Neste domingo, os polacos ditarão quem será o sucessor de Andrzej Duda no cargo de presidente da República. Após uma primeira volta renhida no passado dia 18 de maio, Rafal Trzaskowski e Karol Nawrocki estarão agora frente-a-frente, e algumas variáveis resultantes da última votação podem fazer pender a balança.
Trzaskowski, do mesmo partido que o atual primeiro-ministro Donald Tusk, o Plataforma Cívica, venceu com 31,4% dos votos, conquistando apenas mais 1,9% que o seu adversário direto, que pertence ao Lei e Justiça, partido do presidente incumbente.
Foi um resultado que não correspondeu ao avanço apontado pelas sondagens que davam uma vantagem de cerca de 5% ao candidato centrista. Assim, a política polaca entra em todo um novo jogo eleitoral.
Slawomir Mentzen foi o terceiro candidato mais votado com 14,8%, seguido por Grzegorz Braun com 6,3%, Szymon Holownia com 5%, Adrian Zanberg com 4,9% e Magdalena Biejat com 4,2%. São resultados modestos quando comparados com os dos dois principais candidatos e que os deixam excluídos de uma segunda volta. Porém, não são irrelevantes. Como escreveu Donald Tusk na sua conta oficial do X, «o jogo de tudo está apenas a começar. Uma luta dura por cada voto. Estas duas semanas vão decidir o futuro do nosso país. Por isso, nem um passo atrás».
Numa segunda volta eleitoral, a transferência de votos dos candidatos eliminados é que determinará o vencedor final, e estes números podem acabar por dar a vitória a Nawrocki. Mas porquê?
Como notou o jornal Politico, «os partidos que se opõem ao governo do primeiro-ministro Donald Tusk tiveram melhor desempenho do que os que o apoiam», conjuntura que, naturalmente, cria «um problema para Rafal Trzaskowski». Vejamos quais são os candidatos e os apoios que poderão ser decisivos.
A chave Mentzen
O número mais importante é o do partido nacional-populista Confederação, de Mentzen, o mais votado dos restantes. Com 14,8% dos votos, o candidato que conseguir o seu apoio estará com um pé e meio no palácio Presidencial, e seria de esperar que o seu apoio fosse dado a Nawrocki. Este último lançou prontamente um apelo a Mentzen na noite eleitoral: «Quero dirigir-me a um dos candidatos, Slawomir Mentzen. Este é o momento de salvar a Polónia. Ambos queremos uma Polónia soberana, forte, rica e segura».
Ainda assim, Mentzen não declarou apoio a qualquer candidato. O candidato do Confederação disse, citado pela TVP World, que não vê «qualquer razão para votar em Rafal Trzaskowski. Além disso, não gosto da forma como ele se esquiva em muitas entrevistas. Ele é terrivelmente escorregadio», mas levanta questões quanto à credibilidade de Nawrocki: «Nawrocki tem alguns problemas de credibilidade (…) Não tenho 100% de certeza de que o que ele diz sobre o seu passado seja verdade e, por vezes, tenho quase a certeza de que não é verdade». Estas suspeições quanto ao candidato do Lei e Justiça não o impediram, de acordo com a agência de notícias polaca, de elogiar Nawrocki.
«Votem na que está mais perto de vocês, porque senão pode ser ainda pior. Penso que vos ajudei o mais que pude. O resto está nas vossas mãos», disse Mentzen num vídeo publicado no seu canal de YouTube. Não sendo um apoio oficial, será natural que a maioria dos eleitores que escolheram Mentzen transfiram o seu voto para o que está mais próximo ideologicamente, ou seja, Nawrocki. Contudo, a falta de apoio formal pode fazer com que a transferência seja mais reduzida.
Irmãos de armas
Os votantes dos candidatos pertencentes aos partidos que integram o governo de coligação de Tusk, Holownia e Biejat – o primeiro de centro-direita e a segunda de esquerda –, ao que tudo indica, votarão em Trzaskowski na segunda volta. Biejat tornou o apoio público dois dias depois das eleições, um gesto que o candidato mais votado agradeceu: «quero agradecer a Magdalena Biejat e à esquerda pelo seu apoio na segunda volta das eleições presidenciais. Esta é uma expressão de responsabilidade, coragem e preocupação comum com o futuro da Polónia, uma Polónia justa, moderna e solidária».
O atual presidente da Câmara de Varsóvia ainda prometeu algumas cedências face ao programa da esquerda: «Prometo também que, sob o meu patrocínio, em cooperação com os parceiros da coligação, iniciaremos uma verdadeira reforma do sistema de financiamento da saúde, e as propostas da esquerda serão certamente um contributo importante para essa mudança. Precisamos de uma reforma baseada na equidade, na acessibilidade, em serviços de qualidade e em condições de trabalho dignas para o pessoal». «Não são decisões simples, mas são decisões necessárias. A voz dos eleitores de esquerda não pode ser ignorada», acrescentou.
Também Holownia já declarou o apoio oficial a Trzaskowski, que lhe agradeceu o «apoio inequívoco».
Emoção até ao fim
Ainda assim, estes votos não devem ser suficientes para derrotar Nawrocki caso este consiga o apoio de Mentzen. E o candidato excluído que falta, Grzegorz Braun – que, como relata o Politico é um «candidato antissemita de extrema-direita mais conhecido por ter usado um extintor de incêndio para apagar um candelabro judaico no parlamento polaco» – é também importante, sendo que obteve 6,3% dos votos e o seu apoio a Trzaskowski é altamente improvável.
Somando os possíveis apoios de uma forma direta, Trzaskowski, contando ainda com os 4,9% de Zanberg, dos conservadores-liberais, conseguiria 45,5% dos votos, menos 5,1% que o seu adversário. Sendo que a transferência dos votos raramente se materializa de forma tão direta, estes números não deixam de ser um indicador valioso que ajuda a prever os possíveis resultados.
Ciente da disputa intensa que o esperava, Trzaskowski deu um discurso na noite eleitoral que foi marcado pela prudência. «Disse-vos há oito meses que ia ser muito renhido – e é renhido», disse o candidato mais votado na primeira volta. Ainda assim, não deixou esmorecer o otimismo: «Este resultado mostra como temos de ser fortes e determinados para ganhar as eleições presidenciais (…) Estamos na reta final. Vamos ganhar».
Nawrocki, naturalmente, mantém a esperança e, após o fecho das urnas, agradeceu aos eleitores «do fundo do coração» e concluiu com a mensagem «até à vitória».
Posto isto, as eleições que ditarão o próximo chefe de Estado da Polónia serão disputadas até ao último voto. Trzaskowski mantém-se, por pouco, à frente nas sondagens, mas, como se viu, o apoio dos excluídos parece favorecer mais Nawrocki.







