Sempre gostei muito desta época do ano. Traz-me à memória os tempos que percorreram a minha infância, distribuídos entre a ansiedade de abrir os presentes e a reunião da família. Das famílias. No dia 24 era hábito juntarmo-nos por volta das 19h em casa da minha bisavó materna e era aí que se iniciavam os festejos. Uma mesa que ocupava a sala inteira e que contornava as vigas da casa enchia-se com os adultos de um lado e as crianças do outro. Pais, avós, tios, primos, filhos, netos. Na cozinha preparava-se em grandes panelas de alumínio o bacalhau cozido com todos. Ovo cozido, couve, cenoura, batata e uns anos mais tarde o grão. Enquanto se esperava pelo jantar, a broa de Avintes servia de acompanhamento a tantas conversas que se estabeleciam entre piadas repetidas até à exaustão ano após ano. No final, era a vez das sobremesas, trazidas pelas diferentes famílias e a tão esperada troca de presentes, quando o relógio imponente de pé alto marcava as 22h30. Por volta das 23h e pouco uns seguiam caminho para outra vizinhança e nós para casa dos meus avós paternos.
Aí chegados e depois de subirmos a longa escadaria que nos levava até ao piso onde viviam, esperava-nos uma farta mesa de doces e peru para a ceia. Lá ao fundo, atrás dos sofás umas cestas de verga, organizadas por idades, com os presentes, alguns deles meio amassados, depois de nos dias anteriores termos tentado decifrá-los no sótão do meu avô, através de apalpadelas tão delicadas que mal deixavam marcas (pelo menos para nós). Lembro-me das bolinhas de chocolate com amêndoa que gostava especialmente e que eram feitas pela Avó Bina (avó dos meus primos ) mas também as belhoses de abóbora da minha Avó Julita. O serão era passado à lareira, nós os mais novos, entretidos com os mais recentes brinquedos que nos tinham oferecido, os mais velhos dividiam-se entre conversas à mesa e os filmes que eram especialmente acolhidos por quem se gostava de sentar no sofá a “passar pelas brasas”. Depois regressávamos a casa e ainda ficávamos os 4 (o meu pai, a minha mãe, a minha irmã e eu) em família, de volta da árvore de Natal que para além dos enfeites tinha sempre umas bolas e “pais natais” de chocolate que eu ia roubando ao longo da semana até sobrarem só os fios que os seguravam aos ramos.
No dia seguinte, o 25, íamos à missa e depois almoçávamos em casa da minha avó paterna. Este ano o meu Natal será um pouco diferente, devido à saúde da minha avó Alice que a impede de estar junto a nós nesta época festiva. Será por isso um dia mais apreensivo mesmo com a alegria contagiante das crianças à nossa volta. Não deixo no entanto de vos desejar um Feliz Natal, sejam pais, filhos, netos ou sobrinhos, aproveitem a família ou os amigos e contagiem quem está à vossa volta para que no final do dia possam proporcionar aos vossos o que os meus sempre me proporcionaram. Felicidade, paz, amor e alegria. E não se esqueçam, juntos, valemos mais.