O moderado


Quem segue a pré-campanha vê que algo está a ser feito, mas põe em dúvida que umas pinceladas no discurso do líder do PS consigam apagar a imagem de radical genuíno.


Fontes geralmente bem informadas asseguram que a próxima proposta da ala esquerda do Partido Socialista será o alargamento do Serviço Nacional de Saúde ao novo ramo da MII (medicina integral e integrada), muito popular na nossa sociedade. Há anos que estudo este ramo moderno da medicina, que estará a suscitar interesse crescente do PS. Aquelas fontes comentam haver cada vez mais socialistas a apontar a integração no SNS da “medicina integral e integrada”, uma medida progressista, anti-discriminatória e inclusiva, que combate o preconceito, o racismo e a xenofobia. Consideram que, dado o “legado socialista no SNS” em que “está tudo bem, sem problemas” e com “elevada capacidade de atendimento e eficiência”, este é o momento certo para trazer para o SNS também a MII.

O estudo que tenho em curso é exaustivo e abrangente sobre os segmentos da MII. Por falta de espaço, deixo dois exemplos. O de um “Astrólogo – Grande Médium Vidente”, “com longa experiência de trabalhos ocultos”, “conhecedor dos problemas difíceis de longo tempo”, “ajuda a resolvê-los com honestidade e sigilo”, “problemas relacionados com amor / negócios / justiça / insucesso / emprego / aproximar e afastar pessoas amadas / impotência sexual”. Assegura que “nunca é tarde para ser feliz” e exorta: “não sofra mais por amor!!” Trata-se do afamado PROF. SALIM, que atende “pessoalmente ou por telefone”, só pede “pagamento após resultado positivo em 7 dias”, garante “solução 100% garantida” e dá “consulta todos os dias por marcação.” Impressiona a modéstia do distinto clínico, que diz apenas “ajudar a resolver problemas”, na linha moderna avançada em que o médico não trata, mas ajuda o doente a tratar-se, induzindo boas práticas e autovigilância sobre o corpo e o espírito. Este perito da MII exorta: “Ligue já para mudar a sua vida.”

O outro exemplo garante: “não existem problemas sem solução que não possam ser ajudados”. É o Professor LANSANA, que “ajuda com sucesso onde os outros falham”. Também “astrólogo”, como Salim, não é médium vidente – é “africano de confiança”. Tem vasta gama de especialidades: “dotado de conhecimentos e poderes, ajuda a resolver problemas em menos de 7 dias, difíceis ou graves, com eficácia garantida, como: Amor, Negócios, Insucessos, Depressão, Justiça, Aproximação e Afastamento de pessoas amadas, com rapidez e garantia total, Impotência Sexual, Vícios de Drogas, Tabaco e álcool, Invejas, etc.” Também “lê a sorte, dá previsão de vida, faz consulta à distância, se quer prender a si uma nova vida, com segurança e pondo fim a tudo o que o preocupa”.

É injustiça e gritante indiferença humana e social que não seja já assegurada pelo SNS esta vasta gama de cuidados essenciais à vida contemporânea. A ala esquerda do PS, segundo as nossas fontes, não tem dúvidas e acusa: preconceito, intolerância, racismo, xenofobia.

Astrólogos e médiuns da MII (medicina integral e integrada), consultados, mas pedindo anonimato, revelam que o plano, sigiloso, está em marcha e o secretário-geral socialista desenvolverá já uma experiência secreta. Trata-se de transformar o “Pedro Nuno radical”, que punha as pernas a tremer aos banqueiros alemães, no novo “Pedro Nuno Santos, o moderado”. O avanço público da proposta revolucionária (perdão, reformista) da esquerda socialista, quanto à inclusão da MII, dependerá do sucesso da experiência em curso, avaliado em sondagens, antes das eleições. Os clínicos que se ocupam de PNS exigiram que, se os testes mostrarem resultados positivos, o PS tem de comprometer-se com a medida antes de eleições, sob pena de revelarem o tratamento e “reverterem o feitiço”. “Feitiço” não é o que o leitor possa pensar em linguagem própria da Inquisição, mas o termo técnico da MII para cuidados na área do marketing político-eleitoral. Importa não esquecer: a MII (medicina integral e integrada) é moderna e avançada.

Há sinais encorajadores destes progressos. Ana Sá Lopes, na newsletter no “Público”, em 10 de Abril, foi a primeira a apontá-lo com indisfarçado entusiasmo. “Esta foi uma semana de grande importância para o PS. Pedro Nuno Santos transmutou-se no centrista, no “adulto” que passou a ser “moderado” e com capacidade de chegar ao eleitorado que oscila entre PS e AD.” Explicou: “Pedro Nuno Santos tinha um sério problema de imagem – apesar dos seus 47 anos, a ideia de que o PS era dirigido por um “jovem radical” estava colada à pele do líder.” E aplaudiu: “Foi no debate com Mariana Mortágua que assistimos à transfiguração – que pode vir a ser decisiva na confiança com que os portugueses vão olhar para o PS no próximo mês.”

