Quem gosta de festas e festivais dificilmente desconhecerá o que é o Fyre Festival, mesmo que este nunca se tenha realizado. Poderá dizer-se que foi a maior campanha de marketing alguma vez feita num espetáculo desta natureza, um grande ato de magia que redundou numa valente fraude. Usando a analogia seria um pacote de batatas gourmet de luxo, com preços para a bolsa de poucos e que depois de aberto não tem uma única batata lá dentro. Foi mais ou menos assim que aconteceu em 2017, a que todos pudemos assistir dois anos depois num documentário da Netflix. Para recordar, o empresário Billy McFarland desenhou um espetáculo único, numa ilha deserta, tendo contratado as maiores estrelas mundiais e modelos da Victoria´s Secret para o promover. Os preços esses iam desde 1000 euros até 1 milhão (sim leu bem…!).
O problema é que se esqueceram que uma ilha deserta necessitava de condições básicas de logística como fornecimento de comida, saneamento básico, eletricidade e muito mais. Quando as pessoas lá chegaram tinham umas tendas básicas que nem sequer chegavam para uma parte dos festivaleiros e a comida escasseava de tal forma que houve uma corrida ao que havia de forma desenfreada. Foi a maior fraude que há memória num evento deste género. O organizador esteve preso durante uns anos e agora predispôs-se a realizar uma segunda edição (mesmo que a primeira não tenha sequer sido realizada). A campanha estava feita, seria uma forma de pagar as dívidas acumuladas a fornecedores do primeiro fracasso. Pois bem, muitos voltaram a cair no erro, compraram novamente bilhetes, desta feita na Ilha das Mulheres, nas Caraíbas, junto à costa do México. No site a promessa é de “uma celebração eletrizante da música, arte, culinária, comédia, moda, gaming, desporto e caças ao tesouro”. A poucas semanas da sua realização, adivinhem lá, foi adiado. Pelo menos desta vez lembraram-se de ressarcir quem adquiriu os mesmos. Fica a pergunta, será que não há duas sem três?
Mudando de assunto, o Coachella é reconhecidamente um dos maiores festivais do mundo. Este sim acontece de verdade há já uns bons anos e este não foi excepção. Nos fins de semana de 11 a 13, e 18 a 20 de Abril subiram ao palco alguns dos maiores artistas do planeta. De Ed Sheeran a Jelly Roy ou Post Malone muito foram os que atuaram naquele que é considerado o evento do “Instagram”, muito feito para quem gosta do bling bling e vai atrás da fama e das fotografias. Só que este ano a “Big Picture” saiu-lhes mal. Convidaram uma banda de uns reacionários ativistas irlandeses de nome Kneecap que resolveram fazer da sua atuação um momento político. Depois de passarem várias frases sobre a guerra na Faixa de Gaza e o envolvimento dos Estados Unidos da América terminaram com um enorme letreiro projectado que dizia “Fuck Israel, Free Palestine” ou em bom português, “Libertem a Palestina e que se fod# Israel.
Sendo que o último acontecimento que despoletou esta guerra foi o massacre por parte do Hamas de israelitas e outros cidadãos que assistiam a um festival de música, diria que esta provocação deixou muito a desejar e passou para além de todos os limites da decência. Hoje em dia faz-se de tudo para sobressair e para criar impacto mas o próprio festival devia ter em atenção tudo o que seja a promoção da cultura do ódio nos seus próprios espetáculos. Como consequência têm uma multidão de gente revoltada a dizer que nunca mais lá volta. É caso para dizer que ficaram mal na fotografia.