Dezoito! 18 pontos separam o primeiro do último classificado neste campeonato nacional, ou pomposamente I Liga, ao fim de seis jornadas. Uma exibição deprimente de falta de competitividade que atinge um ponto de gravidade assustador ao mesmo tempo que os seus responsáveis, e sobretudo o presidente da Liga de Clubes, assobiam para o lado e se dedicam a campanhas eleitorais espúrias, agora na tentativa de dominar a Federação Portuguesa de Futebol. E assim, de eleição em eleição, premeia-se a incompetência.
No último fim de semana fiquei com a sensação de que o Sporting poderia ganhar avanço definitivo sobre os outros dois grandes por via das saídas que estes tinham a Guimarães e ao Bessa. Desculpem-me a ingenuidade. Tanto FC Porto como Benfica libertaram-se de Vitória e de Boavista com uma perna às costas, mostrando-me que as coisas ainda estão muito pior do que pensava. Claro que me refiro a duas situações diferentes. Os encarnados defrontaram uma equipa de criancinhas que pouca luta poderia dar, ainda que tentasse como pôde explorar o exagero de passes falhados que a turma de Bruno Lage teima em repetir nas saídas de bola. Por seu lado, o Vitória de Guimarães limitou-se a demonstrar que, de facto, a diferença dos quartos e quintos para os três maiores é grotesca, entregando-se de mãos amarradas e baraço ao pescoço como Egas Moniz a D. Afonso Henriques. E assim, o FC Porto ganhou facilmente um jogo que deveria ter sido difícil, disfarçando debilidades como já não conseguiu fazer na Noruega, para a Liga Europa, perdendo para um daqueles adversários da III Divisão do Continente, um tal de Bodo/Glint, expressando com clareza mais uma faceta da forma como as nossas equipas vão caindo no buraco da indigência.
O comboio decadente
Cantava o Zeca: «No comboio descendente/Vinha tudo a gargalhada/Uns por verem rir os outros/E os outros sem ser por nada». Viajam as equipas principais de Portugal num comboio tão descendente como decadente. Uns riem-se mais do que outros._O Sporting, por exemplo, que exibe uma soberba superioridade capaz de nos deixar na expectativa de saber se chegará invicto ao final do campeonato. Um dos poucos motivos de interesse de uma prova que o presidente da Liga de_Clubes, Pedro Proença, prometeu valorizar. Não cumpriu a promessa. Como não cumpriu a promessa de passarmos a ver mais adeptos nos estádios, nem a de deixarmos de ter jogos à segunda-feira à noite (e tão inócua que é a sua grande maioria), como não conseguiu explicar a ninguém a ideia da centralização dos direitos televisivos ou quais os seus investidores, preparando-se para abandonar o cargo deixando tudo isso por fazer.
Sejamos concretos: Pedro Proença, que como árbitro já se preocupava mais com a sua própria imagem do que com o que fazia em campo, sendo claramente medíocre, não tinha estrutura para ser presidente da Liga, como não tem para ser presidente da FPF. Se o foi ou se o for é porque também no campo de recrutamento de dirigentes o futebol português bateu no mais fundo dos fundos. Não há ninguém de categoria que queira envolver-se neste mundo de trapalhadas, de aldrabices e de miséria. Vinco o seguinte: não sei se o presidente da Liga leu Spencer ou Baudelaire ou Stuart Mill ou, nem que fosse por obrigatoriedade escolar, o nosso divino Eça. Sei que a sua dificuldade de expressão é evidente e parece dar-lhe um jeitão para não ter de responder às perguntas que lhe queiram fazer sobre o fracasso do seu mandato. Sublinho que não o conheço pessoalmente, não repartimos amizades e nem tenho nada de pessoal contra o homenzinho. Sobra-me uma antiga recordação de o ver, ainda garoto, participar com o viço da juventude nos frequentes jogos entre a equipa de futebol de A Bola e a da Arbitragem, na qual o que corria mais depressa (não, não é ironia) era o José Pratas. Mas encanita-me ver como passa por entre os pingos grossos de chuva como se nada tivesse que ver com a degradação de um campeonato que atingiu um dos pontos mais indecorosos da sua existência. Ainda por cima quando o ouvimos – ou a memória coletiva passou a ser tão curta que já todos esquecemos o que disse? – asseverar que sob a sua alçada tudo iria sofrer uma revolução, aproximando-nos dos grandes da Europa. Quando a incapacidade se junta à inadimplência é preciso colocar os pontos nos is e não ter receio de ser crítico, por mais que as palavras doam. Aquilo a que se chama de I_Liga é uma provazinha de extrema menoridade na Europa do futebol e basta que consultem o número de países que nos últimos dois anos deixaram de ter interesse em comprar os seus direitos televisivos. Com uma cada vez mais discrepância entre clubes ricos e clubes pobres, com a cada vez mais medíocre participação das nossas equipas nas provas europeias, não se vê futuro possível sem uma reestruturação profunda dos quadros competitivos (algo que caberia a Proença realizar e também não realizou) que tem de passar pela redução das duas ligas. É_preciso coragem? É. Mas só se candidata aos cargos quem devia tê-la como característica. E ainda estamos para ver o que vem a seguir. Nada de bom provavelmente.