Vale a pena votar?


No Portugal chamado democrático, o líder partidário ao escolher os seus deputados e ao recusar outros, não é muito diferente do dr. Salazar, que na sua imensa sabedoria tinha a verdade única da escolha dos portugueses capazes de servir a Nação.


Tentei ler os diversos programas eleitorais e não encontrei nada de diferente do habitual: longas dissertações de centenas de páginas, de cada partido está bem de ver, muitas promessas de tudo para todos, nenhum vislumbre de uma qualquer ideia educada sobre o futuro do País e uma profunda ignorância dos desafios que vamos enfrentar. Nenhuma síntese estratégica, nenhum sentido de orientação de base ideológica, ou de base apenas funcional, nada, um vazio de pensamento. Razão por que, pela primeira vez depois do 25 de Abril, me coloquei a questão de não valer a pena votar.

Votei há cerca de um ano, mas já sem grande convicção, por ser então perfeitamente previsível de que não haveria uma maioria estável de governação e aquilo que nos esperava seriam sucessivas lutas entre os partidos a quem os eleitores não deram a confiança suficiente, ou seja, turbulência política quanto baste, discussão de “casos” e “casinhos” nas televisões e um imenso vazio de qualidade política. Nada que não esperasse com a demissão de António Costa, quando então escrevi que o Presidente da República deveria nomear um novo primeiro-ministro indicado pelo PS em vez de optar por mais eleições. Claro que Marcelo Rebelo de Sousa adora não assumir riscos e como as suas qualidades de previsão são escassas, vamos ter eleições novamente, com o problema fundacional de que se trata de eleições que de democráticas têm muito pouco.

Entretanto, como a esperança é a última coisa a morrer, procurei nos diferentes programas partidários uma palavra sobre a necessidade de reformar as leis eleitorais com o objetivo de serem os portugueses a escolher os deputados da sua preferência, ou eliminar aqueles deputados que provavelmente os portugueses já conhecem demasiado bem. Nada, os partidos portugueses não brincam em serviço e sabem bem que ao escolherem os deputados garantem o apoio ao chefe do momento e a plena servidão dos seus interesses, como os interesses de muitas famílias que se servem do poder do Estado. Para os partidos políticos portugueses qualquer surpresa que lide com o seu poder e o poder de distribuir empregos, é uma óbvia maçada.

Procurei também que alguém se preocupasse com o enorme erro do PS, agora seguido pela AD, de usar a bitola ibérica nos prometidos investimentos na ferrovia, nomeadamente na linha do Porto a Lisboa e de Lisboa a Madrid, tornando a nossa economia refém dos nossos concorrentes espanhóis, que há muito optaram pelas normas europeias, transformando Portugal numa ilha de onde não sairão comboios para a Europa, nem entrarão comboios internacionais. Fica assim salvo o objetivo expresso pelo PS de evitar a concorrência ferroviária. Acontece que nem mesmo o facto dos governos – do PS e da AD – optarem por pagar os investimentos através de parcerias público-privadas de má memória, em vez de usarem o financiamento de 60% a fundo perdido da União Europeia, a exemplo do que a Espanha faz há trinta anos e os países do Leste europeu optaram por fazer agora, ou seja, nem mesmo isso retirou os restantes partidos do profundo sono em que estão mergulhados.

Daí a questão, vale a pena votar? Recordo, a propósito de que há tempo assinei, com alguns milhares de portugueses, uma petição à Assembleia da República, a fim de pedir a reforma das leis eleitorais, com a ideia dos portugueses poderem escolher os deputados da sua preferência, como acontece por essa Europa fora. Como seria previsível os partidos tinham mais que fazer do que se preocuparem com a democratização do nosso regime político e mantiveram o seu abono de família de domínio partidário e poderem amordaçar o Parlamento de acordo com os seus objetivos.

Vale a pena votar? Pergunto-me novamente. Agora que metade dos portugueses já não vota, quando já não existe qualquer debate interno nos partidos, quando os centros de estudo fecharam e quando alguns militantes com algumas ideias, porventura perigosas, são marginalizados e os poucos deputados com alguma qualidade ficam a habitar a última fila do Parlamento, ou quando os melhores desistem?

No Portugal chamado democrático, o líder partidário ao escolher os seus deputados e ao recusar outros, não é muito diferente do dr. Salazar, que na sua imensa sabedoria tinha a verdade única da escolha dos portugueses capazes de servir a Nação. Razão por que hoje me custa reconhecer que, pouco a pouco, o actual regime político se assemelha cada vez mais ao da Primeira República e naquilo que toca à escolha dos deputados não somos mais livres do que no antigo regime, ainda que os resultados eleitorais possam ser diferentes, ou seja, temos a liberdade de mudar para que tudo fique na mesma.

