O diretor executivo da maior empresa de copos de vinhos do mundo esteve uns dias em Portugal. Mas o que faz a Riedel, fundada em 1756, ser pioneira no mercado de vinhos? A LUZ falou com Hélder Cunha e Anselmo Mendes, dois dos mais reconhecidos enólogos portugueses, para tentar perceber a sua importância, assim como os benefícios em escolher o vidro certo, para o vinho certo (o paladar agradece).
Acompanhado pelo sol e mar do Algarve, o austríaco Maximilian Riedel, presidente e diretor executivo da Riedel Glassware, a gigante internacional dos copos de vinho, decidiu vir uns dias a Portugal e, como não podia deixar de ser, aproveitou para saborear os vinhos portugueses. «Quando estiver em Portugal, compre uma boa garrafa de vinho local, como esta garrafa de Alvarinho Contacto de Mendes&Symington, e encontre um bom lugar para relaxar. Eu trago sempre os meus próprios copos de vinho, porque eles ajudam a aumentar a emoção, para além de fazerem com que o vinho saiba muito melhor. É tempo de praia no Algarve!», escreveu o CEO, através de uma publicação nas redes sociais.
Mas sobre os copos de vinhos e para que não haja dúvidas: não, não basta um qualquer para abrir uma boa garrafa. Na verdade, muito mais do que um copo normal, os vinhos precisam de um bom amigo de vidro que os receba com as devidas características, para que a análise e degustação sejam feitas com sucesso (e com máximo proveito). E é aqui que a Reidel Crystal conquistou o mercado. Mas como?
A origem de tudo
A empresa familiar (Maximilian Riedel é a 11ª geração à frente da empresa) foi fundada em 1756 e produz, na Europa, copos de diferentes formas e feitios, para cada tipo de vinho. Mas foi, de facto, no final dos ano 1950, que Claus J. Riedel (9.ª geração) quis mesmo inovar e deixar uma marca que acabaria por mudar a experiência que envolve degustar de um bom produto, ao desenvolver e introduzir no mercado copos específicos. Não, não interessa só se estamos a falar de um tinto, branco ou um rose, mas das castas: a empresa produz copos para cada uma delas, tendo em conta as suas particularidades. E há duas grandes linhas de copos: os que são feitos à mão (os mais conhecidos, icónicos e exclusivos, e também mais caros) e os que são feitos com o auxílio de máquinas. Aliás, são por estes motivos que grandes adegas e restaurantes, espalhados por todo o mundo, escolhem fazer deslizar os seus vinhos nos vidros elegantes da Reidel.
Em declarações à LUZ, Anselmo Mendes, enólogo e produtor de vinhos com mais de 30 anos de carreira e cujo trabalho é também conhecido lá fora, tendo já sido reconhecido pela Parker’s Wine Buyer’s Guide como um dos melhores enólogos portugueses, ficou satisfeito com a menção feita – em texto e em vídeo -, por Maximilian Riedel a um dos seus vinhos, o Alvarinho Contacto, no Instagram. «O Max, para além de ser o dono da empresa, é um comunicador, e foi muito, muito bom ter feito a referência», comenta o enólogo. «Já o tinha conhecido numa apresentação que ele fez aqui em Portugal sobre a adaptação dos vinhos aos copos. É uma pessoa muito brincalhona e gosta muito dos vinhos portugueses», acrescentou. Sobre a importância do copo, o enólogo e produtor explica que o mesmo vinho, se for servido em dois copos diferentes, terá indiscutivelmente um registo, um sabor, uma degustação diferente. «Há que construir um copo para tirar partido do vinho. E eles [a Reidel Crystal] fazem isso muito bem».
A genealogia do copo
«O copo é uma ferramenta da degustação. Com uma boa ferramenta, temos o trabalho bem feito. Com uma má ferramenta, temos um trabalho tosco», explica à LUZ Hélder Cunha, também enólogo e fundador da CascaWines, uma produtora de vinhos com sede em Cascais detentora de vários prémios e reconhecimentos. Neste sentido, todas as partes do copo têm um propósito, e todas elas comunicam entre si. “De uma forma geral, o copo tem de ter uma boa base, um pé com uma dimensão necessária para que não toquemos na tulipa. Não queremos tocar na tulipa para não sujar nem para aquecer o que está no copo. Nós preocupamo-nos com a temperatura de um vinho e se colocarmos as mãos em cima dele, vai aquecer muito rápido. As nossas mãos estão com 35 graus e o vinho está abaixo dos 18, ou pelo menos deveria estar. Depois, a tulipa tem de ter uma barriga suficiente para conseguirmos rodar o vinho de forma a poder oxigená-lo”, acrescentou. A oxigenação é importante, porque é ao agitar o copo, que “o máximo de aromas será libertado”.
Também Hélder Cunha não tem dúvidas sobre o impacto que a Riedel tem no mercado de copos de vinho, nem da sua importância na inovação e qualidade para uma experiência de degustação de vinhos. «A Riedel é conceituada e foi, talvez, a empresa mais disruptiva e que mais evoluiu dentro da produção de copo virados para a degustação. Destaca-se de várias maneiras. Não apenas no desenho dos copos, mas até na evolução dos materiais. Consegue adaptar o copo». Isto porque, como explica o enólogo, uma das partes mais importantes do copo é a boca, e todos os copos têm uma lomba, ou saliência, em cima. E é aqui, nestes pormenores, que a diferença da Riedel para os copos comuns fica saliente. «Um bom copo de vinho não pode ter lomba: quando o líquido entra na nossa boca, tem de entrar sem passar nessas lombas, mas sim de forma linear nas nossas línguas. O que é muito difícil de produzir nos copos. E a Riedel especializou-se nessas características, que acabaram até por elevar a experiência de quem consome vinho. E é uma empresa muito antiga, com muita tradição. Mas também com um bom marketing e estratégia».