Doze momentos-chave do conflito no Médio Oriente

Doze momentos-chave do conflito no Médio Oriente


Dos ataques de 7 de outubro de 2023 que desencadearam a fúria israelita, até à mais recente proposta de cessar-fogo delineada pelo enviado da administração norte-americana: a Guerra do Médio Oriente contada passo a passo, em doze momentos.


7 de outubro de 2023
A faísca ateia o fogo

A faísca que ateia o fogo no Médio Oriente é a ofensiva concertada do Hamas de 7 de outubro. As sirenes no sul e centro de Israel começam a soar às 6h30 da manhã, quando uma barragem de entre 2500 e 5000 rockets é disparada contra território israelita. Uma hora depois, combatentes do Hamas atravessam a fronteira e perpetram vários ataques – o maior dos quais ao Supernova, um festival de música eletrónica no deserto. No total, cerca de 1200 pessoas, entre militares e civis, são mortas e outras 250 feitas reféns e levadas para Gaza. O_primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anuncia de imediato que Israel está em guerra, e antes das dez da manhã já se ouve explosões em Gaza. São bombardeamentos aéreos levados a cabo pelas Forças de Defesa de Israel – embora formalmente a guerra só seja declarada no dia seguinte, 8 de outubro. A_9 de outubro a troca de rockets continua e Israel intensifica os bombardeamentos, atingindo campos de refugiados, mesquitas, escolas e edifícios residenciais. É_montado um cerco a Gaza composto por 100 mil soldados. A 11 de outubro, a central elétrica de Gaza fica sem combustível. Os bombardeamentos aéreos de Israel matam 11 elementos da agência das Nações Unidas.

21 de Novembro
a primeira trégua

Israel e o Hamas anunciam que chegaram a acordo para uma trégua, numa negociação mediada pelo Catar.  O acordo inicial prevê uma paragem de quatro dias nas hostilidades, durante a qual serão libertados 50 reféns israelitas em cativeiro em Gaza e 150 prisioneiros palestinianos detidos em Israel. A trégua entra em vigor a 24 de novembro e também prevê a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza. Findo o prazo, é acordada uma extensão de dois dias, com mais 20 reféns israelitas e 60 palestinianos a serem libertados. E ainda haverá mais um dia suplementar de trégua, mas as hostilidades são retomadas a 1 de dezembro. No dia 4 o exército israelita lança a primeira grande ofensiva terrestre, no sul de Gaza.

1 de Abril de 2024
O irão entra em cena

Israel bombardeia a embaixada iraniana em Damasco (Síria), matando dois funcionários. O Irão promete que o ataque não ficará impune e, à meia noite de 13 de abril, lança um ataque maciço de retaliação: cerca de 170 drones, mais de 30 mísseis de cruzeiro e mais de 120 mísseis balísticos. Israel conta com o apoio americano, britânico francês e jordano, formando um sistema de defesa que apelida de Iron Shield (escudo de aço). 99% dos mísseis são intercetados, grande parte deles antes de entrar no espaço aéreo israelita. Apenas cerca de 1% atinge o alvo, provocando estragos reduzidos em bases aéreas das forças israelitas.

17 de setembro
Pagers explosivos

É um dos mais engenhosos ataques de que há memória. Entre 17 e 18 de setembro, milhares de dispositivos eletrónicos – sobretudo pagers e walkie-talkies – explodem inexplicavelmente no Líbano e na Síria, atingindo membros do Hezbollah – uma organização política e militar fundamentalista sediada no Líbano. Morrem 12 pessoas no primeiro dia e 25 no segundo – e mais de três mil ficam feridas. Ao que tudo indica, cinco meses antes, elementos do Hezbollah foram induzidos a comprar os aparelhos sabotados, sem se aperceberem de que estes tinham sido produzidos em Israel.

16 de outubro
‘Cérebro’ eliminado

Israel anuncia a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, às mãos de soldados israelitas, em Rafah, após uma “longa perseguição”. O corpo do homem considerado o ‘cérebro’ dos atentados de 7 de outubro é identificado através da dentadura. Netanyahu acusa Sinwar de ser responsável pelo “pior massacre na história do nosso povo desde o Holocausto”.

