O PSD ao aceitar, confortavelmente, o risco de avançar para uma nova legislatura com o presidente do partido no cargo de primeiro-ministro a fingir que nada se passa de suspeito no que à empresa que constituiu e da qual foi responsável durante anos, é a demonstração da anuência à falta de rigor e incoerência entre o modo como exige aos adversários (quando na oposição) e o modo como requer e aplica a si próprio critérios de rigor, idoneidade e ética.
Esta gestão política é a confirmação do esgotamento ético que assola os partidos do tradicional arco do poder. Luís Montenegro hábil ator na política do debate vazio e do controlo da máquina do poder, demonstra sucessivamente a incapacidade de pensamento estratégico e reformista para a resolução dos problemas que assolam Portugal. As suas limitações são intrínsecas à ausência de experiência na produção de pensamento e obra, e assentam num excesso de gestão de interesses particulares onde todos eles ramificam à volta do poder que a política, local ou nacional, lhe foram conferindo ao longo da vida. O PSD não entendeu que a sua incompetência (como foi a do PS, mais esgotado) é terreno fértil para a proliferação dos arautos da honestidade e soluções milagrosas. Este modo de gestão política que caracteriza o PSD constitui um perigo direto e indireto para a democracia.
O facto de cerca de 17% dos portugueses (é o que na realidade os 32% dos votantes na AD correspondem) terem votado tem pouco significado no que aos riscos que o PSD está conscientemente a correr. Considero uma irresponsabilidade e uma desonra ao espírito original do seu fundador.
Para alem dessa fragilidade que irá a seu tempo detonar nas convicções da estrutura que suporta e protege este status quo, o PSD resolve, contra a tendência obvia do eleitorado que saturou do esquema partidário habitual, suportar um candidato à presidência que não tem as mais elementares características necessárias ao exercício da posição de Presidente dos Portugueses. Marques Mendes na presidência da república corresponderia a uma apólice de seguros de Luís Montenegro relativamente ao caso Spinumviva. Outros ventos e outras águas, felizmente, se apresentam com o mais que provável futuro presidente, o Almirante Henrique Gouveia e Melo.
O primeiro-ministro, intenso utilizador do superlativo absoluto sintético, diz-se preparadíssimo, focadíssimo, interessadíssimo em resolver os problemas dos portugueses, está na minha opinião, preparadíssimo, focadíssimo e interessadíssimo em resolver os seus problemas, como aliás, o foi fazendo ao longo da sua vida – não se lhe conhece nada, mesmo nada, feito em prol da população em prol da economia, em prol de Portugal.
Não são boas perspetivas para o PSD que, como a avestruz, vai colocando a cabeça na areia.