Nas minhas fontes na MII, há quem assegure que Ana Sá Lopes está a colaborar na experiência, com os astrólogos e médiuns. Nessa não acredito. Ana Sá Lopes nunca comprometeria a independência e isenção jornalísticas, sobretudo em tempo de eleições.

O outro sinal público foi Luís Paixão Martins, na Rádio Observador, no programa “Vichyssoise”, também em 10 de Abril: “Pedro Nuno afastou-se da imagem de menino bonito do Bloco de Esquerda”. As suas declarações (em texto, no Observador online), revelam uma abordagem MII profissional, aplicada à política, não só na apreciação da campanha atual, mas apreciando também campanhas de José Sócrates e António Costa.

Quem segue a pré-campanha vê que algo está a ser feito, mas põe em dúvida que umas pinceladas no discurso do líder do PS consigam apagar a imagem de radical genuíno, patente em anos de actividade política e inerente ao actual PS. Basta lembrar a desordem e o fracasso que os governos PS deixaram na habitação e na imigração, o caos no sistema de ensino, o pântano no SNS, o fanatismo esquerdista na ideologia de género. Ou apontar a ruptura do PS com a responsabilidade pública nas “contas certas”, regressando à fantasia do “há dinheiro para tudo e mais um par de botas”, que nos levou à troika. Nem é preciso ir muito longe. Basta regressar à histeria e demagogia no início do ano em torno do Martim Moniz (que só três violações e tentativa calaram), às provocações e vexames contra a polícia e aos insultos ao seu autarca de Loures, Ricardo Leão. E chega ver como as listas de candidatos do PS às eleições legislativas são as mais à esquerda da história do partido, tendo sido destacada Eva Cruzeiro (ou Eva RapDiva), 8.ª por Lisboa, celebrizada por cantar «‘tou-me a cagar para a guerra na Ucrânia.»

Questionados por a “política” não surgir na apresentação dos mestres cuidadores, especialistas explicam que a política não é expressamente referida, por receio de serem acusados de “charlatães”. Um risco, na verdade. Mas a MII também cuida da área, que surge incluída em expressões como: “longa experiência de trabalhos ocultos”, “problemas difíceis de longo tempo”, “ajuda a resolvê-los com sigilo”, “negócios”, “nunca é tarde para ser feliz”, “ajuda com sucesso onde os outros falham”, “aproximação e afastamento de pessoas amadas” – pessoas amadas, nesta área da MII, são os eleitores.

Um novo motivo de interesse para a próxima campanha. Um domínio interessante para ser escalpelizado pela comentocracia em que vivemos, novo entendimento da “democracia de qualidade”.

O moderado


Quem segue a pré-campanha vê que algo está a ser feito, mas põe em dúvida que umas pinceladas no discurso do líder do PS consigam apagar a imagem de radical genuíno.


Fontes geralmente bem informadas asseguram que a próxima proposta da ala esquerda do Partido Socialista será o alargamento do Serviço Nacional de Saúde ao novo ramo da MII (medicina integral e integrada), muito popular na nossa sociedade. Há anos que estudo este ramo moderno da medicina, que estará a suscitar interesse crescente do PS. Aquelas fontes comentam haver cada vez mais socialistas a apontar a integração no SNS da “medicina integral e integrada”, uma medida progressista, anti-discriminatória e inclusiva, que combate o preconceito, o racismo e a xenofobia. Consideram que, dado o “legado socialista no SNS” em que “está tudo bem, sem problemas” e com “elevada capacidade de atendimento e eficiência”, este é o momento certo para trazer para o SNS também a MII.

O estudo que tenho em curso é exaustivo e abrangente sobre os segmentos da MII. Por falta de espaço, deixo dois exemplos. O de um “Astrólogo – Grande Médium Vidente”, “com longa experiência de trabalhos ocultos”, “conhecedor dos problemas difíceis de longo tempo”, “ajuda a resolvê-los com honestidade e sigilo”, “problemas relacionados com amor / negócios / justiça / insucesso / emprego / aproximar e afastar pessoas amadas / impotência sexual”. Assegura que “nunca é tarde para ser feliz” e exorta: “não sofra mais por amor!!” Trata-se do afamado PROF. SALIM, que atende “pessoalmente ou por telefone”, só pede “pagamento após resultado positivo em 7 dias”, garante “solução 100% garantida” e dá “consulta todos os dias por marcação.” Impressiona a modéstia do distinto clínico, que diz apenas “ajudar a resolver problemas”, na linha moderna avançada em que o médico não trata, mas ajuda o doente a tratar-se, induzindo boas práticas e autovigilância sobre o corpo e o espírito. Este perito da MII exorta: “Ligue já para mudar a sua vida.”

O outro exemplo garante: “não existem problemas sem solução que não possam ser ajudados”. É o Professor LANSANA, que “ajuda com sucesso onde os outros falham”. Também “astrólogo”, como Salim, não é médium vidente – é “africano de confiança”. Tem vasta gama de especialidades: “dotado de conhecimentos e poderes, ajuda a resolver problemas em menos de 7 dias, difíceis ou graves, com eficácia garantida, como: Amor, Negócios, Insucessos, Depressão, Justiça, Aproximação e Afastamento de pessoas amadas, com rapidez e garantia total, Impotência Sexual, Vícios de Drogas, Tabaco e álcool, Invejas, etc.” Também “lê a sorte, dá previsão de vida, faz consulta à distância, se quer prender a si uma nova vida, com segurança e pondo fim a tudo o que o preocupa”.

