Francisco foi um papa diferente. E marcou essa diferença desde o momento em que foi anunciado como sucessor de Bento XVI à frente dos destinos da igreja católica. Ao assomar à varanda central da basílica de São Pedro começou por fazer uma piada, algo inédito para um sumo pontífice. “Irmãos e irmãs, boa noite. Vós sabeis que o dever do conclave era dar um bispo a Roma. Parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase no fim do mundo, eis-me aqui”, disse. Depois, antes de abençoar a multidão, fez outro pedido inédito: “Peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim. É a oração do povo, pedindo a bênção para o seu bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.
O título de papa que veio do fim do mundo pegou. E foi assim que muitos órgãos de comunicação social se referiram a Francisco esta segunda-feira quando a notícia da sua morte foi conhecida. Um papa que fez muitas primeiras coisas – a começar pela escolha do nome. Foi o primeiro jesuíta, o primeiro a vir da América Latina, o primeiro a tomar posse com o sucessor ainda vivo, o primeiro a viver fora do Palácio Apostólico ou a abdicar de carros de luxo em troca de modelos mais económicos e dos tradicionais – e caros – sapatos vermelhos. No seu pontificado atribuiu funções de responsabilidade a mulheres, acolheu os homossexuais e visitou locais que nenhum outro papa tinha pisado, como o Iraque.
Cumpriu aquilo para que dizia ter sido eleito: tentar mudar e modernizar a igreja. Aproximou a instituição do cidadão comum e de muitos que, sem ele, talvez tivessem seguido outras religiões. Foi um progressista, que só não foi mais longe porque provavelmente não lhe foi possível. Isso valeu-lhe os elogios gerais de políticos e celebridades – mas também inimigos.
Tal como uma parte dos católicos viu com bons olhos a abertura de Francisco, outra parte olhou para essa mesma abertura com muitas reservas. Isso significa que neste pontificado cresceram as divisões e confrontos no seio da igreja. Diferenças entre setores que poderão vir agora ao de cima quando chegar a hora de escolher o sucessor de Francisco.
Há um velho ditado em Roma segundo o qual “a um papa gordo sucede um magro”. Ou seja, alguém muito diferente do seu antecessor. Se ele se cumprir, a Igreja poderá estar a caminho de optar por um bispo conservador.