Ainda os Efeitos do “Apagão”nas Comunicações com Telemóveis e no SIRESP


A rede tem de possuir um grau de robustez superior ao das redes e um grau elevado de resiliência.


Há pouco mais de um mês, Portugal viveu uma situação única e inesperada, isto é, ficarmos sem energia elétrica durante uma dezena de horas. Percebemos então a importância de termos sistemas de telecomunicações robustos e resilientes e, em particular, de o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) dever estar preparado para mais um desafio que não superou. A falta de energia elétrica durante um intervalo de tempo tão longo é algo que é pressuposto não acontecer, mas que, de qualquer modo, deve ser previsto num sistema como o SIRESP, ao contrário dos sistemas comerciais.

Porque falharam as comunicações? Uma ligação com o nosso telemóvel é estabelecida por ondas em radiofrequências com as antenas das estações base (as que estão espalhadas por todo o território). A partir destas estações base, a informação segue por cabos de fibras ótica até outros nós da rede, até chegar aos núcleos da rede, para depois ser encaminhada até aos destinatários efetuando um caminho inverso. A alimentação de energia elétrica é essencial para que as estações base, os nós e os núcleos possam funcionar, bastando que um destes elementos deixe de estar operacional para que as nossas ligações já não possam ser estabelecidas. As redes de telecomunicações estão preparadas para problemas de falta de energia elétrica, através da existência de baterias nas estações base, nos nós e nos núcleos, mas, tipicamente, apenas para que essa falta seja de uma meia dúzia de horas. Adicionalmente, os núcleos das redes devem ter geradores alimentados por combustível líquido, para assegurar o funcionamento global das redes para além do tempo de descarga das baterias.

Então porque houve situações de falta de comunicações logo após um par de horas? Muito provavelmente, porque a manutenção das baterias não foi feita devidamente (como nos nossos telemóveis, as baterias necessitam de ser substituídas após algum tempo de funcionamento). E ao falharem as baterias nalguns pontos das redes, toda a informação que por lá passa fica comprometida. Por outro lado, a falha de energia elétrica por um período de tempo superior a uma meia de dúzia de horas é um acontecimento tão improvável que não é justificável, do ponto de vista de investimento numa rede comercial, que todas as estações bases e nós da rede tenham geradores. Cada operador em Portugal tem muitos milhares de estações base e de nós, pelo que os valores desses investimentos são incomportáveis e injustificáveis.

E então qual é a diferença com o SIRESP? O SIRESP é um sistema para comunicações entre as entidades de infraestruturas críticas, que vão desde às polícias, bombeiros, emergência e proteção civil até hospitais, transportes e energia. A rede tem de possuir um grau de robustez superior ao das redes comercias (continuar a funcionar mesmo depois de as outras deixarem de o fazer), assim como um grau elevado de resiliência (recuperar muito mais rapidamente mesmo depois de ter deixado de funcionar). Para isso acontecer, tem de existir redundância em todos os níveis, ou seja, assegurar que cada funcionalidade da rede seja assegurada por várias soluções, que devem ser diferentes entre si. Há uns anos, o problema de os incêndios consumirem os cabos aéreos de ligação entre as estações base e os nós da rede foi resolvido através de ligações redundantes por satélite. Agora, o problema de falta de autonomia das baterias já devia ter sido resolvido através da colocação de geradores em todas as estações base e nós da rede (que não são milhares), para além dos núcleos.

E como precaver problemas no futuro? O dimensionamento do SIRESP necessita de ser confrontado com todos os cenários possíveis de disrupção (incêndios, cheias, terremotos, tsunamis, falta de energia, ataques terroristas, …) e de implementar soluções de redundância para cada um deles em toda a extensão da rede, com o necessário investimento que lhe está associado. Só assim se poderá evitar/minimizar a perda de vidas humanas, para além de outros impactos a nível humano, social e económico.

