O mundo das criptomedas já foi visto como moda, mas hoje é claramente um negócio. A garantia é dada à LUZ pelo economista do Banco Carregosa, Paulo Monteiro Rosa, que explica esta tendência: «Existe todo um mercado à volta das criptomoedas com empresas, plataformas, fundos e milhares de milhões de euros em circulação. Ainda assim, há projetos que aparecem e desaparecem rapidamente, por isso é importante distinguir o que tem valor real do que é apenas especulação».
É certo que, de acordo com várias analistas ouvidos pela LUZ, cada um deve investir naquilo que se sente mais confortável, com o grau de conhecimento e com o nível de risco ajustado ao potencial retorno. «Num mercado como um todo, os investimentos nos mercados financeiros têm-se mostrado muito atrativos e vemos que o interesse da população tem vindo a crescer gradualmente, nota-se que as pessoas estão cada vez mais interessadas em aprender e investir», explicam.
E face a este cenário, acreditam que não irá ameaçar os investimentos tradicionais, mas reconhecem que o facto de aparecerem outros mercados proporciona uma gama mais vasta de investidores aos mercados financeiros. Sendo que muitos deles até começam com criptomoedas e acabam a fazer investimentos nos mercados tradicionais, dizem ao nosso jornal.
Apesar de Paulo Monteiro Rosa afirmar que qualquer pessoa pode investir nesta moeda digital, o economista também chama a atenção para o facto de exigir cuidados redobrados, uma vez que, são considerados ativos complexos e de compreensão pouco fácil. «As criptomoedas são voláteis e não há garantias de retorno. É essencial os investidores informarem-se bem, usarem plataformas seguras, protegerem os acessos (como as chaves digitais ou carteiras), e nunca investirem mais do que se está disposto a perder. Para quem é leigo, o melhor é começar devagar, com valores reduzidos, e evitar decisões baseadas em modas ou promessas de dinheiro fácil», salienta.
Ativo especulativo
Para muitos, o investimento em criptomedas pode ser comparável ao do ouro, já que não oferece qualquer tipo de remuneração direta, nomeadamente juros ou dividendos. «Os ganhos vêm apenas da valorização do ativo, ou seja, têm apenas ganhos de capital. Quem investe em criptomoedas fá-lo na expectativa de que estas aumentem de valor, para que possam ser vendidas mais tarde com lucro. Se tal não acontecer, o investidor arrisca-se a perder dinheiro», refere o economista do banco Carregosa.
E aponta para as duas grandes diferenças que existem entre as criptomoedas e o ouro: «Enquanto, as criptomoedas têm apenas cerca de 15 anos de existência, o ouro conta com um historial de mais de seis mil anos como reserva de valor. Além disso, em caso de colapso total, as criptomoedas reduzir-se-iam a simples zeros e uns num computador, sem qualquer utilidade prática fora do mundo virtual. Já o ouro, apesar de ser considerado sobretudo um metal precioso, mantém aplicabilidade industrial, tal como outros metais. Ainda que a sua utilização na indústria seja mais limitada, devido ao preço elevado e à escassez, continua a ser um recurso físico com valor e utilidade».
Dentro do universo das criptomoedas, existem também diferenças significativas entre os principais ativos. Algumas das criptomoedas mais conhecidas apresentam uma utilidade concreta, como é o caso do Ethereum, amplamente utilizado na criação de tokens e NFTs (Non-Fungible Tokens). Além disso, distinguem-se ainda pelo seu comportamento económico: há moedas inflacionistas e deflacionistas. «A Bitcoin, por exemplo, é uma moeda deflacionista, uma vez que tem um limite máximo de emissão fixado nos 21 milhões de BTC. Já o Ethereum, apesar de ter sido implementado um novo protocolo em agosto de 2021 que reduziu a sua taxa de emissão, continua sem um limite máximo definido – o que o torna, tecnicamente, uma criptomoeda inflacionista», exemplifica Paulo Monteiro Rosa.
Impacto na economia
À LUZ, Paulo Monteiro Rosa, defende que as criptomoedas «estão a alterar a forma como pensamos sobre o dinheiro, o investimento e as finanças em geral», defendendo que «têm permitido novas formas de pagamento, transferência de valores sem intermediários e até o surgimento de negócios totalmente digitais». No entanto, o economista alerta que, «como o seu valor é bastante volátil, também trazem riscos e incertezas para os mercados financeiros tradicionais».
O que é certo, na opinião do economista, é que as criptomoedas «têm vindo a ganhar espaço, sobretudo em países com economias frágeis e desestruturadas, tais como várias regiões de África e da América Latina, onde as moedas locais perdem valor rapidamente e consistentemente, delapidando facilmente o poder de compra das populações».
Nestes contextos, explica, a Bitcoin «tem sido usada em transações e como reserva de valor». E, no caso das economias mais avançadas, «o impacto é sobretudo especulativo, associado à expectativa de lucros rápidos ou a uma imagem de status, mas a escassez gradual de notas e moedas e a necessidade de privacidade em pagamentos mais informais, torna também cada vez mais frequente o uso das cripomoedas, sobretudo da bitcoin, no pagamento de despesas mais privadas».
Mas é preciso cuidados e, Paulo Monteiro Rosa lembra que o seu crescimento tem obrigado os mercados e os governos a olharem para este fenómeno com mais atenção.
Já Henrique Tomé, analista da XTB, revela que o mercado das criptomoedas «tem vindo a apresentar vários sinais de aceleração, nomeadamente no que toca ao processo de digitalização em vários setores, como, por exemplo, a banca», acrescentando que «este maior investimento nesta tecnologia inovadora tem, na verdade, marcado a transição da internet para a web 3.0».
No entanto, acrescenta o analista, «e tendo em conta que ainda há muitas questões por responder sobre a revolução tecnológica em curso, ainda não temos muitos casos práticos em termos económicos e o seu impacto continua a ser reduzido, também devido à dimensão do mercado – que, apesar de continuar a crescer, continua a ser relativamente pequeno».
E o futuro?
O economista do Banco Carregosa defende ser provável o uso das criptomoedas continue a crescer, «com cada vez mais pessoas a procurarem formas alternativas de pagamento, sobretudo com o desaparecimento gradual do dinheiro físico». Além disso, refere, «há quem veja nas criptomoedas uma forma de proteger a privacidade nos gastos». Mas nem tudo é certo e Paulo Monteiro Rosa alerta que a «incerteza regulatória e a instabilidade do mercado ainda são grandes entraves» e, por isso, o futuro passa «por encontrar equilíbrio entre inovação, segurança e regulação».
Ainda no que diz respeito ao futuro, Henrique Tomé adianta que «a curva da adoção ao mercado de criptoativos tem acelerado nos últimos tempos e devemos esperar que este ritmo se mantenha, à medida que cada vez mais instituições financeiras e governos adotam criptomoedas e a tecnologia blockchain».
Não obstante, alerta, «o mercado não tem sido indiferente ao cenário de incerteza atual, nomeadamente devido às políticas comerciais mais agressivas da administração norte-americana de Donald Trump». Henrique Tomé diz ainda que o mercado cripto «também está a sair penalizado, uma vez que os investidores tendem a afastarem-se dos ativos de risco e do capital de risco durante tempos mais conturbados».