Preparados para um tsunami?


Relembrar os sismos e tsunamis do passado não é suficiente para reduzir o impacto destes fenómenos no futuro. É essencial agir.


Nos últimos anos, os estudos de avaliação do risco de ocorrência de tsunamis têm recebido mais atenção a nível global, especialmente após os desastres ocorridos no Oceano Índico em 2004 e no Japão em 2011. Esses eventos resultaram na perda de 230.000 e 18.500 vidas, respetivamente, e causaram danos financeiros estimados em 10 mil milhões de dólares e 220 mil milhões de dólares. Tais tragédias realçaram a necessidade urgente de melhorar as estratégias de preparação e mitigação para tsunamis.

Portugal, com o seu conhecido risco sísmico e com uma faixa costeira considerada de alto risco para a ocorrência de tsunamis, especialmente na região do Algarve, deve manter-se alerta e preparado. Um sismo de magnitude 8.7, como o de 1755, poderá gerar ondas que atingem o litoral Algarvio em 25-30 minutos – uma massa de água que pode ultrapassar os 10 metros de altura. Em face disso, é crucial que tanto residentes como os visitantes conheçam estratégias de evacuação eficazes, que possam ser rapidamente executadas, com vista a reduzir ao máximo o número de vítimas.

Nesse contexto, integro uma equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico / CERIS – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, com Carlos Sousa Oliveira e Rafael Francisco, que se tem dedicado ao planeamento de rotas de evacuação em caso de tsunami, para diversos municípios do Algarve, estando já concluídos os estudos para Portimão e Loulé. Para tal é necessário antecipar se existem obstáculos, como escombros resultantes de um sismo precedente ao tsunami, que poderiam bloquear os corredores de evacuação e tornar inacessíveis as zonas designadas como seguras. Deste modo, realiza-se uma análise do risco sísmico das áreas de estudo, tendo em conta as características do parque edificado; identificam-se as áreas que correm maior risco de serem inundadas pelo tsunami e, posteriormente, definem-se as estratégias de evacuação e os percursos que a população pode utilizar para alcançar os locais seguros, afastados da costa. Um planeamento eficaz exige a colaboração com as equipas técnicas municipais, especialmente com os Serviços Municipais de Proteção Civil e os Departamentos de Urbanismo, cujas contribuições são fundamentais para adaptar as estratégias às especificidades locais.

Os mapas resultantes, que delimitam os corredores de evacuação e zonas seguras, são ferramentas essenciais para que tanto residentes como visitantes compreendam os riscos associados a áreas costeiras. Esses mapas promovem não só a consciencialização da população, como fornecem informação relevante para a gestão e planeamento do território. Por exemplo, permitem recomendar a relocalização ou mudança de uso de equipamentos coletivos – como escolas, quartéis de bombeiros e hospitais – localizados em áreas suscetíveis à inundação por tsunami. Além disso, é possível propor que determinados edifícios, se resistirem ao sismo, possam servir como abrigos verticais, oferecendo um refúgio seguro em situações de emergência. São assim fornecidas as ferramentas para que os decisores possam incorporar essas recomendações nos seus objetivos estratégicos, e os gestores de emergência possam fornecer a melhor divulgação e sensibilização à comunidade sobre os riscos. Os mapas ficam disponíveis ao público e em alguns concelhos do Algarve – e do país – estão a ser implementadas sirenes para emitir alertas de tsunami para a população pelas autoridades competentes.

O envolvimento da equipa do Técnico nestes trabalhos deve-se à experiência tanto nas áreas de avaliação e redução do risco sísmico e de tsunamis, contribuindo para o apoio à decisão nos domínios do ordenamento do território e urbanismo, assim como na área da educação, comunicação e sensibilização do risco para a população. A multidisciplinaridade permite ter uma visão global e integral, tanto no diagnóstico como nas soluções apresentadas.

No próximo dia 1 de novembro assinalam-se os 269 anos do sismo e tsunami que fustigaram o país em 1755. No dia 5 de novembro comemora-se o Dia Mundial de Sensibilização para o Risco de Tsunami, instituído pelas Nações Unidas, assim como é o dia do exercício nacional de sensibilização para o risco sísmico – “A Terra Treme”. Relembrar os sismos e tsunamis do passado não é suficiente para reduzir o impacto destes fenómenos no futuro. É essencial agir: tomar consciência do problema é o primeiro passo para implementar políticas públicas, programas e criar fundos que possibilitem o investimento em intervenções que aumentem a segurança sísmica das nossas edificações e infraestruturas críticas.

Atualmente, a perceção do risco de tsunami em Portugal é limitada – ou inexistente – entre residentes e turistas nas áreas costeiras, o que é preocupante, para um país que é um destino turístico e residencial de destaque internacional. A consciencialização é crucial para garantir a segurança da população, no entanto, é ainda urgente o compromisso de adotar uma estratégia nacional, que enquadre uma política de investimentos voltada para a redução dos riscos. Somente assim será possível evitar que comunidades e o desenvolvimento económico permaneçam altamente vulneráveis ao risco de desastres.

Investigadora do Instituto Superior Técnico / CERis – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade

Preparados para um tsunami?


