8 boas acções a agradecer a Trump


As Trumponomics estão a começar a produzir efeitos: descida do PIB, aumento da inflação, descontentamento dos agentes económicos (empresas e famílias), expectativas económicas negativas. Mas nem tudo é mau e cá estamos para fazer justiça ao 47º Presidente.


               1.A cimeira da NATO na Haia, a 24 e 25 de Junho, poderia ser o epitáfio da “organização que se ocupa da paz e da segurança”. Com uma dose cavalar de cinismo, será convertida numa ode a Trump, cantada pelos chefes de Estado e de Governo de 31 Estados que lhe agradecerão os discursos motivacionais conducentes ao aumento da despesa em defesa. Cumpridos os 2% do PIB, deverá ser fixada uma nova meta de pelo menos 3% até 2030.

               2.Com a lenta aprendizagem de Trump em matéria de conflito na Ucrânia, aprendemos todos  quão evidentes são os objectivos de Putin e quão perigosamente próxima está a equivalência moral entre as suas acções e as de Trump nesta geografia, mas também no Canadá, Gronelândia e Panamá.

               3.A instabilidade dos mercados financeiros, a queda do dólar e a perda de estatuto como moeda de refúgio traduzem-se em novas oportunidades para o euro e para a conclusão, na União Europeia, do mercado interno de capitais, com a consequente redução dos custos e o aumento das oportunidades de financiamento das famílias e das empresas.

               4.A performance governativa de Musk permitiu identificar as diferenças entre a gestão privada e a actividade política. Num contexto de travestismo de funções públicas, Musk pretende regressar ao sector privado sem responder, também politicamente, pelo que fez enquanto agente da Administração Trump. Spoiler alert: já tivemos, à escala lusitana, um Elon português.

               5.O ataque de Trump às universidades está a promover a fuga de cérebros, com destaque para os que tomam o Canadá como destino. Alerta para a FCT: há que vencer os canadianos com as lusas armas, promovendo os jaquinzinhos com arroz de tomate como factor de competitividade da investigação em Portugal.

               6.Assumir Trump como inimigo político permite vitórias eleitorais surpreendentes. Esta semana, no Canadá, “The Donald” funcionou como catalizador do voto nos liberais, que começaram a campanha com uma diferença de 20 pontos negativos para os conservadores e, mesmo assim, conseguiram vencer as eleições, com o neo-Primeiro Ministro Carney a surfar o ódio a Trump. O mesmo pode acontecer já no sábado na Austrália, onde os liberais (o centro direita) estavam, até à tomada de posse de Trump, em boa posição para ganhar aos trabalhistas, que estão no poder, e que agora surgem nas sondagens como os mais aptos à promoção da defesa contra as derivas trumpianas.

               7.O aumento das taxas alfandegárias decretado por Trump far-se-á sentir em breve nos EUA, fazendo disparar a inflação e dando origem à escassez de produtos e de serviços. A deslocação das exportações chinesas para a UE promoverá uma baixa de preços mas, a prazo, afectará algumas das indústrias europeias, aquelas que ainda estão em condições de concorrer com as exportações chinesas.

               8.Como nos filmes de Hollywood de antanho, Trump will be Trump: reconhecerá as vitórias imaginárias e enterrará as novas taxas alfandegárias, explicando que já obrigou o resto do mundo a obedecer-lhe e a tratar decentemente os EUA. Quanto mais depressa o ajudarmos a atingir este propósito, melhor será para todos. É para isso que existe a ars diplomatica. É de merediana prudência antecipar a possibilidade de repetição, em Trump, da compulsão tarifária, pelo que convirá ter em carteira um vasto stock de lisonjas, a propinar pelos métodos de Oliveira da Figueira:

“Felizmente, não me deixei ir na conversa dele. A tipos como este, acaba-se, quase sempre, por comprar uma data de coisas inúteis.” (Tintin dixit).

