Grandes obras em Portugal. A aposta nas infraestruturas

Grandes obras em Portugal. A aposta nas infraestruturas


Ao contrário de outros países que investem em ‘novas cidades’, em edifícios recordistas em altura ou em cidades futuristas, Portugal aposta em infraestruturas. O novo aeroporto de Lisboa, a Terceira Travessia do Tejo ou o Túnel Trafaria-Algés captam as atenções.


As grandes obras previstas para Portugal continuam a estar a sofrer um impasse. Um dos casos mais emblemáticos é o futuro aeroporto de Lisboa, uma infraestrutura que está prevista há 50 anos. E depois de muitos avanços e recuos foi decidido pelo Governo liderado por Luís Montenegro que Alcochete seria a decisão ideal – uma das hipóteses avançadas pela Comissão Técnica Independente.

No campo de tiro de Alcochete, a área aeroportuária vai ocupar 2.300 hectares. Será cinco vezes maior do que o atual aeroporto de Lisboa e vai abrir com duas pistas. A previsão é passar dos atuais 35 milhões de passageiros na Portela para 45 milhões em 2037, ano em que a ANA prevê que o novo aeroporto esteja pronto.

Para 2060, a ANA espera 52 milhões de passageiros. Para o tráfego aéreo, a concessionária acredita que pode passar dos atuais 38 movimentos por hora para 100 em 2037.

Outra dor de cabeça relacionada com o projeto está relacionada com o prazo de conclusão das obras. O Governo aponta para 2034, mas a ANA já veio afirmar que será necessário mais tempo, havendo um diferencial de três anos entre o que o Executivo pede e o que a concessionária diz ser possível.

Este atraso é justificado com os prazos de desenvolvimento do projeto, os procedimentos de autorização, nomeadamente os associados às “licenças ambientais”, assim como à complexidade das obras, que exigem “um longo tempo de preparação, movimentações de terras significativas, as questões associadas a fornecimentos de materiais e múltiplas interfaces entre os diferentes tipos de obra a realizar”, diz o relatório inicial da concessionária.

Associada ao novo aeroporto está também em cima da mesa a Terceira Travessia do Tejo que fará a ligação Chelas/Barreiro, cujo investimento deverá rondar os três mil milhões de euros. Esta é a resposta à necessidade de estabelecer uma ligação ferroviária rápida entre a capital e o futuro aeroporto e também com os projetos de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Isto porque a Ponte Vasco da Gama foi construída apenas com um tabuleiro rodoviário e a Ponte 25 de Abril, que faz ligação ferroviária entre as duas margens do Tejo, está esgotada ao nível da sua capacidade.

O projeto prevê seis vias para automóveis e quatro para comboios convencionais e de alta velocidade. Ao todo vai contar com sete quilómetros, menos cinco que a ponte Vasco da Gama e só terá de estar concluída quando estiver a funcionar o novo aeroporto.

Depois de uma ponte um túnel

A oeste da Ponte 25 de Abril, está a ser proposto um túnel imerso entre Trafaria, em Almada, e Algés, em Oeiras. O investimento rondará os 1500 milhões de euros e não se trata de uma ideia nova, mas de uma reivindicação antiga das duas autarquias.

Mas, a concretizar-se, esta travessia terá um horizonte temporal de execução mais longo do que o da ponte Chelas/Barreiro, uma vez que já está estudada e prevista para as ligações ferroviárias, mas também como acesso complementar rodoviário ao novo aeroporto. O estudo sobre esta nova travessia terá de começar de raiz.

Esta nova ligação imersa pretende dar resposta ao crescente volume de tráfego e à necessidade de soluções mais eficientes de transporte. O objetivo é melhorar a mobilidade entre as margens do Tejo, aliviando o trânsito na Ponte 25 de Abril e que ligue a A23 à CRIL. “O túnel Algés-Trafaria é essencial para o fechar da malha daquilo que é a mobilidade urbana, nomeadamente o metro a norte do Tejo e o metro a sul do Tejo, a ligação a Algés, a continuação da CRIL, ou seja, criar uma verdadeira área metropolitana coesa”, já admitiu o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz.

A Câmara de Almada estima um custo de 1,1 mil milhões de euros para a construção deste projeto que terá um prazo previsto de sete anos.

Aposta na saúde e alta velocidade

Ainda em matéria de infraestruturas, há que contar ainda com o investimento em alta velocidade. Um dos trajetos mais esperados é a ligação Lisboa-Madrid, que está previsto demorar três horas.

Outra aposta é na saúde. O novo Hospital de Todos-os-Santos, em Marvila, lançado por António Costa, deverá entrar em funcionamento em 2027, com 875 camas, e vai substituir os hospitais da Unidade Local de Saúde São José: Santa Marta, Capuchos, São Lázaro, Curry Cabral, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa. Terá uma capacidade para 879 camas, podendo ser aumentada para 1065 em situações de contingência.

As obras arrancaram em outubro de 2024, num investimento que deverá rondar os 380 milhões de euros.

Outros projetos mas em ponto mais pequeno

Também Lisboa será alvo de novos projetos mas em ponto pequeno quando comparado com os investimentos que se irão realizar na área da infraestruturas. O Plano de Urbanização do Vale de Santo António é um desses casos e promete ser um novo bairro dentro da cidade. A intervenção será feita nas freguesias de São Vicente e Penha de França, num total de 48 hectares. O plano que, de acordo com as contas da autarquia, representará um investimento total de 750 milhões de euros, a ser realizado num horizonte de 12 anos, prevê a construção de um parque urbano, três quilómetros de rede ciclável e 2400 casas a preços acessíveis.

Já em marcha está o projeto em Entrecampos, em Lisboa, numa área total de 25 hectares, prometendo uma nova centralidade na capital. O investimento ronda os 800 milhões de euros, dos quais 100 milhões são da responsabilidade da autarquia. O projeto prevê obras de urbanização, reabilitação de arruamentos existentes e a construção de equipamentos sociais e culturais, assim como a criação de áreas verdes.

Outra aposta será na Matinha. Localizado na frente ribeirinha de Marvila, entre o Parque das Nações e a zona histórica de Lisboa, este projeto transforma uma área que esteve abandonada por mais de 25 anos. O projeto pretende apenas reanimar a zona, mas também restaurar a ligação entre a cidade e o Rio Tejo. Com conclusão prevista para 2026 irá criar, no total, 830 novas habitações em Lisboa, 26 mil metros quadrados de novos espaços comerciais e de lazer, assim como o Parque Ribeirinho Oriente.

Não muito longe da Matinha está previsto um outro projeto. Trata-se da Unidade de Execução de Marvila (UEM) que prevê a construção de 1.427 fogos habitacionais, divididos em cinco áreas urbanas, vários equipamentos, um parque verde e a cobertura da linha ferroviária do Norte numa extensão de 400 metros, de forma a facilitar o acesso à zona ribeirinha e à possibilidade de criação de novos espaços públicos como praças, zonas de lazer ou até miradouros.

Aliás, estes dois últimos projetos vão ao encontro do que já foi anunciado por Miguel Pinto Luz que acenou com “Parque Cidades do Tejo” que irá abranger diretamente os municípios de Lisboa, Loures e Oeiras (no distrito de Lisboa), Almada, Barreiro, Seixal e Montijo (no distrito de Setúbal) e Benavente, prevendo-se a construção de 25 mil casas e a criação de 200 mil postos de trabalho. É “um projeto que pretende transformar o arco ribeirinho numa grande metrópole em que o rio funciona como elo de ligação dos territórios em vez de os separar”, esclareceu o governante.