Relembrar os sismos e tsunamis do passado não é suficiente para reduzir o impacto destes fenómenos no futuro. É essencial agir.


Nos últimos anos, os estudos de avaliação do risco de ocorrência de tsunamis têm recebido mais atenção a nível global, especialmente após os desastres ocorridos no Oceano Índico em 2004 e no Japão em 2011. Esses eventos resultaram na perda de 230.000 e 18.500 vidas, respetivamente, e causaram danos financeiros estimados em 10 mil milhões de dólares e 220 mil milhões de dólares. Tais tragédias realçaram a necessidade urgente de melhorar as estratégias de preparação e mitigação para tsunamis.

Portugal, com o seu conhecido risco sísmico e com uma faixa costeira considerada de alto risco para a ocorrência de tsunamis, especialmente na região do Algarve, deve manter-se alerta e preparado. Um sismo de magnitude 8.7, como o de 1755, poderá gerar ondas que atingem o litoral Algarvio em 25-30 minutos – uma massa de água que pode ultrapassar os 10 metros de altura. Em face disso, é crucial que tanto residentes como os visitantes conheçam estratégias de evacuação eficazes, que possam ser rapidamente executadas, com vista a reduzir ao máximo o número de vítimas.

Nesse contexto, integro uma equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico / CERIS – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, com Carlos Sousa Oliveira e Rafael Francisco, que se tem dedicado ao planeamento de rotas de evacuação em caso de tsunami, para diversos municípios do Algarve, estando já concluídos os estudos para Portimão e Loulé. Para tal é necessário antecipar se existem obstáculos, como escombros resultantes de um sismo precedente ao tsunami, que poderiam bloquear os corredores de evacuação e tornar inacessíveis as zonas designadas como seguras. Deste modo, realiza-se uma análise do risco sísmico das áreas de estudo, tendo em conta as características do parque edificado; identificam-se as áreas que correm maior risco de serem inundadas pelo tsunami e, posteriormente, definem-se as estratégias de evacuação e os percursos que a população pode utilizar para alcançar os locais seguros, afastados da costa. Um planeamento eficaz exige a colaboração com as equipas técnicas municipais, especialmente com os Serviços Municipais de Proteção Civil e os Departamentos de Urbanismo, cujas contribuições são fundamentais para adaptar as estratégias às especificidades locais.

Os mapas resultantes, que delimitam os corredores de evacuação e zonas seguras, são ferramentas essenciais para que tanto residentes como visitantes compreendam os riscos associados a áreas costeiras. Esses mapas promovem não só a consciencialização da população, como fornecem informação relevante para a gestão e planeamento do território. Por exemplo, permitem recomendar a relocalização ou mudança de uso de equipamentos coletivos – como escolas, quartéis de bombeiros e hospitais – localizados em áreas suscetíveis à inundação por tsunami. Além disso, é possível propor que determinados edifícios, se resistirem ao sismo, possam servir como abrigos verticais, oferecendo um refúgio seguro em situações de emergência. São assim fornecidas as ferramentas para que os decisores possam incorporar essas recomendações nos seus objetivos estratégicos, e os gestores de emergência possam fornecer a melhor divulgação e sensibilização à comunidade sobre os riscos. Os mapas ficam disponíveis ao público e em alguns concelhos do Algarve – e do país – estão a ser implementadas sirenes para emitir alertas de tsunami para a população pelas autoridades competentes.

O envolvimento da equipa do Técnico nestes trabalhos deve-se à experiência tanto nas áreas de avaliação e redução do risco sísmico e de tsunamis, contribuindo para o apoio à decisão nos domínios do ordenamento do território e urbanismo, assim como na área da educação, comunicação e sensibilização do risco para a população. A multidisciplinaridade permite ter uma visão global e integral, tanto no diagnóstico como nas soluções apresentadas.

No próximo dia 1 de novembro assinalam-se os 269 anos do sismo e tsunami que fustigaram o país em 1755. No dia 5 de novembro comemora-se o Dia Mundial de Sensibilização para o Risco de Tsunami, instituído pelas Nações Unidas, assim como é o dia do exercício nacional de sensibilização para o risco sísmico – “A Terra Treme”. Relembrar os sismos e tsunamis do passado não é suficiente para reduzir o impacto destes fenómenos no futuro. É essencial agir: tomar consciência do problema é o primeiro passo para implementar políticas públicas, programas e criar fundos que possibilitem o investimento em intervenções que aumentem a segurança sísmica das nossas edificações e infraestruturas críticas.

Atualmente, a perceção do risco de tsunami em Portugal é limitada – ou inexistente – entre residentes e turistas nas áreas costeiras, o que é preocupante, para um país que é um destino turístico e residencial de destaque internacional. A consciencialização é crucial para garantir a segurança da população, no entanto, é ainda urgente o compromisso de adotar uma estratégia nacional, que enquadre uma política de investimentos voltada para a redução dos riscos. Somente assim será possível evitar que comunidades e o desenvolvimento económico permaneçam altamente vulneráveis ao risco de desastres.

Investigadora do Instituto Superior Técnico / CERis – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade