Homens que atacaram motorista da Carris têm cadastro

Homens que atacaram motorista da Carris têm cadastro


Agora, os atacantes encontram-se novamente detidos em Lisboa.


Os dois suspeitos do ataque ao motorista da Carris, ocorrido durante os tumultos na região de Lisboa na sequência da morte de Odair Moniz, voltaram a ser colocados em prisão preventiva. Segundo informações da SIC Notícias, os detidos, Wilson Tavares Mendes, de 22 anos, e Pedro Daniel Quadros, de 23, já haviam sido acusados de envolvimento num sequestro em Viana do Castelo, no início de 2023, pelo qual estiveram presos preventivamente entre fevereiro e abril.

Considerados alegados membros de um grupo criminoso suspeito de diversos assaltos, os dois negaram os crimes de tentativa de homicídio qualificado, incêndio e dano relacionados com o ataque ao motorista. Contudo, não convenceram o juiz e encontram-se novamente detidos em Lisboa.

O motorista atacado, que foi atingido por cocktails molotov enquanto trabalhava, afirmou sentir-se “satisfeito e aliviado” com a decisão judicial.

Em entrevista à TVI, o motorista relatou os momentos aterrorizantes vividos na noite de 24 de outubro. “Começam a enviar cocktails molotov para cima de mim. Sinto logo que fica um cheiro de combustível. Foi só um indivíduo dar faísca e eu começo a pegar fogo. A chama foi toda ao meu encontro”, descreveu.

O trabalhador, que pediu aos agressores que o deixassem sair do autocarro antes de o incendiarem, lamentou que o pedido tenha sido ignorado: “Porque é que não me deixaram sair e pegavam fogo ao autocarro? Eu pedi para me deixarem sair”.

Apesar das queimaduras graves, conseguiu apanhar o telemóvel com a mão esquerda, já em chamas, e fugir do veículo. “Na rua, comecei a correr e a gritar por uma ambulância, enquanto apagava o fogo da cara e da cabeça com a mão direita. Tanto que olho para a mão e a pele, literalmente, saiu toda. Ficou em carne viva”, recordou.

Sozinho numa rua sem saída, o motorista caminhou cerca de 150 metros até à ambulância, já “mais para lá do que para cá”. Foi induzido em coma logo no local e só recuperou a consciência uma semana depois.

Agora em recuperação, o motorista enfrenta um longo processo de cicatrização. Ficou com lesões graves nas mãos e tornozelos e ainda realiza exames para avaliar possíveis danos nos pulmões. “Olho para as minhas mãos e não gosto, não tenho paciência porque é uma recuperação lenta. Tenho muitas dores, tanto com frio como com sol. Marcaram-me sem motivo aparente”, lamentou.

Apesar do desejo de voltar ao trabalho, admite que o trauma permanecerá para sempre. “Estava no dia errado à hora errada. Não faço mal a ninguém. Tenho o meu pai com Alzheimer, ajudo sempre o próximo e aconteceu-me a mim, não sei porquê.”

Quanto aos autores do ataque, o motorista é firme: “Estas pessoas têm de ser presas e pagar pelo que fizeram. Isto vai ser um marco para a minha vida toda.”

Questionado se um dia conseguirá perdoar, foi categórico: “Não aceitaria um pedido de desculpas. Isto não se faz a ninguém. Ainda por cima a uma pessoa que está a trabalhar, a fazer o seu trabalho. Isto não tem desculpa. Foi o pior momento da minha vida, garantidamente. Vi a minha vida a fugir. Tive o instinto de sobrevivência. Hoje pergunto-me como consegui.”

Recorde-se que o ataque aconteceu durante uma onda de violência que tomou conta de bairros da Grande Lisboa após a morte de Odair Moniz, de 43 anos, baleado por um agente da PSP no bairro da Cova da Moura, na madrugada de 21 de outubro.

Os dias seguintes foram marcados por distúrbios, com incêndios a autocarros, automóveis e contentores. Contudo, o ataque ao motorista é considerado o mais grave entre os incidentes investigados pelas autoridades.