Presidente dá o seu aumento a Arnóia e Ventura a Matosinhos

Presidente dá o seu aumento a Arnóia e Ventura a Matosinhos


Marcelo Rebelo de Sousa aprovou o descongelamento de 5% dos ordenados dos políticos, que vinha do tempo da troika, mas os 650 euros que recebe a mais são entregues à Santa Casa da Misericórdia de São Bento de Arnóia, Celorico de Basto.


Na altura, novembro de 2024, o Governo aprovou o aumento de 5% dos ordenados do Presidente da República, do Governo, dos deputados, autarcas e outros responsáveis da administração pública, e Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se contra a ideia, mas disse que não chumbaria o Orçamento por causa desse ponto. «Trata-se de um ponto no meio de um Orçamento, mas teria preferido que fosse aplicável só aos mandatos futuros dos titulares de cargos políticos e não já aos mandatos em curso», explicou então. Agora, confrontado pelo Nascer do SOL, Marcelo reconhece que nunca usufruiu um cêntimo desse aumento e que todos os meses chegam à Santa Casa da Misericórdia de São Bento de Arnóia, Celorico de Basto, os respetivos 650 euros. Salientando que preferia não fazer publicidade do seu gesto, acabou por explicar a razão de ter escolhido a instituição de Arnóia. «Nessas entidades muito pequenas, as cotizações são muito pequenas, e o meu contributo dá-lhes jeito. Mas não me meto na área da gestão. Já fui dirigente e agora sou irmão ou associado, como se chama. Dou aquilo que recebo a mais, que são 650 euros, até ao fim do meu mandato, em 9 de março, de 2026».

Com raízes familiares em Celorico de Basto – de onde era natural a sua avó paterna – e onde exerce o seu direito de voto sempre que há eleições, Marcelo pensou antes de se decidir pela Santa Casa da Misericórdia de Arnóia: «Estive a pensar onde é que havia de ser? Tem mais importância num centro pequeno, num município pequeno, do que propriamente em Lisboa. Acho preferível a dar à escola ou liceu onde fui aluno».

O Presidente da República também é conhecido pelo seu lado altruísta e são muitas as pessoas que ajuda. Em Cascais, onde vive, não faltam histórias de pessoas que Marcelo tem apoiado financeiramente, assim como no meio académico. «Ajudei alunos ao longo da vida e continuo a ajudar, e sou associado nem imagina de quantas instituições, porque já era de muitas, e agora como Presidente da República sou associado de muitas e muitas instituições de solidariedade social».

A toque de caixa no Chega

Se Marcelo disse aceitar a lei, e o respetivo aumento de 5% – «se a lei estiver em vigor, respeito a lei», disse então –, André Ventura, líder do Chega, logo fez questão de recusar o aumento, exigindo a todos os deputados da sua bancada parlamentar que o seguissem no gesto. Acusado de populista, o líder do Chega mostrou-se indiferente e levou a sua avante. «Os meus 5% vão todos os meses para a a Kastelo, Associação no Meio do Nada, que visitei duas vezes e me deixou muito impressionado», conta ao nosso jornal. A Kastelo tem uma Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos para crianças dos zero aos dezoito anos, como se pode ler no site da instituição.

Segundo os dados facultados pelo Chega, todos os deputados são ‘obrigados’ a doar o aumento, na ordem dos 119 euros, a uma instituição de caridade, e não têm grandes hipóteses de fugir à regra, pois os donativos são ‘enviados’ pelo próprio partido. Na lista fornecida, o organismo que recebe mais dinheiro dos deputados do partido são a Associação Apoio à Vida, nove doações, seguida da Kastelo, cinco. Para quem tenha a imagem de que o Chega não gosta de animais, pode ficar surpreendido com os três ‘donativos’ para a Associação os Amigos dos Animais de Almada – uma das deputadas ‘contribuintes’ é Cristina Rodrigues. A Associação Refúgio Aboim Ascensão, no Algarve, também tem três ‘amigos’ do Chega. Depois, seguindo a lista fornecida, percebe-se que alguns deputados dão os 119 euros a instituições com alguma proximidade geográfica, como sejam os Bombeiros de Cabo Ruivo ou o Centro Social Paroquial de Baguim.

Com a nova legislatura à vista, André Ventura garante ao nosso jornal que os futuros deputados não poderão usufruir dos 5%. «Enquanto for eu a mandar no Chega vamos abdicar do aumento».

Mas qual a razão para esse gesto tão conotado com o populismo? Ventura responde: «Enquanto não estiverem repostos todos os cortes que foram feito no tempo da troika, em matéria de indemnizações, e de direitos sociais, nós não devemos ter esse aumento». Certo é que todos recebem no seu vencimento o aumento, sendo depois obrigados a ‘cedê-lo’, alguns a contragosto, a instituições de caridade.