O que esperar da economia após vitória de Trump

O que esperar da economia após vitória de Trump


Uma política protecionista da economia americana poderá levar a Europa a tremer


O mercado disparou com a notícia de que Donald Trump tinha vencido as eleições. O dólar subiu e os índices de ações americanos também, chegando a atingir máximos históricos e com olhos postos nas previsões incluídas no programa eleitoral do candidato vencedor. Vítor Madeira, analista XTB, acredita que «a redução de impostos poderá ser mais benéfica para o crescimento económico, tendo uma influência económica superior a curto prazo». 

Já Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, acena com o facto de Trump ter prometido manter e expandir as reduções fiscais de 2017 (Tax Cuts and Jobs Act), reduzindo ainda mais as taxas às empresas para entre 15% e 20%. Já em relação ao comércio internacional, propõe uma política de aumentos das tarifas, incluindo uma tarifa geral de 10% sobre as importações e taxas até 60% para produtos chineses. Uma estratégia que «pode fazer subir os preços de bens de consumo», salientou ao nosso jornal.

Por outro lado, em matéria de habitação e, ao contrário da candidata derrotada, Trump não promove controlos de preços, mas apoia créditos fiscais que incentivem o desenvolvimento habitacional. E defende ainda um crédito único de cinco mil dólares por criança. «Esse apoio poderia ajudar na diminuição da pobreza infantil, sobretudo entre as famílias de baixos rendimentos, mas também implica desafios de financiamento que poderiam agravar ainda mais o défice orçamental norte-americano, especialmente a longo prazo», salienta o economista.

Paulo Monteiro Rosa reconhece, ainda assim, que uma das dores de cabeça estará relacionada com as contas públicas: os EUA continuam a ter elevados défices orçamentais, acima de 6% do PIB nominal. «O rácio da dívida pública face ao PIB nominal é de 122%. No entanto, o resiliente crescimento económico nominal, atualmente à volta de 5,5%, ainda consegue absorver grande parte do atual défice de 6,3%. É historicamente raro um défice tão elevado em tempos de expansão económica», acrescentando que, «o Governo continuará a ter défices orçamentais elevados. Pelo menos, a despesa associada a uma população cada vez mais envelhecida, e respetivos cuidados de saúde, e os crescentes custos com o serviço da dívida (juros) tornam quase inevitáveis os défices fiscais à volta dos 5 ou 6%».

E alerta: «Uma eventual desaceleração da economia, ou mesmo recessão, impulsionariam significativamente o défice orçamental talvez acima dos 10%, com menores receitas e mais despesas impulsionadas pelos estabilizadores automáticos».

E a Europa?

A economia europeia esteve sempre ligada à economia americana. No entanto, o analista da XTB nota que os EUA têm alterado a sua visão, defendendo uma postura autossuficiente em relação a outras forças. E que esta visão poderá aprofundar-se com a vitória de Donald Trump, «que tem um desejo de protecionismo da economia dos EUA, assim a implementação de tarifas às importações pode ter um impacto negativo nas exportações de outros países, afetando assim a economia europeia, quer de forma direta ou indireta». E acrescenta: «Quando a economia norte-americana se encontra numa fase de expansão, o efeito tem sido benéfico para a economia europeia, portanto políticas de redução fiscal nos EUA poderiam ter um impacto indireto positivo na economia europeia», mas refere que «dada a fraqueza demonstrada nos últimos tempos pela economia europeia, o desfecho do resultado continua muito ambíguo».