Dois anos depois de se ter iniciado o ataque sem precedentes do exército israelita a Gaza decorrem, neste momento negociações, mediadas pelos Estados Unidos, para um cessar-fogo, que permita acudir a uma população faminta e constantemente deslocada.
As negociações mediadas pelo enviado de Donald Trump, Steve Witkoff, preveem um cessar-fogo de 60 dias, durante os quais, o grupo terrorista Hamas se compromete a libertar metade dos reféns vivos e metade dos reféns mortos. A proposta, que foi aceite por Israel, teve um volte-face nos últimos dias, porque o Hamas impôs novas condições para o acordo.
O grupo terrorista aceita devolver 10 reféns vivos e 18 corpos de reféns mortos, mas em cinco etapas, ao contrário da proposta original. Em resumo, o Hamas quer estender no tempo a libertação dos reféns (quatro no primeiro dia de tréguas, dois ao fim de 30 dias, e os restantes quatro no último dia de tréguas), quanto à entrega dos corpos de reféns mortos, a proposta do grupo é que eles sejam entregues em dois momentos diferentes, sem data definida. Na contraproposta do grupo que controla a faixa de Gaza, é exigida a libertaçáo de mais de mil priosioneiros palestianos das prisões israelitas e a garantia de um maior fluxo de camiões das Nações Unidas, com ajuda humanitária para a população, que enfrenta uma situação de catástrofe humanitária.
Em resposta, Witkoff disse que a contraproposta do Hamas é totalmente inaceitável. E que um cessar-fogo de 60 dias só vai ser possível se o Hamas cumprir o acordo inicial: devolver metade dos reféns vivos e metade dos reféns mortos.
Israel também não se mostra disponível para alterar as condições de um acordo que já tinha aceite e nos últimos dias reforçou os ataques à faixa de Gaza.
A lei da fome No terreno a situação é cada vez mais grave, o fim de semana foi marcado por assaltos aos poucos camiões com alimentos que conseguiram entrar no território, apenas 30 no sábado, quando antes do conflito entravam 500 por dia.
À entrada dos primeiros veículos na Faixa de Gaza, milhares de palestinianos famintos impediram a circulação dos camiões e pilharam os mantimentos da ajuda alimentar. O caos instalado levou os soldados israelitas a disparar sobre a população, causando dezenas de mortes, incluindo crianças e idosos.
Depois de um bloqueio de 11 semanas, durante as quais as forças israelitas impediram a entrada de ajuda humanitária no território, nos últimos 12 dias tem sido permitida a entrada de alguns veículos, em quantidade muito inferior do que seria necessário, o que tem provocado pilhagens da população.
As Nações Unidas dizem que a situação em Gaza é a pior desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há 19 meses. A ONU afirma que, nos últimos 12 dias, conseguiu transportar apenas cerca de 200 camiões de ajuda humanitária para Gaza e há dúvidas sobre quanto dessa ajuda chegou aos necessitados, já que muitos dos veículos são assaltados pela população faminta. prejudicados pela insegurança e pelas restrições de acesso feitas pelo exército israelita.
Segundo relatos dos funcionários da ONU no local, o exército israelita tem dificultado a chegada da ajuda às populações, “as autoridades israelitas não nos permitiram trazer uma única refeição pronta para consumo. O único alimento permitido foi farinha para padarias. Mesmo que fosse permitido em quantidades ilimitadas, o que não aconteceu, não representaria uma dieta completa para ninguém”, disse o porta-voz da ONU para assuntos humanitários.
O processo de chegada de ajuda às populações está a ser muito dificultado porque Israel inspeciona todos os carregamentos e só depois deixa que os camiões sigam para o lado palestiniano, onde transferem o carregamento para outros veículos que aguardam do outro lado da passagem de Kerem Shalom, na fronteira entre o enclave e o Egito. Além das muitas vidas perdidas no conflito, é incerto o número de palestinianos que morreram, ou estão em risco de morrer de fome, numa situação que tem levado a comunidade internacional a intensificar os apelos a um cessar fogo imediato.
19 meses de guerra A guerra em Gaza dura desde 2023. A 7 de outubro, dezenas de combatentes do Hamas atravessaram a fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel, por terra e ar, num ataque que apanhou de surpresa as autoridades israelitas. Os terroristas do Hamas invadiram Kibutz no sul do país e um festival de música que se realizava na zona. Na sequência do ataque morreram 1.200 pessoas e foram feitos cerca de 250 reféns que foram levados para Gaza.
O ataque traumatizou Israel, que desde a primeira hora o classificou como o maior ataque ao povo judeu desde o holocausto. Internamente o governo foi acusado de negligência, por ter sido apanhado de surpresa num ataque desta dimensão. Benjamin Netanyahu prometeu vingança e desencadeou um ataque sem precedentes contra o enclave nas mãos do Hamas. O objetivo traçado desde a primeira hora é a destruição do Hamas, mas a tarefa é considerada por muitos impossível e mesmo entre os israelitas, o primeiro-ministro tem sido acusado de não dar prioridade à libertação dos reféns. As manifestações sucedem-se, mas nada tem feito demover o governo de Tel Aviv.
Em 19 meses de ataques sucessivos, houve apenas dois cessar-fogo aceites pelas duas partes, o mais longo ocorreu no início do ano e durou dois meses. Durante esse período foram libertados alguns reféns e do lado Israelita, foram libertados centenas de prisioneiros palestinianos. Ao fim de dois meses os ataques israelitas regressaram à faixa de Gaza e o rasto de destruição atinge praticamente todo o território.
Dados não confirmados apontam para quase 60 mil mortos desde o início dos ataques, destes, estima-se que mais de 14 mil sejam crianças. A situação humanitária no enclave agrava-se todos os dias e tem vindo a motivar cada vez mais críticas no mundo. Até a administração Trump, que no inicio deu sinais de dar carta branca ao governo de Tel Aviv, parece agora empenhada em pôr um travão ao primeiro-ministro israelita. A atual proposta de cessar-fogo é uma prova de que a Casa Branca pode estar a mudar de posição.