A fórmula para eleger um Papa

A fórmula para eleger um Papa


Segundo a ‘lei de Deus’, na eleição do novo Papa é totalmente proibido procurar obter bens espirituais em troca de dinheiro ou outros bens materiais, prometer votos ou existir qualquer intervenção externa. A teoria é essa, a prática será ditada pelos 133 cardeais


Quando morreu o Papa Francisco, automaticamente o ‘governo’ do Vaticano cessou funções, embora os «Dicatérios continuem a funcionar, mas apenas para coisas de menor importância, dirigidos pelos Secretários dos mesmos dicastérios. Para coisas de alto rango, deverão aguardar a eleição de novo Papa», como explica o documento ‘Sé Vacante e Eleição Papal’, do departamento da comunicação do Patriarcado de Lisboa. Feito para ajudar os jornalistas a perceberem o que está em causa neste momento, o documento explica tim tim por tim tim, o que se irá passar até ao dia 7, sendo certo que todos os cardeais com menos de 80 anos à data da morte de Francisco terão de participar no Conclave, a não ser que questões de saúde os impeçam. Em princípio, votarão 133, há dois que estão doentes. Vejamos as primeiras regras básicas, com o silêncio e isolamento à cabeça: «Há um especial cuidado com o lugar em que decorre a eleição papal. Os Cardeais ficam alojados na Domus Sanctae Marthae e as operações de eleição decorrem na Capela Sistina. Todos os espaços usados devem ser cuidadosamente fechados às pessoas não autorizadas, devem tomar-se todas as diligências para que não haja qualquer equipamento eletrónico de captação de imagem ou som ou qualquer outra forma de informação aos Cardeais, assim como tudo se fará de modo que nenhum cardeal seja abordado por pessoas estranhas à eleição na deslocação de Santa Marta para a Sistina. Os Cardeais também estão proibidos de todas as formas de comunicação com o exterior». 

A eleição do novo Papa

«Prover à nomeação de um novo Papa é uma missão delicada e importantíssima que o Colégio de Cardeais recebe. Por isso, as normas a respeito do que se deve observar são muito claras. É curioso que nas normas existentes há um aspeto – que é teológico e espiritual – que sobressai diversas vezes: os Cardeais devem ter em vista apenas Deus no momento de decidir. Esta característica oferece a carga espiritual que envolve este momento, muito além de decisões meramente políticas ou estratégicas». Para os menos familarizados com a religião, ficamos a saber que foi o Papa Alexandre III, em 1179, que estabeleceu «que só o Colégio dos Cardeais pode eleger o Papa e que são necessários 2/3 dos votos para que a eleição aconteça. Este dado permite observar quão antigas são as tradições para a eleição do Papa».

Nesta autêntica Bíblia, ficamos a saber que no dia 7, «os Cardeais celebram na Basílica de São Pedro a Missa Pro Eligendo Papa, para a eleição do Papa, como súplica particular do auxílio de Deus para as operações de eleição de um novo Papa. Esta Missa acontece da parte da manhã. Da parte da tarde, os Cardeais reúnem-se na Capela Paulina, no palácio Apostólico, em vestes corais, de onde partem em procissão solene e cantando o antigo hino Veni Creator, uma súplica particular pela assistência do Espírito Santo, para a Capela Sistina. Será nesta que se procederão a todos os passos para a eleição do Papa». 

Depois, chegados «à Capela Sistina é feito o juramento». Cada cardeal presta «adesão a este juramento, com uma forma simples, que diz aproximando-se um a um do livro dos Evangelhos, no centro da Capela Sistina». Segue-se a o Mestre de Cerimónias que diz a «fórmula ‘Extra Omnes’ e todas as pessoas estranhas ao Conclave deverão deixar a Capela Sistina. Permanecerão na Sistina apenas o Mestre de Cerimónias e o padre que ficou encarregado de dirigir aos Cardeais a primeira meditação. Esta deve versar sobre: ‘a gravíssima tarefa que sobre eles incumbe e, ainda, sobre a necessidade de agir com a devida atenção pelo bem da Igreja universal, solum Deum prae oculis habentes, expressão que ganha um especial relevo tendo em conta a representação do Juízo Final de Miguel Ângelo».

