Mesmo sem maioria absoluta a AD quer levar a IL para o governo

Mesmo sem maioria absoluta a AD quer levar a IL para o governo


Sem grandes esperanças de que a soma de votos entre a AD e a Iniciativa Liberal venha a dar uma maioria absoluta, Montenegro quer, mesmo assim, dar um ar de mudança ao próximo governo. Para isso vai propor aos liberais que entrem no futuro executivo


É o cenário em que os responsáveis da ADe stão a apostar: um resultado eleitoral semelhante ao que obtiveram nas eleições de 2024, talvez com uma vitória mais robusta, mas longe de uma maioria absoluta. À direita aposta-se também num previsível crescimento da Iniciativa Liberal, mas ninguém arrisca que o partido venha a obter um resultado que seja suficiente para, somado ao da AD, conseguir chegar à ambicionada maioria de deputados eleitos na Assembleia da República.

Contas feitas, e em concordância com os resultados que as várias sondagens vão deixando transparecer, a 19 de maio, o equilíbrio de forças dentro do parlamento será mais ou menos igual. Perante isto o que deverá fazer a AD liderada por Luís Montenegro? A opinião dominante no seio da coligação PSD/CDS é que, mesmo sem uma maioria absoluta, se devem iniciar negociações com a IL com o objetivo de somar uma nova força política ao governo. 

Ao que o Nascer do SOL apurou, as conversas devem ocorrer apenas depois de conhecidos os resultados eleitorais, não tendo existido até à data nenhum contacto entre Montenegro e Rui Rocha. Os dois líderes, que já no passado deram sinais de estarem disponíveis para entendimentos, só deverão conversar após a votação, mas Montenegro estará confiante num bom desfecho a um desafio pós-eleitoral para um entendimento, dado o histórico de relações entre os dois partidos, que se manteve esta semana quando IL e AD se confrontaram em debate.

AD quer IL com pasta governativa

De acordo com fontes da coligação PSD/CDS, o objetivo é propor à Iniciativa Liberal um acordo de governo e não apenas de iniciativa parlamentar.  A ideia é dar uma prova de refrescamento ao governo, num cenário pós-eleitoral em que, na realidade, nada muda muito em relação à última legislatura.  «Perante o país mostra-se um reforço da maioria», diz uma fonte social-democrata ao Nascer do SOL. «É uma forma de mostrar que não ficou tudo igual e sempre se alarga o apoio parlamentar». 

Montenegro irá propor a Rui Rocha um lugar no governo para a Iniciativa Liberal, provavelmente a pasta da Economia, uma área que deverá agradar aos liberais. Ao que foi possível apurar, todo o esforço será feito no sentido que o partido integre mesmo o elenco governativo, por se entender que essa é a melhor forma de obter um entendimento coeso, sem falhas. 

Para além de refrescar a solução governativa a AD acredita que a entrada dos liberais na coligação permite dar mais solidez ao governo que, embora não tendo maioria absoluta, terá mais musculo para se apresentar ao país e, sobretudo, aos olhos do Presidente da República que já fez saber que quer garantias mínimas de estabilidade antes de dar posse a um novo executivo.

Depois das eleições de 18 de maio seguem-se dois atos eleitorais importantes, em que os partidos estarão totalmente empenhados:as eleições autárquicas em setembro/outubro, e as eleições presidenciais em janeiro de 2025. Em junho, seis meses antes de terminar o mandato,  Marcelo Rebelo de Sousa perde o poder de dissolver o parlamento e até lá não poderá convocar novas eleições, porque elas só são possíveis seis meses depois da realização do último ato eleitoral. Resultado, o governo que sair das eleições de 18 de maio tem de manter-se em funções pelo menos durante um ano. Só em março é que o novo presidente eleito toma posse e pode exercer em pleno os seus poderes, nomeadamente, o poder de dissolução. 

A tudo isto junta-se a convicção de que depois de 18 de maio, ninguém está interessado em convocar novas eleições e abrir uma nova crise política. Em conjunto, estes cenários dão à ADo incentivo para bater à porta da IL a 19 de maio, com a confiança de que a proposta que será feita a Rui Rocha, tem boas razões para ser uma solução mais duradoura do que a aritmética política pode fazer pensar. 

Um histórico de boas relações

Luís Montenegro e Rui Rocha desde cedo se preocuparam em dar sinais públicos de que mantinham uma relação cordial e de que um entendimento futuro poderia ser uma realidade caso as circunstâncias políticas o proporcionassem. Ficou célebre uma fotografia tirada num encontro que os dois mantiveram quando surgiram os principais sinais do fim da governação de António Costa. Nessa altura o registo fotográfico serviu para dar um primeiro sinal ao eleitorado de direita de que um entendimento era possível. 

Pouco tempo depois, quando Montenegro apresentou a AD, juntando PSD, CDSe PPM, a expectativa de um entendimento esmoreceu, mas na última campanha eleitoral, tal como no passado domingo, quando o líder da IL e o líder da AD se confrontaram em debate, nenhum dos dois escondeu a abertura para entendimentos pós eleitorais. Rui Rocha chegou a afirmar, numa frase que ficou na memória:«à volta desta mesa está a solução para o país». Depois disso entregou ali mesmo a Montenegro uma folha com as condições dos liberais para um acordo. O acordo acabou por não se fazer porque os liberais não tiveram votos suficientes, e a AD ganhou por uma margem mínima. 

Ao longo dos 11 meses em que a ADgovernou, os liberais tiveram altos e baixos  na apreciação que foram fazendo à governação. No essencial, as principais críticas tiveram a ver com a pouca ambição na descida de impostos, na ausência de reformas no Estado e, claro está, na incapacidade de resolver os problemas da saúde.  Os liberais votaram favoravelmente a redução do IRS e contra o orçamento. 

No culminar da crise que levou à queda do governo, Rui Rocha foi crítico qb da forma como Luís Montenegro geriu o caso e as dúvidas sobre a Spinumviva, mas votou favoravelmente a moção de confiança que o governo da ADapresentou no parlamento. 

Nas intervenções que tem feito ao longo desta pré-campanha eleitoral, sempre que é questionado sobre a possibilidade de entendimentos com a AD,  Rui Rocha não fecha a porta. A ver vamos se vai aceitar o desafio de integrar a ILno próximo governo.