Na Cidade Velha de Jerusalém fica o Santo Sepulcro, aquele que se acredita ser o local onde Jesus foi crucificado, sepultado e depois ressuscitou. Agora, novas descobertas feitas por uma equipa internacional de arqueólogos podem vir a confirmar essa crença.
Durante escavações recentes realizadas por investigadores da Universidade Sapienza de Roma, em colaboração com a Autoridade de Antiguidades de Israel, foram encontrados vestígios botânicos e sedimentos datados com precisão científica da primavera do ano 33 d.C. — uma data que coincide com o período apontado por muitos estudiosos como o da morte de Cristo.
Essa descoberta dá um novo peso a uma passagem do Evangelho de João, que afirma: “No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e no jardim, um túmulo novo” (João 19.41).
Há cerca de dois mil anos é possível que existissem oliveiras e videiras a crescer no terreno onde hoje fica a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. “O Evangelho menciona uma área verde entre o Calvário e o túmulo, e nós identificamos esses campos cultivados”, disse a arqueóloga-chefe, Francesca Romana Stasolla, que dirige as escavações atuais desde 2022, citada pelo The Times of Israel.
Além das descobertas botânicas e geológicas, os investigadores também descobriram túmulos de mármore no complexo da igreja que podem estar ligados a José de Arimateia, a figura bíblica que se acredita ter presenteado o túmulo a Jesus.
“Estamos a fazer análises geológicas para verificar a origem do mármore e a testar também a argamassa. Ambos os testes podem dar-nos informações importantes, revelou a arqueóloga ao New York Post . “O verdadeiro tesouro que estamos a revelar é a história das pessoas que fizeram deste sítio o que ele é, ao expressar a sua fé aqui”, acrescentou.
No domingo de Páscoa, este local, construído no século IV, torna-se o centro da cristandade, com rituais litúrgicos. Por isso, o trabalho dos investigadores teve de ser interrompido temporariamente para manter a igreja acessível aos fiéis durante a Semana Santa e a Páscoa. A pesquisa arqueológica será retomada no final do mês. “Só nos falta escavar parte do corredor norte”, afirma Stasolla.
“Quer se acredite ou não na historicidade do Santo Sepulcro, o facto de gerações de pessoas terem acreditado é objetivo. A história deste lugar é a história de Jerusalém e, pelo menos a partir de certo momento, é a história da adoração a Jesus Cristo”.
As escavações atuais fazem parte de um projeto de restauração da igreja, que começou em 2019 após décadas de conflitos internos entre as comunidades religiosas que administram o local. A restauração inclui a substituição do piso da igreja e a realização de escavações arqueológicas.
O Santo Sepulcro: espaço de encontro (e de tensão)
A Igreja do Santo Sepulcro é hoje partilhada por seis comunidades cristãs: católica, grego-ortodoxa, arménia, copta, síria e abissina. Cada grupo tem horários e zonas específicas de culto, e até pequenos reparos exigem consenso entre todos — o que torna as escavações particularmente complexas.
Ao longo dos séculos, o Santo Sepulcro passou por vários ciclos de destruição e restauração.
A primeira estrutura foi erguida no século IV por Constantino, o primeiro imperador a converter-se ao cristianismo. A igreja foi incendiada pelos persas no século VII e atacada pelo califa al-Hakim em 1009. Uma restauração significativa sob o domínio dos cruzados no século XII deu ao edifício sua aparência atual.
Após a conversão de Constantino ao cristianismo, ele mandou a sua mãe, Santa Helena, identificar os locais sagrados da vida de Jesus em Jerusalém. Segundo consta, Helena descobriu a cruz na qual Jesus foi crucificado, e Constantino ordenou que uma igreja fosse construída no local.
Segundo Stasolla, as camadas ocultas sob o piso da igreja transportam-nos pela história de Jerusalém, desde a Idade do Ferro (1200-586 a.C.).
“A igreja fica numa pedreira, o que não surpreende, visto que grande parte da Cidade Velha de Jerusalém fica numa pedreira”, afirma a investigadora. “A pedreira já estava ativa na Idade do Ferro. Durante a escavação encontrámos cerâmica, lâmpadas e outros objetos do quotidiano que datam desse período.”
Na época de Jesus, a antiga pedreira também era usada como local de sepultamento, sendo possível encontrar vários túmulos escavados na rocha, tal como acontece noutras áreas de Jerusalém.
“À medida que a pedreira foi sendo progressivamente abandonada, começaram a ser construídos túmulos em diferentes níveis”, explica. “A área tem várias sepulturas daquele período. Constantino selecionou aquele que seria venerado como o túmulo onde Jesus foi sepultado e escavou ao redor dele, isolando-o dos outros.”
Antigo altar descoberto numa Igreja do Santo Sepulcro Em 2022, uma equipa de arqueólogos já tinha feito uma descoberta num dos corredores da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém: um altar medieval.
Os arqueólogos acreditam que a frente da pedra com 2,5m por 1,5m, já foi decorada e ornamentada o que indica ser um altar medieval de 1149.
“Não se pode ver agora, mas originalmente era ornado com pedaços de mármore precioso, pedaços de vidro e pedaços de mármore pequenos”, disse Amit Re’em, arqueólogo regional de Jerusalém à Autoridade de Antiguidades de Israel.
“Era brilhante, era um artefacto realmente espantoso. Todos os olhos dos crentes, dos peregrinos, [foram] para este objeto. E logo acima dele e ao seu redor, todos os sacerdotes e monges fizeram a liturgia principal da Igreja. Aqui, na mesa deste altar”, explicou Amit Re’em.
Os arqueólogos acreditam que a relíquia em Jerusalém corresponde a descobertas arqueológicas do passado e aos relatos dos peregrinos sobre a consagração da igreja pelos Cruzados e sobre a formação do seu altar principal em 1149.
O altar foi utilizado pelo clero católico para celebrar a missa, até os Cruzados deixarem Jerusalém, realçou o investigador.
Depois disso, terá sido utilizado pela igreja ortodoxa grega até ser danificado num incêndio em 1808 e esquecido até às descobertas recentes.