Primeiro as empresas começaram a enviar os funcionários para casa. Depois os supermercados e mercearias que mantiveram as portas abertas foram ‘invadidos’ por quem parecia estar naquele momento a fazer o kit de emergência há semanas recomendado pela Comissão Europeia. Pequenas lojas que vendem um pouco de tudo tinham filas à porta compostas por quem procurava, à última hora, rádios e pilhas. As bombas de gasolina em funcionamento estavam cheias. O trânsito primeiro ficou caótico e depois, num ápice, praticamente desapareceu. Multiplicavam-se as pessoas sentadas dentro dos carros a ouvir os noticiários. Parecia que tínhamos andado para trás no tempo cinco anos, quando a pandemia da Covid-19 levou ao primeiro confinamento – com a diferença de que desta vez não havia distanciamento social. Pelo contrário. Como contamos nesta edição, muitos foram os portugueses que enquanto aguardavam pelo restabelecimento da energia elétrica decidiram sair à rua para aproveitar uma segunda-feira de sol. À noite, as janelas dos prédios iluminaram-se com as ténues luzes de velas. Muitas pessoas reuniam-se à volta da mesa a ouvir as novidades mais recentes a partir de aparelhos que, provavelmente, os mais jovens nunca tinham visto.
Após algum pânico inicial, motivado pelo desconhecimento e incerteza, os portugueses mantiveram-se, em geral, calmos. Apesar de, um por um, os serviços que temos por garantidos terem encerrado ou lidado com graves problemas devido à falta de energia: transportes, telecomunicações, televisão, internet e por aí fora, mantendo-se em funcionamento apenas os serviços essenciais graças aos geradores de emergência. Foi uma espécie de regresso ao século XIX, uma recordação de como, neste mundo moderno, o nosso modo de vida está tão dependente da produção de energia. Tão dependente e, sobretudo, tão frágil ao mesmo tempo.
P.S. O apagão que afetou milhares de empresas por todo o país atingiu também a redação do i. Sem eletricidade, foi-nos impossível fazer e imprimir o nosso jornal a tempo de chegar às bancas à terça-feira, como é habitual. A importância e dimensão desta falha elétrica, fez-nos também alterar o conteúdo desta edição. Para acomodarmos o tratamento jornalístico do apagão, acabámos por alterar um pouco a estrutura do jornal, mantendo com ligeiros ajustes aquele que era para ter sido o tema de capa: os 80 anos da morte de Adolf Hitler. Boa semana.