Caro leitor,
Na edição em que começo esta minha aventura no i, escolhemos como tema central um assunto que tem gerado preocupações para os pais e múltiplos debates entre especialistas: os efeitos que o uso das redes sociais estão a ter nas nossas crianças.
Apesar de parecer que existem há uma eternidade, as redes sociais são um fenómeno relativamente recente cujos efeitos só agora começam a ser realmente estudados – e sentidos. Quando surgiu, em 2004, o Facebook foi criado como um site onde universitários americanos procuravam conhecer raparigas no respetivo campus. O crescimento da rede foi tão inesperado que acabou por surpreender o próprio criador. Das universidades espalhou-se à sociedade americana e daí ao mundo. Como todas as novas ferramentas, passou por um período de estado de graça. Era uma forma simples de comunicar com amigos e família, tornou-se um local de reunião onde se reencontravam amizades há muito perdidas, um espaço onde era também possível combater a solidão.
Como contamos nesta edição, muitas outras redes sociais lhe seguiram. Umas de relacionamentos, outras de partilha de imagens, algumas de trabalho. Quase todas se tornaram empresas milionárias onde é possível fazer de tudo um pouco, potenciadas pela evolução tecnológica dos smartphones que permitiram que tivéssemos o mundo na palma das mãos. E se no início eram apenas os adultos a usar estas ferramentas, na última década elas disseminaram-se por crianças que começam a usá-las cada vez mais cedo. Crianças demasiado jovens para estarem preparadas para o que as rodeia quanto mais para conhecerem o que o mundo lhes pode dar – ou tirar. São elas, hoje adolescentes e jovens adultos – porque foram as primeiras a crescer rodeadas deste mundo virtual – que mais estão a sentir os efeitos perniciosos das redes. É uma ironia. O seu uso excessivo provoca efeitos contrários aos pretendidos quando elas foram criadas: isolamento dos que estão fisicamente próximos, ansiedade pelo que podem estar a perder, depressão pelo que acham que é real e não é.
Os efeitos indevidos das novas tecnologias não são um exclusivo das redes sociais. Não há nada que tenha sido inventado que não possa ter consequências nefastas. Mas importa compreender esses efeitos, regulamentar o seu uso, dar ferramentas aos adultos para que saibam lidar com o fenómeno e proteger aqueles que são mais vulneráveis.