Professor de Comunicações Móveis,
Instituto Superior Técnico

Ainda os Efeitos do “Apagão”nas Comunicações com Telemóveis e no SIRESP


A rede tem de possuir um grau de robustez superior ao das redes e um grau elevado de resiliência.


Há pouco mais de um mês, Portugal viveu uma situação única e inesperada, isto é, ficarmos sem energia elétrica durante uma dezena de horas. Percebemos então a importância de termos sistemas de telecomunicações robustos e resilientes e, em particular, de o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) dever estar preparado para mais um desafio que não superou. A falta de energia elétrica durante um intervalo de tempo tão longo é algo que é pressuposto não acontecer, mas que, de qualquer modo, deve ser previsto num sistema como o SIRESP, ao contrário dos sistemas comerciais.

Porque falharam as comunicações? Uma ligação com o nosso telemóvel é estabelecida por ondas em radiofrequências com as antenas das estações base (as que estão espalhadas por todo o território). A partir destas estações base, a informação segue por cabos de fibras ótica até outros nós da rede, até chegar aos núcleos da rede, para depois ser encaminhada até aos destinatários efetuando um caminho inverso. A alimentação de energia elétrica é essencial para que as estações base, os nós e os núcleos possam funcionar, bastando que um destes elementos deixe de estar operacional para que as nossas ligações já não possam ser estabelecidas. As redes de telecomunicações estão preparadas para problemas de falta de energia elétrica, através da existência de baterias nas estações base, nos nós e nos núcleos, mas, tipicamente, apenas para que essa falta seja de uma meia dúzia de horas. Adicionalmente, os núcleos das redes devem ter geradores alimentados por combustível líquido, para assegurar o funcionamento global das redes para além do tempo de descarga das baterias.

Então porque houve situações de falta de comunicações logo após um par de horas? Muito provavelmente, porque a manutenção das baterias não foi feita devidamente (como nos nossos telemóveis, as baterias necessitam de ser substituídas após algum tempo de funcionamento). E ao falharem as baterias nalguns pontos das redes, toda a informação que por lá passa fica comprometida. Por outro lado, a falha de energia elétrica por um período de tempo superior a uma meia de dúzia de horas é um acontecimento tão improvável que não é justificável, do ponto de vista de investimento numa rede comercial, que todas as estações bases e nós da rede tenham geradores. Cada operador em Portugal tem muitos milhares de estações base e de nós, pelo que os valores desses investimentos são incomportáveis e injustificáveis.

E então qual é a diferença com o SIRESP? O SIRESP é um sistema para comunicações entre as entidades de infraestruturas críticas, que vão desde às polícias, bombeiros, emergência e proteção civil até hospitais, transportes e energia. A rede tem de possuir um grau de robustez superior ao das redes comercias (continuar a funcionar mesmo depois de as outras deixarem de o fazer), assim como um grau elevado de resiliência (recuperar muito mais rapidamente mesmo depois de ter deixado de funcionar). Para isso acontecer, tem de existir redundância em todos os níveis, ou seja, assegurar que cada funcionalidade da rede seja assegurada por várias soluções, que devem ser diferentes entre si. Há uns anos, o problema de os incêndios consumirem os cabos aéreos de ligação entre as estações base e os nós da rede foi resolvido através de ligações redundantes por satélite. Agora, o problema de falta de autonomia das baterias já devia ter sido resolvido através da colocação de geradores em todas as estações base e nós da rede (que não são milhares), para além dos núcleos.

E como precaver problemas no futuro? O dimensionamento do SIRESP necessita de ser confrontado com todos os cenários possíveis de disrupção (incêndios, cheias, terremotos, tsunamis, falta de energia, ataques terroristas, …) e de implementar soluções de redundância para cada um deles em toda a extensão da rede, com o necessário investimento que lhe está associado. Só assim se poderá evitar/minimizar a perda de vidas humanas, para além de outros impactos a nível humano, social e económico.

Professor de Comunicações Móveis,
Instituto Superior Técnico