Uma mulher de armas na frente de combate

Uma mulher de armas na frente de combate


Com o eclodir da II Guerra Mundial, Miller documentou o Blitz e forçou a sua ida para a frente de combate, como correspondente de guerra da Vogue de Londres.


Nos seus influentes Ensaios Sobre Fotografia, Susan Sontag comparou os disparos das máquinas fotográficas aos disparos de espingardas.

Com a diferença que os ‘caçadores’ de imagens conservavam, em vez de matarem, os objetos dos seus disparos. Uma analogia que se aplica como uma luva a Lee Miller (1907-1977) – modelo, fotógrafa, repórter de guerra e mulher de armas norte-americana cuja vida é retratada no filme Lee Miller – Na linha da frente, de Ellen Kuras, que acaba de se estrear nas salas portuguesas. 

Descoberta pelo magnata das revistas Condé Nast, Miller fez carreira como modelo na América, viajando depois para a Europa, onde se tornou discípula e amante de Man Ray. Essa ligação abriu-lhe as portas de um círculo de intelectuais e artistas onde se contavam Paul Éluard e Picasso. Aí conheceu também Roland Penrose, o seu futuro marido.

Com o eclodir da II Guerra Mundial, Miller documentou o Blitz e forçou a sua ida para a frente de combate, como correspondente de guerra da Vogue de Londres. Esteve na tomada de Saint-Malo pelos Aliados e na libertação de Paris (1944). Testemunhou em primeira mão os horrores dos campo de concentração de Dachau e Buchenwald.

Em Munique, teve acesso ao apartamento de Hitler e fez um célebre retrato mergulhada na banheira do ditador, na mesma noite em que este cometia suicídio no bunker em Berlim. O filme de Kuras baseia-se no livro The Lives of Lee Miller, do filho da fotógrafa, Antony Penrose, e tem Kate Winslet no papel principal.

José Cabrita Saraiva