Albuquerque maduro na democracia da Madeira


Há muito que a Região Autónoma da Madeira tinha a ganhar em respirar outro ar democrático, menos cristalizado em décadas de poder, em interesses instalados e numa certa prepotência do exercício político que confunde Autonomia com cálculo dos interesses particulares.


É do domínio da ousadia, os que na Região alguns apelidam de “cubanos”, um português do continente, escrever sobre a situação na Madeira, tocada pelo flagelo dos incêndios, agora denominados de rurais, outrora florestais, e quase sempre impulsionados pelo deficiente ordenamento do território, ao desleixo face aos riscos, a falta de prevenção, a irrelevância dos meios da proteção civil para os desideratos eleitorais e a tão incontornável como abjeta mão humana.

A democracia apresenta sempre enormes oportunidades, riscos e desafios, onde se integram os abusos, as distorções e as derivas instaladas que contribuem para a modelação da normal e genuína expressão da vontade do Povo, seja pela emergência de circunstâncias que condicionam o funcionamento do sistema, a partir do poder e dos interesses vigentes, seja pelas dificuldades de afirmação das ideias, projetos e iniciativas alternativas, cívicas, partidárias ou políticas, onde se incluem as identitárias.

Há muito que a Região Autónoma da Madeira tinha a ganhar em respirar outro ar democrático, menos cristalizado em décadas de poder, em interesses instalados e numa certa prepotência do exercício político que confunde Autonomia com cálculo dos interesses particulares.

O Povo tem escolhido democraticamente mais do mesmo e a evidência das consequências não podia estar mais à vista de todos num território gerido com uma enorme relevância do centralismo do governo regional completamente desproporcional ao poder democrático dos autarcas municipais eleitos pelos seus munícipes, sem paralelo no continente.

Essa vigente presunção de prepotência política, assente no mandato popular e nos arranjos partidários para a manutenção do poder, joga com a força dos interesses instalados, o controlo de meios fundamentais das dinâmicas dos quotidianos, media incluídos, e um certo conformismo com as existências, quantas vezes assumidas como benesses de quem manda, ao invés de direitos que a Constituição da República e o Estatuto Autonómico lhes conferem.

O quadro vigente em espiral de evidente degradação e podridão, que conta com o suporte ativo-anuente do Chega, justicialista e populista no continente, suporte do estado da arte nas Ilhas, prossegue com a cobertura política presidencial, enquanto se espraia para novas realidades onde se incluem perseguições políticas no aparelho regional aos que nas contendas internas não apoiaram a solução Miguel Albuquerque, tem nos incêndios uma nova e incrédula deriva de presunção de arrogância política e de orgulho bacoco.

“De momento, não é necessário”, disse o presidente Miguel Albuquerque à oferta de Paulo Rangel, primeiro-ministro em funções, segundo fonte do gabinete regional à Agência Lusa, a 16 de agosto.

Não foi a oposição política que inventou.

Não foram os media que especularam.

Não foi nenhum lobo marinho, nenhuma cagarra ou alma-negra das Selvagens ou das Desertas que transmitiram a desnecessidade de apoio nacional para o combate ao incêndio rural na Madeira.

É dos livros que o ataque a um incêndio quanto mais inicial e mais musculado melhor, no sentido da sua contenção e extinção, mas Albuquerque preferiu a soberba da gestão do quintal. O triste problema, tantas vezes verificado, aqui escalado pelos ventos, a temperatura e o perfil do território, é que o incêndio escalou, para rotas erráticas e relevante destruição de património, dando lugar à estratégia de mitigação da displicência política de Albuquerque.

Quem critica é abutre, nas circunstâncias.

Os meios complementares de combate do continente podem vir pela calada, aliás sempre estiveram previstos, certamente com desconhecimento do gabinete do presidente do governo que falou com a Lusa.

O suprassumo presidencial interrompeu as férias no Porto Santo.

A República tem de dar mais meios para a Região.

Albuquerque está maduro de saber os terrenos que pisa e o que basta para a alimentação dos interesses instalados, a sustentação das anestesias cívicas e a preservação do poder político, mesmo em modo de vale tudo, entre contradições, cedências e kits de sobrevivência.