Vale a pena votar?


No Portugal chamado democrático, o líder partidário ao escolher os seus deputados e ao recusar outros, não é muito diferente do dr. Salazar, que na sua imensa sabedoria tinha a verdade única da escolha dos portugueses capazes de servir a Nação.


Tentei ler os diversos programas eleitorais e não encontrei nada de diferente do habitual: longas dissertações de centenas de páginas, de cada partido está bem de ver, muitas promessas de tudo para todos, nenhum vislumbre de uma qualquer ideia educada sobre o futuro do País e uma profunda ignorância dos desafios que vamos enfrentar. Nenhuma síntese estratégica, nenhum sentido de orientação de base ideológica, ou de base apenas funcional, nada, um vazio de pensamento. Razão por que, pela primeira vez depois do 25 de Abril, me coloquei a questão de não valer a pena votar.

Votei há cerca de um ano, mas já sem grande convicção, por ser então perfeitamente previsível de que não haveria uma maioria estável de governação e aquilo que nos esperava seriam sucessivas lutas entre os partidos a quem os eleitores não deram a confiança suficiente, ou seja, turbulência política quanto baste, discussão de “casos” e “casinhos” nas televisões e um imenso vazio de qualidade política. Nada que não esperasse com a demissão de António Costa, quando então escrevi que o Presidente da República deveria nomear um novo primeiro-ministro indicado pelo PS em vez de optar por mais eleições. Claro que Marcelo Rebelo de Sousa adora não assumir riscos e como as suas qualidades de previsão são escassas, vamos ter eleições novamente, com o problema fundacional de que se trata de eleições que de democráticas têm muito pouco.

Entretanto, como a esperança é a última coisa a morrer, procurei nos diferentes programas partidários uma palavra sobre a necessidade de reformar as leis eleitorais com o objetivo de serem os portugueses a escolher os deputados da sua preferência, ou eliminar aqueles deputados que provavelmente os portugueses já conhecem demasiado bem. Nada, os partidos portugueses não brincam em serviço e sabem bem que ao escolherem os deputados garantem o apoio ao chefe do momento e a plena servidão dos seus interesses, como os interesses de muitas famílias que se servem do poder do Estado. Para os partidos políticos portugueses qualquer surpresa que lide com o seu poder e o poder de distribuir empregos, é uma óbvia maçada.

Procurei também que alguém se preocupasse com o enorme erro do PS, agora seguido pela AD, de usar a bitola ibérica nos prometidos investimentos na ferrovia, nomeadamente na linha do Porto a Lisboa e de Lisboa a Madrid, tornando a nossa economia refém dos nossos concorrentes espanhóis, que há muito optaram pelas normas europeias, transformando Portugal numa ilha de onde não sairão comboios para a Europa, nem entrarão comboios internacionais. Fica assim salvo o objetivo expresso pelo PS de evitar a concorrência ferroviária. Acontece que nem mesmo o facto dos governos – do PS e da AD – optarem por pagar os investimentos através de parcerias público-privadas de má memória, em vez de usarem o financiamento de 60% a fundo perdido da União Europeia, a exemplo do que a Espanha faz há trinta anos e os países do Leste europeu optaram por fazer agora, ou seja, nem mesmo isso retirou os restantes partidos do profundo sono em que estão mergulhados.

Daí a questão, vale a pena votar? Recordo, a propósito de que há tempo assinei, com alguns milhares de portugueses, uma petição à Assembleia da República, a fim de pedir a reforma das leis eleitorais, com a ideia dos portugueses poderem escolher os deputados da sua preferência, como acontece por essa Europa fora. Como seria previsível os partidos tinham mais que fazer do que se preocuparem com a democratização do nosso regime político e mantiveram o seu abono de família de domínio partidário e poderem amordaçar o Parlamento de acordo com os seus objetivos.

Vale a pena votar? Pergunto-me novamente. Agora que metade dos portugueses já não vota, quando já não existe qualquer debate interno nos partidos, quando os centros de estudo fecharam e quando alguns militantes com algumas ideias, porventura perigosas, são marginalizados e os poucos deputados com alguma qualidade ficam a habitar a última fila do Parlamento, ou quando os melhores desistem?

No Portugal chamado democrático, o líder partidário ao escolher os seus deputados e ao recusar outros, não é muito diferente do dr. Salazar, que na sua imensa sabedoria tinha a verdade única da escolha dos portugueses capazes de servir a Nação. Razão por que hoje me custa reconhecer que, pouco a pouco, o actual regime político se assemelha cada vez mais ao da Primeira República e naquilo que toca à escolha dos deputados não somos mais livres do que no antigo regime, ainda que os resultados eleitorais possam ser diferentes, ou seja, temos a liberdade de mudar para que tudo fique na mesma.