Miguel Albuquerque. “Em Câmara de Lobos passou para a tela as cores da terra e do mar”

Miguel Albuquerque. “Em Câmara de Lobos passou para a tela as cores da terra e do mar”


O presidente do Governo Regional da Madeira recorda a passagem de Churchill pela ilha. Miguel Albuquerque tem um livro publicado sobre a visita do estadista.


A 10 de maio de 1940 – já com a Polónia, a Dinamarca e a Noruega sob o domínio do III Reich –, a Alemanha invade a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo e a França.

O Luxemburgo cai de imediato, a Holanda rende-se ao quarto dia, a Bélgica em duas semanas e a França capitula em menos de seis.

Todos conhecemos, pelos relatos e retratos vívidos da História, o terror, o horror, a barbárie, a vida sob o jugo do invasor e, sobretudo o que estava em causa na Europa da primeira metade do século XX.

A resiliência, a visão clara e o apontar do caminho de um homem, Winston Churchill, defensor da tradição europeia e ocidental da liberdade sob a lei, que passara a década anterior ao início da guerra a advertir, de forma incessante, para o perigo que Hitler representava para a paz, ganharam inequivocamente forma a 13 de maio de 1940, perante a Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, apenas três dias depois da sua nomeação, por Jorge VI, como primeiro-ministro britânico, na sequência da demissão de Neville Chamberlain.

Ou seja, a indicação surge no preciso dia em que as forças nazis irromperam pelas Ardenas, sem grande resistência das forças francesas, belgas e do corpo expedicionário britânico, evacuado à pressa, através de Dunquerque.

«Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento.

Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei: fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. Essa é a nossa política.

Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos.”

Primeiro discurso de Winston Churchill, na qualidade de primeiro-ministro, na Câmara dos Comuns, a 13 de maio de 1940

Com o líder da resistência europeia, a quem todos devemos a liberdade, os britânicos, por mérito da Royal Air Force, resistiram aos assaltos aéreos e aos bombardeamentos alemães, levando Hitler a abandonar, em outubro de 1940, os planos para a invasão da Grã-Bretanha e impondo à Alemanha uma primeira e significativa derrota desde o início do conflito.

Entre a vitória na Batalha de Inglaterra e dezembro de 1941, – entrada dos EUA no conflito – os britânicos continuaram a resistir sozinhos.

Em maio de 1942 deram início à campanha de bombardeamentos de cidades alemãs, que se prolongaria até maio de 1945, reduzindo-as a escombros.

E foi igualmente a Grã-Bretanha ponto de partida para o desembarque das forças aliadas – sobretudo britânicos, norte-americanos e canadianos – no norte de França, numa operação militar decisiva, que mudaria, em definitivo, o rumo dos acontecimentos, até à vitória dos Aliados e ao fim da II Guerra Mundial.

Ao final da tarde do dia 1 de janeiro de 1950 – os ponteiros da torre sineira da catedral Manuelina cruzavam as 19 horas – o homem, cujo espírito inquebrável, moldou o sentimento e a vontade de toda uma Nação, tornando-a coesa e fortalecida na sua hora de perigo, foi recebido sob ovação e entusiástica alegria por uma multidão de Madeirenses e britânicos, residentes na ilha, espontaneamente reunidos ao longo do Cais da Cidade e da Avenida do Mar, no Funchal.

Ovação e alegria que evidencia o enorme respeito e reconhecimento pelo homem que fora o intérprete dos sentimentos de liberdade, não só do Império Britânico, mas do mundo.

Winston Churchill iniciou naquele memorável primeiro de janeiro de 1950 uma estada na Madeira, que viria a ser encurtada pelos acontecimentos – a antecipação das eleições gerais para 23 de fevereiro daquele ano. Percorreu a ilha, demorando-se sobre as suas paisagens, especialmente em Câmara de Lobos, onde passou para a tela as cores da terra e do mar.

Manifestaria, na hora da partida, grande entusiasmo por ter estado na ilha, confessando ainda o desejo de um regresso à terra que tanto o encantara.

Presidente do Governo Regional da Madeira