Infelizmente, visto à distância, no mesmo país e com uma visão integrada do território, essa soberba paga-se com delapidação de património natural, perda de bens materiais e destruição de valor de uma Região sublime e com potencial que continua por realizar, onde se inclui a coesão social e outro sentido de desenvolvimento, partilhado por mais que alguns.

O presidente do governo regional interrompeu as férias. Não fez mais que a sua obrigação como titular de cargo público eleito.

Albuquerque sem os meios suficientes, continua a negar apoios. Faz mal.

Miguel Albuquerque, como tantas vezes em que não faz o trabalho de casa, atira-se à República pelas inexistências resultantes de opções políticas regionais não tomadas, não negociadas com Lisboa e não ponderadas, porque irrelevantes para a manutenção das narrativas, dos poderes e da teia de interesses do seu partido, algo partilhada pelo CDS-PP, convertido em Os Verdes do PSD, nas Regionais e no todo nacional.

Pode ser ousadia de continental, mas Albuquerque maduro de jogar com o funcionamento da democracia na Região, com as suas entorses, é cada vez mais igual ao outro, do qual fogem muitos dos seus conterrâneos, desesperados com os atropelos, as soberbas e as consequências das opções políticas de quem exerce o poder. Um como o outro, em latitudes diferentes da degradação do sistema democrático, estão cada vez mais no ponto de caírem de maduros.

Incondicional solidariedade ao povo da Madeira fustigado pelos incêndios!

NOTAS FINAIS

É O QUE SE ARRANJA: MONTENEGRO NAS VEZES DE MARCELO. Depois de anos de selfies de Marcelo, o país está a confrontar-se com crescentes aparições “proto-sélficas” do primeiro-ministro Luís Montenegro nos intervalos dos anúncios da miríade de decisões há muito aguardadas, por contraste com outras proclamações programáticas das últimas décadas.

REGRESSADO DE ALMOGRAVE: ALGO SE PASSA NA REPÚBLICA. Houve uma mudança política, há foguetes de esperança nos anúncios de medidas, o calor do Verão pontua os quotidianos, mas nas conversas com os agentes económicos está tudo retraído. O ânimo elevado não bate certo com a contração das atitudes e dos consumos. Vende-se e compra-se menos, em especial, em territórios que buscam no verão um conforto para o invernos dos esquecimentos do resto do ano.

Albuquerque maduro na democracia da Madeira


Há muito que a Região Autónoma da Madeira tinha a ganhar em respirar outro ar democrático, menos cristalizado em décadas de poder, em interesses instalados e numa certa prepotência do exercício político que confunde Autonomia com cálculo dos interesses particulares.


É do domínio da ousadia, os que na Região alguns apelidam de “cubanos”, um português do continente, escrever sobre a situação na Madeira, tocada pelo flagelo dos incêndios, agora denominados de rurais, outrora florestais, e quase sempre impulsionados pelo deficiente ordenamento do território, ao desleixo face aos riscos, a falta de prevenção, a irrelevância dos meios da proteção civil para os desideratos eleitorais e a tão incontornável como abjeta mão humana.

A democracia apresenta sempre enormes oportunidades, riscos e desafios, onde se integram os abusos, as distorções e as derivas instaladas que contribuem para a modelação da normal e genuína expressão da vontade do Povo, seja pela emergência de circunstâncias que condicionam o funcionamento do sistema, a partir do poder e dos interesses vigentes, seja pelas dificuldades de afirmação das ideias, projetos e iniciativas alternativas, cívicas, partidárias ou políticas, onde se incluem as identitárias.

Há muito que a Região Autónoma da Madeira tinha a ganhar em respirar outro ar democrático, menos cristalizado em décadas de poder, em interesses instalados e numa certa prepotência do exercício político que confunde Autonomia com cálculo dos interesses particulares.

O Povo tem escolhido democraticamente mais do mesmo e a evidência das consequências não podia estar mais à vista de todos num território gerido com uma enorme relevância do centralismo do governo regional completamente desproporcional ao poder democrático dos autarcas municipais eleitos pelos seus munícipes, sem paralelo no continente.

