Talvez não seja só na América que os partidos contratam investigadores para fazerem campanhas negras.
A presente campanha eleitoral tem sido a campanha dos casos e das casas – e não parece assim tão improvável ter havido aí o dedo dos partidos.
Primeiro foi o apartamento de Luís Montenegro em Lisboa, pago a pronto com dinheiros provenientes de várias contas.
Depois apareceram as dúvidas que envolviam a compra da casa de Pedro Nuno Santos em Lisboa, trazidas a lume por uma denúncia anónima.
E, por fim, a polémica em torno da casa de André Ventura, que disse num debate que vivia num pequeno T1 de 30 m2 – que entretanto se descobriu não ser tão pequeno assim.
Mas afinal isso tem alguma relevância?
Muitas pessoas têm lamentado que em vez de se discutir as propostas dos partidos para o país se ande a ‘perder tempo’ com discussões fúteis e ataques ao caráter dos candidatos.
O que interessam as casas de Montenegro, Pedro Nuno e Ventura quando a Europa está num momento crítico, entre a guerra da Ucrânia e as decisões erráticas de Trump? Quando o país tem problemas enormes para atacar, sejam as listas de espera nos hospitais e a falta de médicos de família, seja o financiamento da Segurança Social, seja a gigantesca vaga de imigração ou ainda o facto de não haver rei nem roque nas escolas públicas?
É com isso, defende muita gente, que os líderes têm de se preocupar. Com que, no fundo, a sociedade funcione harmoniosamente e com a criação de riqueza para que possamos ter melhores salários. Não com casos pessoais que só contribuem para alimentar o mexerico e desprestigiar a democracia.
E no entanto…
No entanto esses casos pessoais não são de modo algum negligenciáveis.
Em primeiro lugar, porque as ideias, os programas políticos e as boas intenções são todos muito bonitos – mas podem ou não ser concretizados. Veja-se o caso-limite de Trump: com a sua modéstia habitual, dizia que se fosse eleito acabaria com a guerra na Ucrânia em 24 horas. Está à vista. Quando recentemente o confrontaram com essa promessa, atirou que estava a ser “sarcástico”.
Portanto, as ideias e os programas, por melhores que sejam, não passam de planos. Na hora de transpor a teoria para a prática fia mais fino.
Em segundo lugar, os casos que envolvem Montenegro e Pedro Nuno (o de Ventura é um mero fait divers) têm um relevo que transcende as circunstâncias. Porquê? Porque avalizam o caráter do candidato. Mais concretamente, é a honestidade do futuro primeiro-ministro que está em causa. E isso, por muito que haja quem pense o contrário, não é uma questão de somenos importância.