Poderia pensar-se que, quando o país vai a votos, a tarefa mais difícil cabe ao partido do Governo, que tem todos contra si e que, além disso, tem de responder por tudo o que corre mal. E muita coisa tem corrido mal no nosso país. A crise da habitação – com as casas a atingirem preços impraticáveis para uma larga maioria da população – e os fechos das urgências dos hospitais são alguns dos temas que têm tido maior visibilidade. Mas há outros. Como a imigração descontrolada, que deixou de ser tabu, e a educação, onde também se vivem dias muito complicados – bastaria, para o atestar, olhar para a quantidade de professores de baixa médica psiquiátrica, enquanto outros dão sinais claros de desgaste.
Montenegro tem ainda contra si, recorde-se, o caso da empresa familiar, que levou à queda do Governo e que levantou suspeitas quanto à sua idoneidade para o cargo.
Mas o primeiro-ministro mostrou-se sempre muito confortável no seu papel ao longo da campanha, reclamando os louros pelo corre bem e conseguindo esquivar-se às responsabilidades do que corre mal.
Nisso tem em Pedro Nuno Santos um aliado precioso. O líder do Partido Socialista não consegue de facto ser credível quando diz que tem uma varinha mágica para resolver a crise da habitação, quando ele próprio foi ministro da tutela dessa pasta ao longo de três ou quatro anos e deixou as coisas chegarem ao ponto a que chegaram. O mesmo se pode dizer da Saúde – os socialistas apresentam-se como os grandes defensores do Serviço Nacional de Saúde mas foram eles que deixaram o SNS degradar-se a olhos vistos, enquanto os hospitais privados prosperavam e se multiplicavam. Para não falar na forma desastrada como o atual líder do PS geriu, quando era ministro, o dossiê da TAP, com todos os casos rocambolescos que se conhecem. Mais do que currículo, o consulado de Pedro Nuno Santos no Governo de António Costa pode ser cadastro.
Outro aspeto ainda favorece a AD: os eleitores costumam apostar na estabilidade e em tempos de incerteza ainda mais. Aliás, se estão fartos de eleições, o natural será votar em que já lá estava. E, por fim, o primeiro-ministro aprendeu com o seu antecessor que, num país envelhecido, aumentar as pensões é sempre uma estratégia vencedora…
Irá a AD reforçar ou não os seus resultados? Veremos no que dá. Montenegro tem muita coisa contra si. Mas também tem alguns trunfos. A começar pelo seu principal adversário.