Em época de campanha, tudo serve para atacar o governo


Qualquer motivo é bom para atacar o governo, especialmente em campanha eleitoral, mesmo que, quando a decisão de baixar o IRS foi aprovada, todos os atores políticos tenham reclamado o crédito pela redução da carga fiscal.


Uma regra de ouro na política parece ser a de que quando não há casos para explorar e zurzir no governo há que inventar um. A polémica em torno do IRS e das menores devoluções – ou até de pagamentos – parece ser uma delas.

Quando foi decidido baixar o IRS e aprovar novas tabelas de retenção na fonte, o tónico geral foi de que a medida traduziria uma maior justeza fiscal e colocaria mais dinheiro mensalmente nas carteiras dos portugueses. Em setembro e outubro do ano passado os contribuintes até receberam mais por conta do que pagaram por conta ao longo do ano. Nessa altura foi dito e repetido em jornais, rádios e televisões, por governantes e peritos em finanças pessoais, que essa mudança levaria, necessariamente, a menores reembolsos no ano seguinte. Alertou-se também que, em alguns casos, poderia até haver lugar a pagamentos.

Se até se pode compreender que algumas pessoas não se tivessem apercebido disso e tenham sido realmente surpreendidas quando agora entregaram as declarações de rendimentos do ano passado, mais difícil é entender a reação dos líderes políticos. Ou melhor, percebe-se bem o porquê das reações: qualquer motivo é bom para atacar o governo, especialmente em campanha eleitoral, mesmo que, quando a decisão de baixar o IRS foi aprovada, todos os atores políticos tenham reclamado o crédito pela redução da carga fiscal. Chama-se a isto eleitoralismo. E não é suficiente para enganar a maioria dos eleitores.

P.S. No início de 2011 telefonei pela primeira vez ao Coronel Carlos de Matos Gomes, que era há muito uma referência na investigação da história contemporânea portuguesa, sobretudo no que diz respeito à Guerra Colonial. Convidei-o então para escrever o prefácio do meu segundo livro, Dias de Coragem e Amizade, que relatava as histórias de 50 antigos combatentes em Angola, na Guiné e em Moçambique. Aceitou sem hesitar, mesmo sem me conhecer, reconhecendo a importância que os testemunhos diretos deviam ter na altura de se fazer a História do conflito. Ao longo dos anos fomos mantendo o contacto esporádico. Quando há um ano lhe pedi um texto sobre os 50 anos do fim da guerra – e do 25 de Abril –, aceitou generosamente, entre os múltiplos afazeres e a doença com que se debatia. Foi até ao fim um exemplo de dedicação e de intervenção cívica que, felizmente, passou o seu conhecimento a escrito. A sua morte deixa o país mais pobre. À família enlutada ficam aqui as nossas condolências.

Em época de campanha, tudo serve para atacar o governo


Qualquer motivo é bom para atacar o governo, especialmente em campanha eleitoral, mesmo que, quando a decisão de baixar o IRS foi aprovada, todos os atores políticos tenham reclamado o crédito pela redução da carga fiscal.


Uma regra de ouro na política parece ser a de que quando não há casos para explorar e zurzir no governo há que inventar um. A polémica em torno do IRS e das menores devoluções – ou até de pagamentos – parece ser uma delas.

Quando foi decidido baixar o IRS e aprovar novas tabelas de retenção na fonte, o tónico geral foi de que a medida traduziria uma maior justeza fiscal e colocaria mais dinheiro mensalmente nas carteiras dos portugueses. Em setembro e outubro do ano passado os contribuintes até receberam mais por conta do que pagaram por conta ao longo do ano. Nessa altura foi dito e repetido em jornais, rádios e televisões, por governantes e peritos em finanças pessoais, que essa mudança levaria, necessariamente, a menores reembolsos no ano seguinte. Alertou-se também que, em alguns casos, poderia até haver lugar a pagamentos.

Se até se pode compreender que algumas pessoas não se tivessem apercebido disso e tenham sido realmente surpreendidas quando agora entregaram as declarações de rendimentos do ano passado, mais difícil é entender a reação dos líderes políticos. Ou melhor, percebe-se bem o porquê das reações: qualquer motivo é bom para atacar o governo, especialmente em campanha eleitoral, mesmo que, quando a decisão de baixar o IRS foi aprovada, todos os atores políticos tenham reclamado o crédito pela redução da carga fiscal. Chama-se a isto eleitoralismo. E não é suficiente para enganar a maioria dos eleitores.

P.S. No início de 2011 telefonei pela primeira vez ao Coronel Carlos de Matos Gomes, que era há muito uma referência na investigação da história contemporânea portuguesa, sobretudo no que diz respeito à Guerra Colonial. Convidei-o então para escrever o prefácio do meu segundo livro, Dias de Coragem e Amizade, que relatava as histórias de 50 antigos combatentes em Angola, na Guiné e em Moçambique. Aceitou sem hesitar, mesmo sem me conhecer, reconhecendo a importância que os testemunhos diretos deviam ter na altura de se fazer a História do conflito. Ao longo dos anos fomos mantendo o contacto esporádico. Quando há um ano lhe pedi um texto sobre os 50 anos do fim da guerra – e do 25 de Abril –, aceitou generosamente, entre os múltiplos afazeres e a doença com que se debatia. Foi até ao fim um exemplo de dedicação e de intervenção cívica que, felizmente, passou o seu conhecimento a escrito. A sua morte deixa o país mais pobre. À família enlutada ficam aqui as nossas condolências.