Querida, encolhi os partidos!


.


A etiologia dos resultados eleitorais do passado dia 18 de Maio incluiria o voto de protesto, a generalizada desconfiança dos eleitores em relação aos mecanismos de representação política (La grogne, como é conhecida por França e que justificaria um ocultar das intenções de voto, não detectadas pelas diversas sondagens) e a não identificação dos eleitores com o discurso e os programas partidários.

As culpas partidárias no ignorar das preocupações do eleitorado, e da comunicação social que delas não teria dado notícia, foram-se acumulando. O processo causal ter-se-ia arrastado no tempo, remontando à queda dos Governos Costa II (2022) e Costa III (2024) ambas fortemente teatralizadas, a primeira pelo próprio Costa, a segunda por aqueles que não queriam bem a Costa mas que puderam contar com a boa vontade de um Primeiro Ministro que perseguia um outro projecto de vida. A rápida queda do Governo Montenegro I (2025), com o ainda mais rápido anúncio do Governo Montenegro II, acrescem a esta série de “mortes políticas” encenadas, provocadas e consentidas pelos principais actores, facilmente enquadráveis no mantra populista “os políticos são todos maus e todos iguais”. Tudo isto foi sendo vertido, gota a gota, para a vesícula biliar do eleitorado.

A desintermediação da comunicação sobre o fenómeno político, com a proliferação de bolhas comunicacionais onde a informação não é sindicada e a opinião é unívoca, com o multiplicar de cidadãos repórteres e de fake news, inflacionou a teatralização das diversas narrativas, deixando pouco espaço para o distanciamento e para a crítica que não fosse clubística, isto é, reproduzindo no comentário as diferentes matrizes partidárias.

Aquilo que a 18 de Maio aconteceu ao PS já tinha acontecido, em parte, ao PSD, quer com Rui Rio, quer com Montenegro. Vale a pena ter presente que a redução da base eleitoral poderá vir a acontecer, novamente mas agora de forma mais intensa, ao PSD e bem mais depressa do que parece resultar dos apressados e ligeiros festejos da vitória eleitoral.

O problema não é a morte de um ou de vários partidos políticos tradicionais (fenómeno comum a outros tempos e outras geografias, como se escreveu no i).

O problema, grave e incontornável, enuncia-se de forma simples: como encontrar uma resposta eficaz para inverter a atrofia dos partidos políticos democráticos, presa fácil das diversas bolhas comunicacionais.

Em Portugal tendemos a fulanizar as soluções para os problemas: Beltrano é bom, Sicrano é mau, em função de apregoadas simpatias e com nenhuma preocupação por conhecer as ideias ou o pensamento dos candidatos à eleição. Este método apressado está de volta ao PS, com os que controlam o aparelho a quererem soluções instantâneas para escolha da nova liderança e sem que ninguém refira a possibilidade de fazer regressar as eleições directas abertas a simpatizantes que se inscrevam para nelas participarem.

O Chega não é, ainda, uma causa, é uma consequência. Os eleitores do Chega não são o inimigo. As suas preocupações também não. Os actuais eleitores do Chega poderão ser conquistados pelos partidos que apresentarem e justificarem melhores propostas de solução para as preocupações e problemas (que não são imaginários) deste eleitorado. Uma análise cuidadosa das preocupações e dos problemas dos actuais eleitores do Chega permitirá demonstrar quão infantis e inúteis são as propostas do Chega. Discutir lideranças partidárias sem ter um caderno de encargos para a análise das preocupações dos eleitores é continuar a fazer favores ao Chega. Até que seja tarde de mais.

Querida, encolhi os partidos!


.


A etiologia dos resultados eleitorais do passado dia 18 de Maio incluiria o voto de protesto, a generalizada desconfiança dos eleitores em relação aos mecanismos de representação política (La grogne, como é conhecida por França e que justificaria um ocultar das intenções de voto, não detectadas pelas diversas sondagens) e a não identificação dos eleitores com o discurso e os programas partidários.

As culpas partidárias no ignorar das preocupações do eleitorado, e da comunicação social que delas não teria dado notícia, foram-se acumulando. O processo causal ter-se-ia arrastado no tempo, remontando à queda dos Governos Costa II (2022) e Costa III (2024) ambas fortemente teatralizadas, a primeira pelo próprio Costa, a segunda por aqueles que não queriam bem a Costa mas que puderam contar com a boa vontade de um Primeiro Ministro que perseguia um outro projecto de vida. A rápida queda do Governo Montenegro I (2025), com o ainda mais rápido anúncio do Governo Montenegro II, acrescem a esta série de “mortes políticas” encenadas, provocadas e consentidas pelos principais actores, facilmente enquadráveis no mantra populista “os políticos são todos maus e todos iguais”. Tudo isto foi sendo vertido, gota a gota, para a vesícula biliar do eleitorado.

A desintermediação da comunicação sobre o fenómeno político, com a proliferação de bolhas comunicacionais onde a informação não é sindicada e a opinião é unívoca, com o multiplicar de cidadãos repórteres e de fake news, inflacionou a teatralização das diversas narrativas, deixando pouco espaço para o distanciamento e para a crítica que não fosse clubística, isto é, reproduzindo no comentário as diferentes matrizes partidárias.

Aquilo que a 18 de Maio aconteceu ao PS já tinha acontecido, em parte, ao PSD, quer com Rui Rio, quer com Montenegro. Vale a pena ter presente que a redução da base eleitoral poderá vir a acontecer, novamente mas agora de forma mais intensa, ao PSD e bem mais depressa do que parece resultar dos apressados e ligeiros festejos da vitória eleitoral.

O problema não é a morte de um ou de vários partidos políticos tradicionais (fenómeno comum a outros tempos e outras geografias, como se escreveu no i).

O problema, grave e incontornável, enuncia-se de forma simples: como encontrar uma resposta eficaz para inverter a atrofia dos partidos políticos democráticos, presa fácil das diversas bolhas comunicacionais.

Em Portugal tendemos a fulanizar as soluções para os problemas: Beltrano é bom, Sicrano é mau, em função de apregoadas simpatias e com nenhuma preocupação por conhecer as ideias ou o pensamento dos candidatos à eleição. Este método apressado está de volta ao PS, com os que controlam o aparelho a quererem soluções instantâneas para escolha da nova liderança e sem que ninguém refira a possibilidade de fazer regressar as eleições directas abertas a simpatizantes que se inscrevam para nelas participarem.

O Chega não é, ainda, uma causa, é uma consequência. Os eleitores do Chega não são o inimigo. As suas preocupações também não. Os actuais eleitores do Chega poderão ser conquistados pelos partidos que apresentarem e justificarem melhores propostas de solução para as preocupações e problemas (que não são imaginários) deste eleitorado. Uma análise cuidadosa das preocupações e dos problemas dos actuais eleitores do Chega permitirá demonstrar quão infantis e inúteis são as propostas do Chega. Discutir lideranças partidárias sem ter um caderno de encargos para a análise das preocupações dos eleitores é continuar a fazer favores ao Chega. Até que seja tarde de mais.