8 boas acções a agradecer a Trump


As Trumponomics estão a começar a produzir efeitos: descida do PIB, aumento da inflação, descontentamento dos agentes económicos (empresas e famílias), expectativas económicas negativas. Mas nem tudo é mau e cá estamos para fazer justiça ao 47º Presidente.


               1.A cimeira da NATO na Haia, a 24 e 25 de Junho, poderia ser o epitáfio da “organização que se ocupa da paz e da segurança”. Com uma dose cavalar de cinismo, será convertida numa ode a Trump, cantada pelos chefes de Estado e de Governo de 31 Estados que lhe agradecerão os discursos motivacionais conducentes ao aumento da despesa em defesa. Cumpridos os 2% do PIB, deverá ser fixada uma nova meta de pelo menos 3% até 2030.

               2.Com a lenta aprendizagem de Trump em matéria de conflito na Ucrânia, aprendemos todos  quão evidentes são os objectivos de Putin e quão perigosamente próxima está a equivalência moral entre as suas acções e as de Trump nesta geografia, mas também no Canadá, Gronelândia e Panamá.

               3.A instabilidade dos mercados financeiros, a queda do dólar e a perda de estatuto como moeda de refúgio traduzem-se em novas oportunidades para o euro e para a conclusão, na União Europeia, do mercado interno de capitais, com a consequente redução dos custos e o aumento das oportunidades de financiamento das famílias e das empresas.

               4.A performance governativa de Musk permitiu identificar as diferenças entre a gestão privada e a actividade política. Num contexto de travestismo de funções públicas, Musk pretende regressar ao sector privado sem responder, também politicamente, pelo que fez enquanto agente da Administração Trump. Spoiler alert: já tivemos, à escala lusitana, um Elon português.

               5.O ataque de Trump às universidades está a promover a fuga de cérebros, com destaque para os que tomam o Canadá como destino. Alerta para a FCT: há que vencer os canadianos com as lusas armas, promovendo os jaquinzinhos com arroz de tomate como factor de competitividade da investigação em Portugal.

               6.Assumir Trump como inimigo político permite vitórias eleitorais surpreendentes. Esta semana, no Canadá, “The Donald” funcionou como catalizador do voto nos liberais, que começaram a campanha com uma diferença de 20 pontos negativos para os conservadores e, mesmo assim, conseguiram vencer as eleições, com o neo-Primeiro Ministro Carney a surfar o ódio a Trump. O mesmo pode acontecer já no sábado na Austrália, onde os liberais (o centro direita) estavam, até à tomada de posse de Trump, em boa posição para ganhar aos trabalhistas, que estão no poder, e que agora surgem nas sondagens como os mais aptos à promoção da defesa contra as derivas trumpianas.

               7.O aumento das taxas alfandegárias decretado por Trump far-se-á sentir em breve nos EUA, fazendo disparar a inflação e dando origem à escassez de produtos e de serviços. A deslocação das exportações chinesas para a UE promoverá uma baixa de preços mas, a prazo, afectará algumas das indústrias europeias, aquelas que ainda estão em condições de concorrer com as exportações chinesas.

               8.Como nos filmes de Hollywood de antanho, Trump will be Trump: reconhecerá as vitórias imaginárias e enterrará as novas taxas alfandegárias, explicando que já obrigou o resto do mundo a obedecer-lhe e a tratar decentemente os EUA. Quanto mais depressa o ajudarmos a atingir este propósito, melhor será para todos. É para isso que existe a ars diplomatica. É de merediana prudência antecipar a possibilidade de repetição, em Trump, da compulsão tarifária, pelo que convirá ter em carteira um vasto stock de lisonjas, a propinar pelos métodos de Oliveira da Figueira:

“Felizmente, não me deixei ir na conversa dele. A tipos como este, acaba-se, quase sempre, por comprar uma data de coisas inúteis.” (Tintin dixit).