro no Estado de Israel. Dezassete anos, divididos por três mandatos (de 1996 a 1999, de 2009 a 2021 e de 2022 até ao presente), é o tempo total em que o poder esteve nas suas mãos.
A sua chegada ao principal cargo do executivo aconteceu num período complexo da política israelita. O ano era 1996 e, no ano anterior, Rabin havia sido assassinado por parte de um judeu radical que se opunha às políticas do Governo e por uma série de atentados perpetrados por fundamentalistas islâmicos. A morte de Rabin e o luto nacional não foram suficientes para que os trabalhistas se mantivessem no poder e o Netanyahu, a 29 de maio de 1996, vence tangencialmente as eleições. E a partir desse momento, a relação com os palestinianos deteriorou-se. Foi, de imediato, colocada em marcha uma série de medidas que fizeram crescer a animosidade entre os povos que, desde a fundação do Estado judaico, se têm digladiado de forma constante. Uma vez no poder, acabou por moderar a sua oposição à retirada israelita dos territórios ocupados. Foi uma alteração, em grande parte, retórica. Tal como tem sucedido neste governo, suportado por uma coligação com partidos ultraortodoxos que exercem uma forte pressão no líder do executivo, foi estabelecido mais um colonato judeu em terra reclamada pelo povo palestiniano. Ainda assim, houve, pelo menos, uma ação que demonstrou a sua moderação. Netanyahu conseguiu chegar a um acordo com o ex-líder palestiniano, Yasser Arafat, concedendo à Organização para a Libertação da Palestina (OLP) 40% do controlo do território da Cisjordânia. O acordo, consagrado no Memorando Wye, levantou naturalmente desconforto nos parceiros de governação e o Knesset derruba o governo. Com a direita numa espécie de guerra civil, a coligação liderada pelos trabalhistas de Ehud Barak acabou por vencer as eleições. A derrota levou a que Netanyahu renunciasse ao seu assento no parlamento, tendo sido substituído pelo futuro primeiro-ministro Ariel Sharon.
Em 2009, Bibi lidera novamente o Likud e, apesar de não conseguir ser o partido mais votado, conseguiu uma maioria parlamentar capaz de garantir a governação – uma geringonça à israelita. É neste mandato que o primeiro-ministro começa a dar sinais de abertura quanto à criação de um Estado palestiniano, mas sob as condições de desmilitarização e de reconhecimento inequívoco do Estado de Israel. O paralelismo com a atualidade é evidente. Também hoje, Netanyahu é intransigente nestes pontos – rejeitados sucessivamente pelo Hamas que se nega a reconhecer um Estado judaico. Este período de governação de Netanyahu fica marcado pelos colonatos, pela tentativa de paz fracassada (mais uma vez) e pelo escalar das tensões entre Israel e o Irão, causadas pelo avanço do programa nuclear iraniano.
Problemas com a justiça A relação de Netanyahu com a justiça não começou quando o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de captura. Em 2019, o primeiro-ministro israelita foi acusado de suborno, fraude e quebra de confiança, tendo o processo para os três casos no qual se viu envolvido, começado em 2020.
No caso que se intitula 4000, os procuradores alegaram que “Netanyahu concedeu favores regulamentares no valor de cerca de 1,8 mil milhões de shekels (cerca de 500 milhões de dólares) à Bezeq Telecom Israel (BEZQ.TA). Em troca, dizem os procuradores, Netanyahu procurou obter uma cobertura positiva de si próprio e da sua mulher Sara num site de notícias controlado pelo antigo presidente da empresa, Shaul Elovitch. Neste caso, Netanyahu foi acusado de suborno, fraude e abuso de confiança”, como noticiou a Reuters.
No segundo, o caso 1000, de acordo com a mesma fonte, “Netanyahu foi acusado de fraude e quebra de confiança por alegações de que ele e a sua esposa receberam indevidamente quase 700.000 shekels (210 mil dólares) em presentes de Arnon Milchan, um produtor de Hollywood e cidadão israelita, e do empresário bilionário australiano James Packer. Os procuradores afirmam que os presentes incluíam champanhe e charutos e que Netanyahu ajudou Milchan nos seus interesses comerciais”.
Já no caso 2000 foi alegado que “Netanyahu terá negociado um acordo com Arnon Mozes, proprietário do jornal israelita Yedioth Ahronoth, para obter uma melhor cobertura em troca de legislação destinada a travar o crescimento de um jornal rival. Netanyahu foi acusado de fraude e abuso de confiança”, conclui a Reuters. Netanyahu negou todas as acusações e ainda não existe um veredicto.
Estes problemas do primeiro-ministro com a justiça, aliados à sua tentativa recente no verão de 2023 de retirar poder ao sistema judicial para o transferir para o parlamento onde tem uma coligação de maioria, levaram os israelitas às ruas e o clima fez com que se equacionasse até uma guerra civil. Mas, e como é natural do povo israelita, em tempo de guerra o país une-se e coloca à margem batalhas políticas internas. É também por isto que vários detratores o acusam de estar a prolongar a guerra.