22 de outubro
Blincken em Israel

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, aterra em Israel para uma conversa com Benjamin Netanyahu. Num encontro que dura duas horas e meia, Blincken tenta sensibilizar o primeiro-ministro israelita para a situação humanitária desesperada, instando-o a negociar a libertação dos reféns em falta para pôr fim o mais rapidamente possível ao conflito. Esta é uma das muitas viagens bem-intencionadas, mas infrutíferas, do responsável norte-americano ao Médio Oriente.

2 de dezembro
Trump ameaça com o inferno

Eleito Presidente dos EUA, Donald Trump avisa que ou o Hamas liberta os reféns até à sua tomada de posse, agendada para 20 de janeiro, ou terá de enfrentar o “inferno” na terra. E, de facto, a 15 de janeiro os negociadores chegam a um acordo para um cessar-fogo e a libertação de reféns. O acordo entra em vigor a 19 de janeiro, dia em que é entregue o primeiro grupo de reféns.

4 de fevereiro de 2025
Riviera em Gaza

Donald Trump anuncia que já tem planos para a Faixa de Gaza. Quer que os americanos passem a administrar o território para o transformarem numa nova “Riviera do Médio Oriente Médio”, com belas praias, palmeiras, marinas e edifícios modernos de luxo. Netanyahu aplaude. Só há um pequeno detalhe: é que vivem ali cerca de dois milhões de palestinianos que teriam de ser retirados dali, para não falar dos 50 milhões de toneladas de detritos e munições não detonadas no terreno. No dia 5, elementos da administração norte-americana não se comprometem com o plano de Trump. E a 21 de fevereiro, face às críticas, o Presidente recua, dizendo que não imporá a sua ideia.

8 de fevereiro de 2025
Reféns exibidos

É um sábado e está tudo a postos para a libertação de três reféns israelitas, no que é o último capítulo da primeira fase do cessar-fogo. Ohad Ben Ami, Eli Sharabi e Or Levy são colocados num palco montado pelo Hamas na Faixa de Gaza, o que faz lembrar as cerimónias da Inquisição, e exibidos à multidão. Mas em vez de serem supliciados são entregues a elementos da Cruz Vermelha, em troca de 183 prisioneiros do inimigo – cada um destes três israelitas vale por 61 palestinianos. Encontram-se extremamente magros e pálidos, o que indicia as condições extremamente duras do cativeiro.

1 de março
Cessar-fogo termina

Após acusações mútuas de violação do acordo, o período de cessar-fogo termina sem que a segunda fase, que deveria levar ao fim definitivo do conflito, seja posto em prática. Israel trava a ajuda humanitária a Gaza e ataca em força, para pressionar o Hamas.

18 de março
Mortos durante o sono

É possivelmente o dia mais mortífero desde 7 de outubro de 2023. Os ataques maciços são retomados e com uma fúria brutal. Bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza matam pelo menos 414 palestinianos, incluindo 174 crianças, e provocam mais de 550 feridos.

“Hoje é um dia terrivelmente sombrio para a humanidade”, comentou a Amnistia Internacional. “Israel retomou descaradamente a sua devastadora campanha de bombardeamentos em Gaza, matando pelo menos 414 pessoas enquanto dormiam, incluindo 174 crianças, e exterminando famílias inteiras numa questão de horas. Os palestinianos em Gaza […] acordaram mais uma vez para o pesadelo infernal dos bombardeamentos intensos. Relatos e imagens que surgem da Faixa de Gaza após os ataques de hoje são mais do que aterradores. […] Alguns dos ataques terão atingido abrigos improvisados ​​com crianças e famílias a dormir, lembrando-nos que nenhum lugar é seguro em Gaza”.

29 de maio
Novo cessar-fogo?

A administração norte-americana anuncia que Israel concorda com o novo plano delineado pelo enviado norte-americano Steve Witkoff. Segundo o documento, o Hamas teria de entregar “10 reféns vivos e os corpos de 18 reféns mortos em duas fases, em troca de um cessar-fogo de 60 dias e da libertação de prisioneiros palestinianos nas prisões israelitas”, relata a BBC. Porém, os palestinianos defendem que o plano não dá garantias de uma paz duradoura.