Eleições. A arma das sondagens

Eleições. A arma das sondagens


Com múltiplos estudos a serem publicados praticamente todos os dias, os partidos desconfiam dos resultados, mas aproveitam para usar como arma de campanha as sondagens que mais convém.


À semelhança do que aconteceu em 2024, as sondagens têm-se multiplicado e têm sido para todos os gostos. O empate técnico é o dado mais relevante da maior parte dos estudos, que, depois de erros verificados em atos eleitorais anteriores, o maior deles quando nenhuma sondagem conseguiu antecipar a maioria absoluta de António Costa, em 2022.

A maior parte das sondagens tem-se confrontado com um problema com potencial para desvirtuar os resultados obtidos que é o facto de a maioria dos eleitores contactados estar indisponível para responder a questões. A curta dimensão das amostras leva os técnicos de sondagens a terem mais cautelas na obtenção e interpretação de resultados. Este ano houve um fator acrescido a perturbar os estudos que foi o elevado número de eleitores indecisos que só se tem vindo a reduzir já muito perto das eleições.

Este ano, tal como em 2024, AD e PS aparecem muito próximos dos estudos, deixando antever que o resultado possa ser semelhante ao das últimas eleições em que as duas forças políticas ficaram separadas apenas por 50 mil votos, com uma diferença de poucas décimas em percentagem de votos.

O peso do Chega

O maior erro das sondagens em 2024 foi a incapacidade dos vários estudos de anteciparem o crescimento do Chega que conseguiu eleger 50 deputados e chegou aos 18% de votos. Só a sondagem publicada pelo jornal Nascer do SOL, na sexta-feira antes das eleições de 10 de março acertou praticamente à décima nos resultados obtidos após o escrutínio, incluindo nos resultados do Chega.

Em 2025, as cautelas têm sido maiores, o que tem trazido resultados muito diferentes em relação ao partido de André Ventura. Os técnicos admitem que é mais difícil prever resultados que podem depender em muito de um voto desconhecido diretamente proveniente da abstenção. Foi o que aconteceu em 2024 e a dúvida é se muitos desses eleitores, cansados de eleições, regressam à abstenção ou apostam na repetição do voto no Chega.

À medida que se aproximam as eleições as sondagens indicam um resultado consolidado acima dos 15% para o Chega e há estudos que apontam para um crescimento do partido que pode chegar aos 20%.

André Ventura tem aproveitado os bons resultados que vão sendo publicados para fazer crescer a convicção junto dos seus eleitores de que o partido pode vencer as eleições, acreditando que dessa forma galvaniza os apoiantes e potenciais eleitores.

A dúvida dos pequenos

A grande dificuldade nos estudos deste ano é apurar o que vai acontecer aos pequenos partidos. As sondagens têm valores muito diferentes para partidos como a IL, o Livre, o Bloco de Esquerda e o PCP.

A convicção de que IL e Livre são os partidos com maior potencial de crescimento à direita e à esquerda, não é confirmado de uma forma regular pelos estudos. Consequência do efeito voto útil? Não se consegue entender. Mas ainda mais difícil é tentar prever o nível de votação de comunistas e bloquistas. Aqui os estudos apontam para níveis de votação baixos, mas que variam muito de sondagem para sondagem. O Bloco de Esquerda surge nalguns estudos como o maior dos pequenos, acima de comunistas e do Livre, mas noutros, surge com percentagens no limiar de poderem eleger.

De acordo com técnicos de sondagens ouvidos pelo i, é muito difícil detetar a variação destes partidos, em amostras pequenas. Por outro lado, a transição de votos entre os partidos de esquerda é um fenómeno que vem de trás. Os eleitores têm o seu voto decidido à esquerda, mas, muitas vezes, por questões que têm que ver com a atuação dos partidos, podem oscilar o seu voto. Sendo o voto no PCP mais fiel é possível que a oscilação se faça sobretudo entre Bloco de Esquerda e Livre.