Fora de cena quem não é de cena

Já sozinhos, os cardeais rezam algumas orações, que terminam com a oração a Nossa Senhora Sub tuum praesidium. Nesta altura, o cardeal Decano, ou quem faz as suas vezes, pergunta aos cardeais se já se pode proceder ao início das operações da eleição ou se ainda é necessário clarificar alguma coisa. «Tudo clarificado, procede-se à realização da eleição, que se faz sempre por escrutínio, havendo eleição quando alguém tem 2/3 dos votos com base na totalidade dos eleitores presentes. Está previsto haver 4 votações por dia, exceto no primeiro dia (tarde), que se faz uma. O processo de escrutínio realiza-se em três fases: Pré-escrutínio: 1) preparação e distribuição das fichas pelos cerimoniários (entretanto chamados para dentro do lugar de eleição, juntamente com o Secretário do Colégio dos Cardeais e o Mestre de Cerimónias, sairão logo após a distribuição das fichas), entregando duas ou três a cada Cardeal; 2) a extração à sorte de três escrutinadores ; três encarregados de recolher os votos dos Cardeais doentes; três revisores.

b. Escrutínio: 1) Deposição das fichas de voto na urna; 2) mistura e contagem das mesmas; 3) apuramento dos votos. Pós-Escrutínio: 1) Contagem dos votos; 2) Controlo (função dos Revisores); 3) Queima das fichas».

O ritual não muda de eleição para eleição. É sempre o mesmo. «Estes procedimentos repetem-se durante três dias. Se não houver eleição, os trabalhos são suspensos durante um dia, no máximo, para uma pausa de oração, de livre colóquio entre os votantes e de uma breve exortação, feita pelo primeiro dos Cardeais Diáconos. Em seguida, recomeçam as votações e, se após sete escrutínios, não se chegar à maioria de dois terços, faz-se outra pausa para oração e o primeiro dos Cardeais Presbíteros faz uma exortação. Se após outros sete escrutínios não se alcançar consenso, será feita outra exortação pelo primeiro dos Cardeais Bispos. Seguem-se mais sete votações. Se, mesmo assim, não se alcançar consenso, faz-se mais um dia de oração, meditação e colóquio, serão votados os dois nomes mais votados no escrutínio anterior, sendo sempre necessária a maioria de dois terços».

«Uma vez feita a eleição canónica, o último dos Cardeais Diáconos chama para dentro do local da eleição o Secretário do Colégio dos Cardeais e o Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias. Em seguida, o Cardeal Decano, ou o primeiro dos Cardeais segundo a ordem e os anos de cardinalato, em nome de todo o Colégio, pede o consenso do eleito com as seguintes palavras: «Aceitas a tua eleição canónica para Sumo Pontífice?». E, uma vez recebido o consenso, pergunta-lhe: «Como queres ser chamado?». Então, o Mestre das Celebrações Litúrgicas pontifícias, na função de Notário, e tendo por testemunhas dois Cerimoniários, redige um documento com a aceitação do novo Pontífice e o nome por ele assumido».

«Cumpridas as formalidades, os Cardeais eleitores aproximam-se um a um para render homenagem e prestar obediência ao neo-eleito Sumo Pontífice. Segue-se também um momento de oração de ação de graças a Deus. O Conclave termina logo que o novo Sumo Pontífice eleito tiver dado o consenso à sua eleição. Em seguida, o Cardeal Proto Diácono anuncia ao povo a eleição do novo Papa. Este é apresentado na varanda principal da Basílica de São Pedro da qual, como tem sido habitual, dirige umas palavras e dá a bênção Urbi et Orbi».

E é assim que se ficará a conhecer o futuro Papa. As últimas ‘sondagens’ dão o cardeal de Marselha à frente, até por ser um conciliador e conseguir fazer de ponte entre os EUA e a Alemanha, além de ser bem visto pelos ‘radicais’ africanos. Tem ainda a vantagem de em França se estar a assistir a um crescimento notável a fé católica. Na última Páscoa mais de 10 mil adultos quiseram ser batizados. Mas já se sabe que quem entra Papa no Conclave sai cardeal…