O que a violência pode significar, para além de um protesto, é que a ordem estabelecida está, ou pode estar, sistematicamente a ser posta em causa mercê, por vezes, de razões que têm a sua origem em decisões tomadas no passado. Quer dizer, as pessoas estão hoje a sofrer os efeitos de causas que tiveram a sua origem em conjuntura bem diferente da actual. Pode, pois, dizer-se que a crise que se verifica é de adaptação de processos à actual conjuntura, entendendo-se aqui por conjuntura os problemas políticos actuais a que o Governo, ou o poder político, tem que dar solução satisfatória. Desde a violência poética, que a nada conduz, até à violência organizada e sistematizada, que tem por objectivo a essência do fenómeno político, que é a luta pela aquisição, uso e manutenção do poder político, passando pela violência teórica de carácter pacifista, estilo Proudhon, podemos encarar tal fenómeno como que uma procura desesperada, uma forma de exteriorização, de uma nova ideologia em formação e que tenta encontrar uma forma viável com um efeito útil. É o aspecto funcional da questão. Daqui os protestos sistemáticos, a oposição sistemática a tudo, a contestação permanente, as reivindicações constantes e, por fim, a violência como último recurso para chamar a atenção e não como forma de resolver qualquer problemática.
A questão da violência deve ser observada, hoje, de forma diferente do passado recente, já que a transição da ditadura para a Democracia acabou e não se justifica, nem pode justificar, com o regime, qualquer violência em nome do combate político que também, hoje, já não pode ser legitimado, como podia no passado. Ou seja, passou o tempo em que se podia invocar a legitimidade da violência porque era a única forma de combater a ditadura e o regime autoritário do passado.
Ora então, chegados aqui, e em conclusão lógica, não podemos aceitar, em sociedade Democrática, qualquer tipo de violência, não enquadrada em desobediência civil ou até Guerra Civil e, muito menos, a violência académica que as “praxes” têm trazido a público, ainda por cima praticada por jovens que recusam o Serviço Militar, que consideram uma violência, e uma actividade “fascista”, contrária ao seu “espírito democrático” e tolerante!
Isto é, de facto, intolerável por ser cínico, hipócrita e uma grande mentira, se atentarmos nas várias actividades da “praxe”, que tem levado à morte de vários jovens. Das duas uma, ou renunciam à brutalidade, à humilhação e a maus-tratos a terceiros, ou então estarão em condições, físicas e psicológicas, de ingressar no Serviço Militar “Obrigatório” e servir o País enquadrados na sua defesa, o que constituí uma honra que, porventura, alguns nem a merecem.
O aspecto que se pretende focar aqui é a incongruência de certa juventude que considera o Serviço Militar Obrigatório uma violência, mas nas Universidades, e com o pretexto das “praxes”, levam colegas estudantes à morte, através de uma inusitada violência e agressividade que nunca existiu no Serviço Militar, que eles repudiam por ser uma “bestialidade”!
Sociólogo