É injustiça e gritante indiferença humana e social que não seja já assegurada pelo SNS esta vasta gama de cuidados essenciais à vida contemporânea. A ala esquerda do PS, segundo as nossas fontes, não tem dúvidas e acusa: preconceito, intolerância, racismo, xenofobia.

Astrólogos e médiuns da MII (medicina integral e integrada), consultados, mas pedindo anonimato, revelam que o plano, sigiloso, está em marcha e o secretário-geral socialista desenvolverá já uma experiência secreta. Trata-se de transformar o “Pedro Nuno radical”, que punha as pernas a tremer aos banqueiros alemães, no novo “Pedro Nuno Santos, o moderado”. O avanço público da proposta revolucionária (perdão, reformista) da esquerda socialista, quanto à inclusão da MII, dependerá do sucesso da experiência em curso, avaliado em sondagens, antes das eleições. Os clínicos que se ocupam de PNS exigiram que, se os testes mostrarem resultados positivos, o PS tem de comprometer-se com a medida antes de eleições, sob pena de revelarem o tratamento e “reverterem o feitiço”. “Feitiço” não é o que o leitor possa pensar em linguagem própria da Inquisição, mas o termo técnico da MII para cuidados na área do marketing político-eleitoral. Importa não esquecer: a MII (medicina integral e integrada) é moderna e avançada.

Há sinais encorajadores destes progressos. Ana Sá Lopes, na newsletter no “Público”, em 10 de Abril, foi a primeira a apontá-lo com indisfarçado entusiasmo. “Esta foi uma semana de grande importância para o PS. Pedro Nuno Santos transmutou-se no centrista, no “adulto” que passou a ser “moderado” e com capacidade de chegar ao eleitorado que oscila entre PS e AD.” Explicou: “Pedro Nuno Santos tinha um sério problema de imagem – apesar dos seus 47 anos, a ideia de que o PS era dirigido por um “jovem radical” estava colada à pele do líder.” E aplaudiu: “Foi no debate com Mariana Mortágua que assistimos à transfiguração – que pode vir a ser decisiva na confiança com que os portugueses vão olhar para o PS no próximo mês.”

Nas minhas fontes na MII, há quem assegure que Ana Sá Lopes está a colaborar na experiência, com os astrólogos e médiuns. Nessa não acredito. Ana Sá Lopes nunca comprometeria a independência e isenção jornalísticas, sobretudo em tempo de eleições.

O outro sinal público foi Luís Paixão Martins, na Rádio Observador, no programa “Vichyssoise”, também em 10 de Abril: “Pedro Nuno afastou-se da imagem de menino bonito do Bloco de Esquerda”. As suas declarações (em texto, no Observador online), revelam uma abordagem MII profissional, aplicada à política, não só na apreciação da campanha atual, mas apreciando também campanhas de José Sócrates e António Costa.

Quem segue a pré-campanha vê que algo está a ser feito, mas põe em dúvida que umas pinceladas no discurso do líder do PS consigam apagar a imagem de radical genuíno, patente em anos de actividade política e inerente ao actual PS. Basta lembrar a desordem e o fracasso que os governos PS deixaram na habitação e na imigração, o caos no sistema de ensino, o pântano no SNS, o fanatismo esquerdista na ideologia de género. Ou apontar a ruptura do PS com a responsabilidade pública nas “contas certas”, regressando à fantasia do “há dinheiro para tudo e mais um par de botas”, que nos levou à troika. Nem é preciso ir muito longe. Basta regressar à histeria e demagogia no início do ano em torno do Martim Moniz (que só três violações e tentativa calaram), às provocações e vexames contra a polícia e aos insultos ao seu autarca de Loures, Ricardo Leão. E chega ver como as listas de candidatos do PS às eleições legislativas são as mais à esquerda da história do partido, tendo sido destacada Eva Cruzeiro (ou Eva RapDiva), 8.ª por Lisboa, celebrizada por cantar «‘tou-me a cagar para a guerra na Ucrânia.»

Questionados por a “política” não surgir na apresentação dos mestres cuidadores, especialistas explicam que a política não é expressamente referida, por receio de serem acusados de “charlatães”. Um risco, na verdade. Mas a MII também cuida da área, que surge incluída em expressões como: “longa experiência de trabalhos ocultos”, “problemas difíceis de longo tempo”, “ajuda a resolvê-los com sigilo”, “negócios”, “nunca é tarde para ser feliz”, “ajuda com sucesso onde os outros falham”, “aproximação e afastamento de pessoas amadas” – pessoas amadas, nesta área da MII, são os eleitores.

Um novo motivo de interesse para a próxima campanha. Um domínio interessante para ser escalpelizado pela comentocracia em que vivemos, novo entendimento da “democracia de qualidade”.