Diz-se que é um local que devia visitar-se pelo menos uma vez na vida, mesmo para quem não é religioso. Passar a Páscoa em Israel, conhecida como a Terra Santa, é uma das épocas mais emocionantes e especiais para os cristãos. A Páscoa na Terra Santa é tradicionalmente um tempo de profunda espiritualidade, peregrinação e celebração, com especial destaque para Jerusalém, onde os cristãos acreditam que aconteceu a crucificação e ressurreição de Jesus.
Este ano, a Páscoa calha a 20 de abril mas as celebrações começam antes. Cristãos ortodoxos e católicos concentram as suas celebrações na Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, onde celebram a crucificação, o enterro e a ressurreição de Jesus desde o século IV.
O ponto central destas data é, obviamente, celebrado com mais destaque na cidade de Jerusalém, onde é possível, por exemplo, fazer uma caminhada cristã por Jerusalém pela Via Dolorosa.
A Páscoa, assim como o Natal em Israel, é um dos dois principais períodos do ano para visitas cristãs ao país.
Tradicionalmente, milhares de pessoas esperam por esta época para poder visitar a região mas, em tempos de guerra, esse cenário pode ser um pouco diferente. É que, durante este conflito entre Israel e o Hamas, as celebrações pascais tornam-se mais silenciosas e talvez um pouco mais restritas. Ainda que a Basílica do Santo Sepulcro mantenha as suas liturgias, são esperados menos fiéis, não só locais como também turistas.
É que, sabe-se, a insegurança que se faz sentir naquela região afasta muitos turistas que preferem não arriscar deslocar-se ao local sagrado.
Os dados turísticos Em novembro do ano passado, o Ministério do Turismo de Israel divulgou vários dados que ilustravam o impacto da guerra no setor do turismo e as características de centenas de milhares de turistas que visitaram o país durante esse período. Feitas as contas, desde o início da guerra, foram registados cerca de 853 mil turistas, vindos principalmente dos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia e Filipinas.
Os números mostram que o setor do turismo estrangeiro perdeu 4,675 mil milhões de dólares, enquanto o setor do turismo interno perdeu 190 milhões de dólares. “Os efeitos da guerra não pouparam também o setor do turismo palestiniano, sabendo que o crescimento da economia da Cidade do Natal depende inteiramente dos turistas que visitam a Basílica da Natividade”, revela o turismo de Israel.
Dados oficiais mostram que, depois de uma queda acentuada no número de visitantes em 2024, com uma diminuição de cerca de 80% em relação a 2023, o setor turístico começou a retomar atividades no final do ano. Em janeiro de 2025, as autoridades israelitas falavam num aumento significativo nas pedidos para viagens, antecipando que o número de visitantes ultrapasse os 3,5 milhões até ao final do ano.
Quer isto dizer que, embora o turismo em Israel tenha sido significativamente afetado pela guerra, há claros sinais de recuperação e o país tem levado a cabo iniciativas para atrair visitantes e eventos que destacam a sua importância religiosa e cultural.
Mas nem todos os países acham boa ideia que os seus cidadãos visitem Israel e aquela região. Reino Unido, Canadá, França ou Alemanha, por exemplo, ainda que não ‘proíbam’ os seus cidadãos de visitar Jerusalém em específico, desaconselham viagens à região. Portugal também chegou a deixar essa recomendação no ano passado.
Por cá, algumas agências de viagens deixaram de fazer viagens para Israel devido ao conflito. Tiago Encarnação, diretor operacional da Lusanova, diz ao i que “Israel, e em particular Jerusalém, é um destino com um enorme significado cultural, espiritual e histórico para muitos viajantes portugueses”, mas desde 2023, optou por suspender temporariamente a sua programação para Israel. “Acompanhamos de forma atenta a evolução da situação e estamos certos de que, logo que estejam reunidas todas as condições de segurança e com base nas orientações do Ministério dos Negócios Estrangeiros, voltaremos a oferecer este destino com a qualidade e confiança que sempre nos caracterizou”.
Ainda assim, o responsável não tem dúvidas que a Páscoa “é, tradicionalmente, uma das épocas com maior procura para os nossos circuitos na Terra Santa. O simbolismo desta data, aliado à riqueza cultural e espiritual do destino, faz com que continue a ser uma referência para muitos viajantes” e por isso garantiu que “assim que a segurança estiver plenamente garantida, a Lusanova estará preparada para retomar a sua programação para Israel, um destino que ocupa um lugar especial na nossa oferta”.
Uma Páscoa diferente Mas ainda que as celebrações aconteçam, a guerra ainda não acabou e a Páscoa poderá ter outro sabor este ano – mais uma vez.
Há um ano, para muitos judeus, qualquer clima de celebração foi abafado pelas dezenas de reféns capturados pelo Hamas em Israel e mantidos em Gaza. Muitas mesas de Seder, em Israel e em outros lugares, estavam com os seus lugares vazios, representando os que foram mortos ou feitos reféns a 7 de outubro de 2023.
Mesmo após a recente libertação de alguns reféns, outros permanecem presos. As esperanças de um fim formal para o conflito foram deitadas por terra devido ao fracasso do cessar-fogo e pela retomada dos combates.
A Secure Community Network, que fornece recursos de segurança e proteção para centenas de organizações e instituições judaicas na América do Norte, tem emitido avisos frequentes antes da Páscoa, segundo a AFP.
As poucas notícias locais que se conseguem encontrar sobre o assunto dão conta de que as principais cerimónias para os cristãos em Jerusalém, como a missa da Páscoa na Basílica do Santo Sepúlcro, devem ocorrer, mas com uma presença restrita de fiéis, naquela em que seria uma altura em que, tradicionalmente, centenas de milhares de cristãos se reuniam nesta igreja para celebrar a ressurreição de Jesus.
Além disso, o fluxo de peregrinos que normalmente viaja para Jerusalém na Páscoa será mais baixo. Muitos, provavelmente, vão evitar a cidade e as autoridades israelitas podem impor restrições ou segurança adicional nas áreas mais movimentadas, como o é o caso do Monte das Oliveiras ou o Muro das Lamentações.
As notícias dão ainda conta de que é esperado um grande aumento na presença militar e policial para garantir a segurança das celebrações e espera-se ainda que o Governo tome medidas para evitar qualquer tipo de violência nas áreas de maior concentração religiosa.