Donald, o negociador


O mundo encheu-se de trumpistas, especialistas em donaldices, intérpretes dos desígnios do homem mais poderoso do mundo, adivinhos de sentidos ocultos nas mensagens publicadas pelo “the real Donald” no Truth Social, a fonte primária do Federal Register.


Não nos poupando a esforços para levar Trump aos amantíssimos leitores, descalçámos uma das estantes, cujo pé quebrado se apoiava, desde o século passado, num maiúsculo título: TRUMP THE ART OF THE DEAL, um livrinho dado à estampa no dia de todos os santos de 1987, com uma autoria modesta: Donald J. Trump com Tony Schwartz, só o primeiro com direito a fotografia na capa, à época em acastanhada e frondosa guedelha. Schwartz, fazendo jus à etimologia do patronímico, assumiu desde sempre o papel de escritor fantasma da obra, o que não a impediu de se alojar 48 semanas na lista de Best Sellers do New York Times.

O escrito é uma hagiografia não muito diferente de outras ficções auto-biográficas comissariadas por ricos e poderosos, numa espiral em que a fama alimenta a obra impressa e esta engorda a fama.

Tony Schwartz esforçou-se por identificar os elementos de um método Trump para a negociação, uma alternativa cómica ao método de Harvard. Como se escrevia em Portugal, quando  ainda havia leitores de folhas impressas: não desfazendo, aqui ficam os elementos essenciais da “arte do negócio”, tal como atribuída a Donald:

 “The worst thing you can possibly do in a deal is seem desperate to make it. That makes the other guy smell blood, and then you’re dead. The best thing you can do is deal from strength, and leverage is the biggest strength you can have. Leverage is having something the other guy wants. Or better yet, needs. Or best of all, simply can’t do without.” (pp. 41)      

Considerando a abordagem de Trump ao conflito entre a Federação Russa e a Ucrânia, somos levados a crer que Putin tem uma edição anotada pela sua mão do livrinho de Trump,  com abundância de pometki. Resta-nos esperar que a biblioteca de Putin tenha, se possível no todo, o mesmo destino da biblioteca de Estaline que, em parte, chegou aos dias de hoje com a marginália  burilada pelo paizinho dos povos.

 “The final key to the way I promote is bravado. I play to people’s fantasies. People may not think big themselves, but they can still get very excited by those who do. That’s why a little hyperbole never hurts. People want to believe that something is the biggest and the greatest and the most spectacular.

I call it truthful hyperbole. It is an innocent form of exaggeration – and a very effective form of promotion.” (pp. 43).

Segundo Donald só há uma antídoto para Trump, fornecido duas páginas depois:

 “You can’t con people, at least not for long. You can create excitement, you can do wonderful promotion and get all kinds of press, and you can throw a little hyperbole. But if you don’t deliver the goods, people will eventually catch on.” (pp. 45).

Para o leitor mais esperançado, fica a ênfase na palavra “eventually”. Trump sabe o que está a fazer e sabe que poderá ser, por fim, desmascarado. Mas o tempo do fim pode tardar. Felizmente, para os americanos e para o mundo, os Founding Fathers dotaram a Constituição de 1789 de mecanismos de prevenção da tirania, mesmo da que surge pela via democrática. As midterm elections renovam, cada dois anos, as duas câmaras do Congresso. Em Novembro de 2026 a democracia remediará os excessos cometidos em seu nome. Eventually.

Donald, o negociador


O mundo encheu-se de trumpistas, especialistas em donaldices, intérpretes dos desígnios do homem mais poderoso do mundo, adivinhos de sentidos ocultos nas mensagens publicadas pelo “the real Donald” no Truth Social, a fonte primária do Federal Register.


Não nos poupando a esforços para levar Trump aos amantíssimos leitores, descalçámos uma das estantes, cujo pé quebrado se apoiava, desde o século passado, num maiúsculo título: TRUMP THE ART OF THE DEAL, um livrinho dado à estampa no dia de todos os santos de 1987, com uma autoria modesta: Donald J. Trump com Tony Schwartz, só o primeiro com direito a fotografia na capa, à época em acastanhada e frondosa guedelha. Schwartz, fazendo jus à etimologia do patronímico, assumiu desde sempre o papel de escritor fantasma da obra, o que não a impediu de se alojar 48 semanas na lista de Best Sellers do New York Times.

O escrito é uma hagiografia não muito diferente de outras ficções auto-biográficas comissariadas por ricos e poderosos, numa espiral em que a fama alimenta a obra impressa e esta engorda a fama.

Tony Schwartz esforçou-se por identificar os elementos de um método Trump para a negociação, uma alternativa cómica ao método de Harvard. Como se escrevia em Portugal, quando  ainda havia leitores de folhas impressas: não desfazendo, aqui ficam os elementos essenciais da “arte do negócio”, tal como atribuída a Donald:

 “The worst thing you can possibly do in a deal is seem desperate to make it. That makes the other guy smell blood, and then you’re dead. The best thing you can do is deal from strength, and leverage is the biggest strength you can have. Leverage is having something the other guy wants. Or better yet, needs. Or best of all, simply can’t do without.” (pp. 41)      

Considerando a abordagem de Trump ao conflito entre a Federação Russa e a Ucrânia, somos levados a crer que Putin tem uma edição anotada pela sua mão do livrinho de Trump,  com abundância de pometki. Resta-nos esperar que a biblioteca de Putin tenha, se possível no todo, o mesmo destino da biblioteca de Estaline que, em parte, chegou aos dias de hoje com a marginália  burilada pelo paizinho dos povos.

 “The final key to the way I promote is bravado. I play to people’s fantasies. People may not think big themselves, but they can still get very excited by those who do. That’s why a little hyperbole never hurts. People want to believe that something is the biggest and the greatest and the most spectacular.

I call it truthful hyperbole. It is an innocent form of exaggeration – and a very effective form of promotion.” (pp. 43).

Segundo Donald só há uma antídoto para Trump, fornecido duas páginas depois:

 “You can’t con people, at least not for long. You can create excitement, you can do wonderful promotion and get all kinds of press, and you can throw a little hyperbole. But if you don’t deliver the goods, people will eventually catch on.” (pp. 45).

Para o leitor mais esperançado, fica a ênfase na palavra “eventually”. Trump sabe o que está a fazer e sabe que poderá ser, por fim, desmascarado. Mas o tempo do fim pode tardar. Felizmente, para os americanos e para o mundo, os Founding Fathers dotaram a Constituição de 1789 de mecanismos de prevenção da tirania, mesmo da que surge pela via democrática. As midterm elections renovam, cada dois anos, as duas câmaras do Congresso. Em Novembro de 2026 a democracia remediará os excessos cometidos em seu nome. Eventually.