Programador e crítico cultural, faleceu na madrugada de quinta-feira passada, em Lisboa, aos 69 anos, na sequência de complicações de saúde prolongadas. Seabra, um dos fundadores do jornal Público, viu o seu estado de saúde agravar-se nas últimas semanas.
Nascido a 9 de agosto de 1955 e formado em Sociologia, Augusto M. Seabra iniciou a carreira na crítica musical em 1977 e expandiu o seu trabalho para o cinema (por exemplo, através do documentário Manoel de Oliveira: 50 Anos de Carreira, que assinou com José Nascimento). Ficou conhecido por colaborações em jornais como A Luta e o Expresso, exerceu funções enquanto colunista em diversos periódicos e dedicou-se à programação cultural. Foi produtor executivo no Departamento de Programas Musicais da RTP e participou na criação de espetáculos de teatro musical. Durante o Verão Quente de 1975, Augusto M. Seabra, que era asmático e sofria de problemas respiratórios graves, viveu um episódio célebre ligado ao Movimento de Esquerda Socialista (MES): o MES preparava-se para uma manifestação organizada pelo PS a favor da liberdade de imprensa e contra a manipulação dos meios de comunicação pelo Governo comunista; na sede do MES, na Av. D. Carlos I, quando a manifestação começou, as forças militares lançaram gás lacrimogéneo contra os manifestantes; o crítico teve de ser carregado em braços e socorrido por médicos e enfermeiros.
Seabra deixou uma marca significativa na crítica das artes em Portugal, particularmente na música e no cinema, conforme destaca a Cinemateca Portuguesa, à qual doou parte do seu acervo pessoal. O diretor do Público, David Pontes, elogiou a contribuição de Seabra para o jornal e para a cultura, refletindo sobre a perda de uma figura de grande importância intelectual.
Além do seu trabalho como crítico e programador, também esteve envolvido em festivais internacionais de cinema, como Cannes e San Sebastián, e foi programador do festival DocLisboa. Em 2021, doou o seu acervo pessoal – que inclui livros, discos, DVD, periódicos e outros documentos – a várias instituições culturais, incluindo a Cinemateca Portuguesa e a Biblioteca Nacional de Portugal.
Seabra também teve um papel ativo na discussão cultural e política em Portugal, enfrentando processos judiciais e polémicas, como quando foi processado por críticas a Rui Rio – chamou-lhe «energúmeno» –, mas foi absolvido, ou quando o ministro da Cultura João Soares se demitiu depois de lhe ter prometido umas «salutares bofetadas» em resposta às suas críticas.
A sua vasta influência na crítica cultural e o seu trabalho na promoção das artes deixam um legado duradouro. A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, realçou em comunicado «a qualidade e a profundidade dos conhecimentos» de Augusto M. Seabra «e do seu pensamento crítico sobre a cultura, entendida em todas as suas dimensões».