É certo que os preços têm aumentado em toda a alimentação e o fast food não fugiu à regra. Cadeias como o McDonald’s ou o Burger King já não são tão baratas como antes e os consumidores notam isso na carteira. Este fenómeno não acontece só em Portugal, mas também no resto do mundo. Nos EUA, por exemplo, a inflação atingiu brutalmente as redes de fast food na última década, com muitos restaurantes a registarem um aumento médio de preço nos menus de mais de 50%.
Os dados do Finance Buzz revelam que, entre 2014 e 2024, os preços de 10 produtos em 10 menus diferentes (ver gráfico ao lado) do McDonald’s cresceram 100% e 55% no Burger King. Já a Taco Bell viu os produtos dispararem 81%. E, se assim é nos EUA, não é diferente em Portugal.
Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, explica ao Nascer do SOL que estes aumentos são justificados com o «preço dos inputs mais elevados, sobretudo energia e bens alimentares, bem como salários mais altos», que «impulsionaram os custos destas empresas», adiantando também que «o seu pricing power (poder de fixação de preços) permitiu repassar esses custos para os clientes». O economista detalha ainda que todas as restantes empresas de restauração, «sobretudo restaurantes, aumentaram igualmente os seus preços para mitigarem a subida dos preços dos inputs, facilitando a vida às fast food no repassar dos custos mais elevados, impulsionando a subida da inflação no setor da restauração».
Já Henrique Tomé, analista da XTB, avança ao Nascer do SOL que «é importante perceber que todos os anos os preços sobem, devido ao efeito da inflação». No entanto, acrescenta «o que estamos a observar é um desfasamento grande entre a subida dos preços (mesmo que as taxas de inflação continuem a dar sinais baixos) e o poder de compra real das famílias».
O analista defende que, apesar das taxas de inflação estarem baixas em Portugal neste momento, «a verdade é que tivemos quatro anos de fortes pressões sobre os preços que foram acumulando toda esta pressão». E adianta que, ao mesmo tempo, «parece que os números podem enganar porque a contagem da inflação é feita através de períodos homólogos. Ou seja, tem algumas limitações em contabilizar os períodos onde houve maior acumulação de subidas».
E não é tudo. Henrique Tomé recorda que, nos últimos anos, os salários não acompanharam a subida dos preços na generalidade, «o que tem contribuído para esta perceção que até as cadeias de fast food estão muito mais caras».
No entanto, diz que estas cadeias não deixariam de ter lucros mesmo que mantivessem os preços antigos. «O que poderia acontecer seria baixarem as suas margens, não deixariam de ter lucros», garante, defendendo que estes aumentos «acontecem devido ao aumento generalizado dos preços nos vários processos que são necessários para a venda do produto final. Este aumento dos custos é passado sempre para o consumidor final».
Já Paulo Rosa não tem dúvidas de que «os lucros seriam materialmente afetados».
Questionado sobre o que podemos esperar para o futuro, o analista da XTB defende diz que as perspetivas é que os preços continuem a aumentar ao longo do tempo, «a não ser que ocorra um evento inesperado como uma crise por exemplo, o que iria a levar os consumidores a mudar drasticamente os seus padrões de consumo e as empresas tivessem de ajustar os preços a fim de captar novamente a procura pelos seus produtos». Ainda assim, considera que «estas subidas não deveriam surpreender, uma vez que são ‘naturais’ que aconteçam», lembrando o chamado «índice big mac» onde é possível ver a evolução dos preços, por exemplo, dos hambúrgueres da McDonald’s.
«Obviamente que os consumidores em Portugal podem levantar questões sobre o preço a pagar por fast food em comparação com outras alternativas eventualmente mais acessíveis ou até ao mesmo preço, mas mais ‘saudáveis’», defende Henrique Tomé, para quem, ainda assim, «o grande problema aqui é o fato dos salários não acompanharem a evolução dos preços e tem se sentido cada vez mais em diversos setores da economia»
Já Paulo Rosa afirma que estas cadeias não deixarão de ser low cost, «porque o restante setor da restauração também aumentou os seus preços». Ou seja, «a diferença relativa, em termos percentuais, antes e depois da inflação, continua a ser a mesma das fast food para os restaurantes».
Setor mais dinâmico
A verdade é que, mesmo com os preços mais altos, a restauração tem continuado a crescer. Uma análise recente da Informa D&B mostra que a faturação do setor da restauração em Portugal atingiu os 5 400 milhões de euros em 2023, um crescimento de 9,1% face ao ano anterior. «Além da inflação, a procura das famílias e das empresas e o crescimento do turismo conduziram a este aumento no negócio da restauração», revela o estudo, acrescentando que a mudança de hábitos de consumo «fez do segmento de fast food o mais dinâmico, com o seu volume de negócios a registar um aumento de 10,5% em 2023, para 1 525 milhões de euros, o equivalente a 28,2% do total do setor».
Para o futuro, as projeções da Informa D&B esperam que este ano e no próximo «o volume de negócios agregado dos restaurantes portugueses mantenha uma trajetória de crescimento, ainda que a um ritmo inferior ao dos anos anteriores».
E fazem notar que «nos últimos anos há uma tendência para a concentração da atividade, devido ao desenvolvimento das maiores cadeias, incluindo as de fast food».