Chuva de candidatos a Belém

Chuva de candidatos a Belém


Gouveia e Melo leva PS e PSD a ajustar opções. PS vira-se para Seguro e no PSD são cada vez mais os que querem uma alternativa a Marques Mendes.


A última semana foi fértil no lançamento de pré-candidaturas a Belém. Apesar de a data para a eleição do sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa ainda estar a mais de um ano de distância, quem aterrasse nos últimos dias em Portugal e não soubesse o calendário, poderia facilmente convencer-se que as eleições seriam já daqui a poucos meses.

A chuva de nomes a posicionarem-se na corrida presidencial surge como reação à cada vez mais certa candidatura de Gouveia e Melo. O facto de se ter iniciado esta semana o período de substituição do almirante como Chefe de Estado Maior da Armada (CEMA), depois de o próprio ter feito saber ao Governo que não estava interessado em ser reconduzido, foi o sinal que todos esperavam para ter a certeza de que a candidatura a Belém vai mesmo ser uma realidade.

Preocupados com uma candidatura que até ao momento surge consistentemente à frente em todas as sondagens, os partidos procuram soluções para além das que já estavam no terreno: Mário Centeno, à esquerda, e Marques Mendes, à direita. PS e PSD multiplicam os nomes de possíveis candidatos.

Ao nome de Mário Centeno, juntam-se agora os de António José Seguro (que esta quinta-feira se estreou no comentário televisivo com uma prestação de vinte minutos na CNN) e de António Vitorino que, numa entrevista recente à RTP, não excluiu a hipótese de uma candidatura.

Do lado do PSD volta a falar-se de Passos Coelho – mas Miguel Morgado já fez saber que Passos não está interessado -, enquanto Pedro Santana Lopes diz que continua disponível se as circunstância (sondagens) forem favoráveis. Já esta semana, depois do discurso do 25 de Novembro, Aguiar Branco surgiu em força como possibilidade.

PSD procura alternativa a Marques Mendes
É dentro do PSD que a preocupação em encontrar um candidato presidencial forte mais se faz sentir.

Embora ninguém o assuma de viva voz, é consensual que Marques Mendes não é o candidato de que o partido precisa. Os receios de muitos sociais-democratas não têm só a ver com os fracos resultados que vão surgindo nas sondagens: são muitos os que consideram que o ex líder não tem currículo para se candidatar a Belém e que referem que «ser comentador de televisão não é currículo, por mais audiências que tenha».

Várias vozes do partido ouvidas esta semana pelo Nascer do SOL afinam por um mesmo diapasão: as pessoas querem um anti-Marcelo e o tempo da escolha de um comentador televisivo já lá vai. Preocupados com o facto de a direção de Luís Montenegro não ter um plano B a Marques Mendes, depois de se ter comprometido em encontrar um militante do partido para as presidenciais, várias figuras do partido estão a movimentar-se para encontrar um nome que encaixe no perfil definido na moção aprovada em congresso, mas que tenha mais hipóteses de se bater com Gouveia e Melo e com uma candidatura à esquerda, que possa disputar votos ao centro e centro-direita, como acreditam ser o caso de António José Seguro.

O problema está mesmo em encontrar um nome que tenha força para se impor como alternativa a uma candidatura que está há muito tempo no terreno. «O partido deixou-se encurralar ao definir critérios muito apertados, sabendo que só tinha um nome no terreno», desabafou ao nosso jornal um deputado do PSD. Agora, diz este deputado, «é muito difícil encontrar um candidato competitivo».

Marcelo aflito com sucessão
O Presidente da República foi um dos que mais se esforçaram nos últimos meses para evitar a candidatura de Gouveia e Melo. Ao longo do tempo, Marcelo Rebelo de Sousa foi pressionando o Governo para que preparasse a recondução do almirante como CEMA.

Nas conversas que foi mantendo com Montenegro e Nuno Melo, ministro da Defesa, chegou mesmo a falar-se das condições que poderiam tornar mais difícil ao almirante a recusa de um novo mandato à frente da Marinha. Não foi por acaso que surgiram notícias sobre a aquisição de equipamento que poderia condicionar a decisão de Gouveia e Melo, notícias que o próprio foi fazendo questão de desmentir.

