Turismo sustentável ou caminho para o abismo?


Numa altura que se discute a sustentabilidade social e económica da pressão turística nas cidades, Portugal prevê construir, até 2026, mais 114 novos hotéis que vão oferecer mais 14 mil camas.


Nos últimos tempos, até o cidadão mais distraído já se apercebeu da enorme procura turística pelo nosso País à beira-mar plantado. O que se compreende.

Portugal é um destino invejável, procurado por turistas de todo o mundo, com Sol e temperaturas amenas ao longo de todo o ano, com uma história de nove séculos e um património cultural riquíssimo, a gastronomia e os vinhos com uma diversidade sem igual, paisagens de cortar a respiração entre praia, montanha, planícies, rios e vales, sem esquecer as belíssimas ilhas da Madeira e Açores.

Verdade seja dita que o nosso País, também, tem sabido corresponder aos novos desafios que a procura turística tem imposto, ao nível da promoção internacional, da criação de roteiros cada vez mais diversificados, da capacidade e das condições de acolhimento cada vez mais exigentes, da formação de recursos humanos mais preparados para saber receber bem, ou ainda da introdução de inovação tecnológica e digital nos diversos segmentos da oferta turística.

A atividade turística em Portugal tem sido determinante para a expansão da economia e em 2023 registou um contributo, direto e indireto, de cerca de 33,8 mil milhões de euros, responsável por quase metade do crescimento do PIB.

Em 2024 e já com os dados do primeiro semestre, verifica-se que a atividade turística continua a crescer em Portugal. Entre janeiro e junho, o nosso país recebeu 14,3 milhões de hóspedes, atingindo 34,5 milhões de dormidas, o que representa um aumento de 6% e de 5%, relativamente ao período homólogo do ano passado, tendo resultado num aumento de receitas de 12% num valor próximo de 2,8 mil milhões de euros.

Porventura, este será o momento ideal para refletirmos sobre o caminho que, enquanto nação, queremos para o nosso futuro e para o futuro das novas gerações.

Os dados mais recentes do Turismo de Portugal, apontam para a existência de 5.256 unidades turísticas, que possuem uma capacidade de 348 mil camas. A isto, se somarmos os 114 mil registos de estabelecimentos de alojamento local, com uma capacidade para 670 mil utentes, concluímos que o nosso país disponibiliza mais de milhão de camas para o acolhimento turístico.

Acresce a tudo isto que, segundo dados recentemente publicados[1], prevê-se que Portugal vai contar com mais 114 novos hotéis a abrir até 2026, correspondendo a um pouco mais de 14 mil quartos.

Estes números fazem com que Portugal seja o quinto país na Europa com mais aberturas de novos hotéis, previstas até 2026, ficando apenas atrás do Reino Unido, Alemanha, França e Turquia.

Já no que toca às cidades, é Lisboa que aparece destacada, surgindo em 3.º lugar, com 36 novos projetos, correspondendo a um pouco mais de 4 mil quartos, fazendo com que a capital de Portugal fique somente atrás de Londres e Istambul.

Portugal continua a registar um crescimento significativo em todos os indicadores turísticos e, para além da sua já muito significativa capacidade hoteleira, prossegue uma trajetória robusta de crescimento.

Estes dados não nos devem inquietar, enquanto sociedade, enquanto país? Numa altura em que discute seriamente a pressão turística sobre as cidades  e se discute eventuais imposições de limites  ao número de turistas em cidades, terá sentido manter esta trajetória de aumento da oferta hoteleira? Não seria tempo para se refletir sobre os caminhos que queremos seguir neste domínio, antes que se possa transformar numa situação insustentável para a sociedade ou para os investidores?

Especialista em Habitação e coautor do livro “Políticas Locais de Habitação”


[1] Lodging Econometrics (LE), “Europe Hotel Construction Pipeline Trend Report Q2 2024”

Turismo sustentável ou caminho para o abismo?


Numa altura que se discute a sustentabilidade social e económica da pressão turística nas cidades, Portugal prevê construir, até 2026, mais 114 novos hotéis que vão oferecer mais 14 mil camas.


Nos últimos tempos, até o cidadão mais distraído já se apercebeu da enorme procura turística pelo nosso País à beira-mar plantado. O que se compreende.

Portugal é um destino invejável, procurado por turistas de todo o mundo, com Sol e temperaturas amenas ao longo de todo o ano, com uma história de nove séculos e um património cultural riquíssimo, a gastronomia e os vinhos com uma diversidade sem igual, paisagens de cortar a respiração entre praia, montanha, planícies, rios e vales, sem esquecer as belíssimas ilhas da Madeira e Açores.

Verdade seja dita que o nosso País, também, tem sabido corresponder aos novos desafios que a procura turística tem imposto, ao nível da promoção internacional, da criação de roteiros cada vez mais diversificados, da capacidade e das condições de acolhimento cada vez mais exigentes, da formação de recursos humanos mais preparados para saber receber bem, ou ainda da introdução de inovação tecnológica e digital nos diversos segmentos da oferta turística.

A atividade turística em Portugal tem sido determinante para a expansão da economia e em 2023 registou um contributo, direto e indireto, de cerca de 33,8 mil milhões de euros, responsável por quase metade do crescimento do PIB.

Em 2024 e já com os dados do primeiro semestre, verifica-se que a atividade turística continua a crescer em Portugal. Entre janeiro e junho, o nosso país recebeu 14,3 milhões de hóspedes, atingindo 34,5 milhões de dormidas, o que representa um aumento de 6% e de 5%, relativamente ao período homólogo do ano passado, tendo resultado num aumento de receitas de 12% num valor próximo de 2,8 mil milhões de euros.

Porventura, este será o momento ideal para refletirmos sobre o caminho que, enquanto nação, queremos para o nosso futuro e para o futuro das novas gerações.

Os dados mais recentes do Turismo de Portugal, apontam para a existência de 5.256 unidades turísticas, que possuem uma capacidade de 348 mil camas. A isto, se somarmos os 114 mil registos de estabelecimentos de alojamento local, com uma capacidade para 670 mil utentes, concluímos que o nosso país disponibiliza mais de milhão de camas para o acolhimento turístico.

Acresce a tudo isto que, segundo dados recentemente publicados[1], prevê-se que Portugal vai contar com mais 114 novos hotéis a abrir até 2026, correspondendo a um pouco mais de 14 mil quartos.

Estes números fazem com que Portugal seja o quinto país na Europa com mais aberturas de novos hotéis, previstas até 2026, ficando apenas atrás do Reino Unido, Alemanha, França e Turquia.

Já no que toca às cidades, é Lisboa que aparece destacada, surgindo em 3.º lugar, com 36 novos projetos, correspondendo a um pouco mais de 4 mil quartos, fazendo com que a capital de Portugal fique somente atrás de Londres e Istambul.

Portugal continua a registar um crescimento significativo em todos os indicadores turísticos e, para além da sua já muito significativa capacidade hoteleira, prossegue uma trajetória robusta de crescimento.

Estes dados não nos devem inquietar, enquanto sociedade, enquanto país? Numa altura em que discute seriamente a pressão turística sobre as cidades  e se discute eventuais imposições de limites  ao número de turistas em cidades, terá sentido manter esta trajetória de aumento da oferta hoteleira? Não seria tempo para se refletir sobre os caminhos que queremos seguir neste domínio, antes que se possa transformar numa situação insustentável para a sociedade ou para os investidores?

Especialista em Habitação e coautor do livro “Políticas Locais de Habitação”


[1] Lodging Econometrics (LE), “Europe Hotel Construction Pipeline Trend Report Q2 2024”