Tem sido um final de temporada trágico para ambos os clubes. A uma jornada do fim, Manchester United e Tottenham, que habitualmente lutam pelos lugares cimeiros da Premier League, arrastam-se pelo fundo da tabela, no 16.º e 17.º lugar, respetivamente, escapando por uma unha negra à despromoção. Com quatro derrotas e um empate, nos últimos cinco jogos para a competição somaram apenas um ponto cada.
Mas restava-lhes uma última oportunidade de redenção: a final da Liga Europa, que se disputou na passada quarta-feira, em Bilbao. Além do troféu em si, o segundo mais importante a nível das competições europeias, a conquista da Liga Europa dá acesso direto à Liga dos Campeões. É o bastante para fazer esquecer os maus resultados a nível interno.
Apesar da situação delicada em que se encontra – chegou em novembro de 2024 com o objetivo de reerguer o clube, mas só o afundou ainda mais –, Ruben Amorim parecia descontraído na véspera do embate do tudo ou nada. Quando Bruno Fernandes o interrompeu na conferência de imprensa de antevisão do jogo, o treinador gracejou: «Ele quer ficar com o meu lugar. Vai ser um treinador muito bom, mas tem de trabalhar, a mentalidade, porque não sabe lidar com pessoas», comentou Amorim.
Ganhar ou não, eis a questão
O jogo em Bilbao, contudo, não lhe daria muitos motivos para sorrir. Neste embate de aflitos, o destino ficou selado no final da primeira parte, aos 42 minutos, quando Brennan Johnson se antecipou à defesa do United e desviou um cruzamento venenoso. A bola ainda fez um ressalto no braço de Luke Shaw e traiu Onana, que nada podia fazer. Um golo confuso, esquisito, mas que valeu ouro.
Na segunda parte, a entrega, capacidade física e dinâmica ofensiva de nada valeram ao United. As estatísticas são eloquentes:_65% de posse de bola dos Red Devils (contra 35%); 15 remates (contra 3); 65 ataques (contra 22); 461 passes (contra 126). E três grandes oportunidades. Em suma: foi uma avalanche de futebol ofensivo do United, contra um Tottenham que se trancou a sete chaves para defender o resultado.
Depois da derrota por dois golos contra o West Ham em casa, há duas semanas, Amorim já tinha avisado que não seria a vitória da Liga Europa a salvar a época. «Neste clube não importa ganhar ou perder na Liga Europa. Os problemas são muito maiores». Ainda assim, um resultado diferente teria sido sem dúvida um consolo para os adeptos. E uma tábua de salvação a que o treinador se poderia agarrar.
‘Não se preocupem comigo’
«Fomos a melhor equipa em campo, mas isso de pouco vale se não marcamos golos», disse Amorim à SportTV no final do jogo de Bilbau. «Foi um bocadinho o reflexo da nossa época, em que marcámos poucos golos. Tentámos tudo, mas não conseguimos marcar. O que levo daqui? Não levo muito. Neste momento é difícil dizer que levo alguma coisa. Temos de lidar com a dor, fechar a temporada no último jogo em casa e preparar a próxima época».
Numa altura em que muitos portugueses estariam a interrogar-se como poderá estar a sentir-se depois de desaires sucessivos (até porque vimos recentemente Pep Guardiola a ter comportamentos bizarros depois de uma série de derrotas do City), o técnico português respondeu: «Se me sinto com forças para continuar? Sinto sempre com forças. Não se preocupem comigo, que eu fico bem».
Depois de mais esta dolorosa derrota, terá Ruben Amorim condições para continuar a conduzir os destinos do United? A pergunta é como uma espécie de nuvem, cada vez mais escura e carregada, que vem pairando sobre a cabeça do técnico português praticamente desde a sua chegada a Manchester. A última sequência, então, é deixar os adeptos de cabelos em pé: são já oito jogos consecutivos sem ganhar.
Na conferência de imprensa de Bilbau, Amorim não fugiu à questão que está na cabeça de todos. «Neste momento peço fé, mas estou sempre aberto. Se a direção e os fãs acharem que não sou o homem certo, saio no dia seguinte sem qualquer conversa sobre compensação. Mas não vou desistir».
Ainda haverá margem para ficar?
Paul Merson, antigo futebolista do Arsenal, interpretou as palavras do português – que na realidade são a confirmação de um cavalheirismo raro no futebol – como um pedido para sair. Se em Portugal abundam os comentadores e palpiteiros, em Inglaterra não é diferente. «Acho que Amorim na verdade não quer ficar», disse à SkySports. «Quando te viras e dizes ‘Saio amanhã mesmo sem indemnização’, isso significa que ele quer acabar com esta situação de miséria».
Quando Amorim chegou a Manchester, vindo do Sporting, o United encontrava-se na 13.ª posição, o que já roçava o escandaloso para um clube com os pergaminhos do United. Durante a sua liderança, caiu três posições e foi afastado de todas as competições em que se encontrava. Em dezembro do ano passado, atingiu a marca negativa de três derrotas consecutivas em casa, algo que não acontecia desde 1963.
Quem saiu em defesa de Amorim foi o capitão da equipa, Bruno Fernandes: «Todos estamos de acordo que ele é a pessoa certa», declarou o internacional português. «Fez muitas coisas boas. Sabemos que o treinador é avaliado pelos resultados. Mas obviamente, como jogadores, nós vemos para lá disso». E reforçou a sua ideia:_«Não acho que haja uma pessoa melhor para assumir o cargo e fazer este trabalho. Sei que é difícil perceber isso, é difícil ver isso, mas continuo a achar que é o homem certo para liderar o clube».
Também Luke Shaw, elemento influente da equipa, apoia o treinador: «Amorim é 100% o homem certo».
Fontes do clube disseram à SkySports que a demissão não está em cima da mesa e que o treinador continua a ter todo o apoio da estrutura.