Os esforços de Belém acabaram por não dar resultado e Gouveia e Melo esclareceu, à beira do fim do mandato, que não pretende manter-se à frente da Marinha portuguesa. Diante da hipótese que o Presidente já dá como certa, de uma candidatura a Belém, Marcelo começou a fazer contas e terá chegado, também ele, à conclusão de que Marques Mendes não é o homem certo para ir a votos pelo PSD. Fonte da presidência garantiu esta semana ao nosso jornal que o Presidente se junta agora aos muitos sociais-democratas que procuram um nome forte para se candidatar a Belém. Teme-se «uma sangria no eleitorado do PSD» caso o partido não encontre uma candidatura forte. O Presidente acredita que Gouveia e Melo pode ir buscar muitos votos tradicionais ao partido, além de votos seguros de outros setores da direita.

A nossa fonte dá conta de que o Presidente não é alheio ao facto de apoiantes da candidatura de Gouveia e Melo terem iniciado contactos com figuras do partido e até de autarcas do PSD, procurando apoios para uma candidatura «suprapartidária». Muitos desses contactos terão dado fruto, diz a nossa fonte, «porque o partido não está contente com a provável candidatura de Marques Mendes». É face a este cenário que Marcelo Rebelo de Sousa, que não vê com bons olhos a candidatura de um militar, começou a dar-se conta da urgência de encontrar um outro candidato.

Aguiar Branco, a terceira via
«É uma espécie de repetição do episódio da troca de Biden por Kamala, nas presidenciais dos Estados Unidos», comentou um notável do PSD esta semana ao Nascer do SOL. Para este social-democrata, «se o PSD quer livrar-se de um mau resultado, não pode deixar arrastar-se esta ideia de que o seu candidato é Marques Mendes».

Uma outra fonte partidária conta-nos que o próprio Marques Mendes estará a fazer contas e «tem terror de não chegar à segunda volta».

É neste contexto de procura de uma alternativa ao nome do ex-líder do PSD, que esta semana surgiu com alguma frequência o nome de Aguiar Branco como possível candidato. O discurso do atual Presidente da Assembleia da República (PAR) nas comemorações do 25 de Novembro gerou entusiasmo, «pelo sentido de Estado e equilíbrio que revelou», assinala um deputado da bancada laranja.

Aguiar Branco termina o seu mandato como PAR em março/abril do próximo ano, mesmo a tempo de poder assumir uma candidatura presidencial. O facto de ser neste momento a segunda figura do Estado, com grande visibilidade no país, e de ter também um currículo político que o posiciona como presidenciável, dá esperança a alguns setores do partido para que possa ser candidato. «São cada vez mais os que falam nisso», dizem-nos. Esta semana foi o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, quem deu voz a essa possibilidade: «Aguiar Branco tem currículo e um passado no PSD, desde o tempo de Sá Carneiro que o posiciona para isso», afirmou.

Do lado do próprio Aguiar Branco, persiste o tabu. Questionado esta semana sobre essa possibilidade, o PAR disse que não era ainda o momento de estar a falar sobre presidenciais, ao mesmo tempo que afastou por completo a hipótese de ser candidato à Câmara do Porto. «Não foi por acaso», diz-nos um deputado que apreciou o facto do Presidente do Parlamento não ter afastado a ideia.

«Ele gostaria, e nunca diria que não a aceitar esse desafio». Apesar de o nome do PAR não ter ainda sido testado em sondagens, a ideia de uma candidatura logo após deixar as funções parlamentares agrada a muitos sociais-democratas.

Mesmo sabendo que Aguiar Branco provavelmente não venceria as eleições, o que os adeptos desta opção defendem é que «tem outro peso o partido apresentar como candidato o homem que ocupou o segundo lugar na hierarquia dos Estado».

No fundo, os defensores de uma terceira via para uma candidatura presidencial do PSD querem encontrar um nome que seja uma referência do partido, «um Ferreira do Amaral dois».

Ferreira do Amaral foi o candidato escolhido por Durão Barroso para concorrer às eleições de 2001, quando Jorge Sampaio se candidatou ao segundo mandato. Nessa altura, o líder do PSD achou indispensável apresentar um candidato alternativo a Sampaio, mesmo sabendo que havia poucas ou nenhumas hipóteses de vitória. Convidou Augusto Ferreira do Amaral, um notável do partido que tinha sido ministro de Cavaco Silva.