Essa vigente presunção de prepotência política, assente no mandato popular e nos arranjos partidários para a manutenção do poder, joga com a força dos interesses instalados, o controlo de meios fundamentais das dinâmicas dos quotidianos, media incluídos, e um certo conformismo com as existências, quantas vezes assumidas como benesses de quem manda, ao invés de direitos que a Constituição da República e o Estatuto Autonómico lhes conferem.

O quadro vigente em espiral de evidente degradação e podridão, que conta com o suporte ativo-anuente do Chega, justicialista e populista no continente, suporte do estado da arte nas Ilhas, prossegue com a cobertura política presidencial, enquanto se espraia para novas realidades onde se incluem perseguições políticas no aparelho regional aos que nas contendas internas não apoiaram a solução Miguel Albuquerque, tem nos incêndios uma nova e incrédula deriva de presunção de arrogância política e de orgulho bacoco.

“De momento, não é necessário”, disse o presidente Miguel Albuquerque à oferta de Paulo Rangel, primeiro-ministro em funções, segundo fonte do gabinete regional à Agência Lusa, a 16 de agosto.

Não foi a oposição política que inventou.

Não foram os media que especularam.

Não foi nenhum lobo marinho, nenhuma cagarra ou alma-negra das Selvagens ou das Desertas que transmitiram a desnecessidade de apoio nacional para o combate ao incêndio rural na Madeira.

É dos livros que o ataque a um incêndio quanto mais inicial e mais musculado melhor, no sentido da sua contenção e extinção, mas Albuquerque preferiu a soberba da gestão do quintal. O triste problema, tantas vezes verificado, aqui escalado pelos ventos, a temperatura e o perfil do território, é que o incêndio escalou, para rotas erráticas e relevante destruição de património, dando lugar à estratégia de mitigação da displicência política de Albuquerque.

Quem critica é abutre, nas circunstâncias.

Os meios complementares de combate do continente podem vir pela calada, aliás sempre estiveram previstos, certamente com desconhecimento do gabinete do presidente do governo que falou com a Lusa.

O suprassumo presidencial interrompeu as férias no Porto Santo.

A República tem de dar mais meios para a Região.

Albuquerque está maduro de saber os terrenos que pisa e o que basta para a alimentação dos interesses instalados, a sustentação das anestesias cívicas e a preservação do poder político, mesmo em modo de vale tudo, entre contradições, cedências e kits de sobrevivência.

Infelizmente, visto à distância, no mesmo país e com uma visão integrada do território, essa soberba paga-se com delapidação de património natural, perda de bens materiais e destruição de valor de uma Região sublime e com potencial que continua por realizar, onde se inclui a coesão social e outro sentido de desenvolvimento, partilhado por mais que alguns.

O presidente do governo regional interrompeu as férias. Não fez mais que a sua obrigação como titular de cargo público eleito.

Albuquerque sem os meios suficientes, continua a negar apoios. Faz mal.

Miguel Albuquerque, como tantas vezes em que não faz o trabalho de casa, atira-se à República pelas inexistências resultantes de opções políticas regionais não tomadas, não negociadas com Lisboa e não ponderadas, porque irrelevantes para a manutenção das narrativas, dos poderes e da teia de interesses do seu partido, algo partilhada pelo CDS-PP, convertido em Os Verdes do PSD, nas Regionais e no todo nacional.

Pode ser ousadia de continental, mas Albuquerque maduro de jogar com o funcionamento da democracia na Região, com as suas entorses, é cada vez mais igual ao outro, do qual fogem muitos dos seus conterrâneos, desesperados com os atropelos, as soberbas e as consequências das opções políticas de quem exerce o poder. Um como o outro, em latitudes diferentes da degradação do sistema democrático, estão cada vez mais no ponto de caírem de maduros.

Incondicional solidariedade ao povo da Madeira fustigado pelos incêndios!

NOTAS FINAIS

É O QUE SE ARRANJA: MONTENEGRO NAS VEZES DE MARCELO. Depois de anos de selfies de Marcelo, o país está a confrontar-se com crescentes aparições “proto-sélficas” do primeiro-ministro Luís Montenegro nos intervalos dos anúncios da miríade de decisões há muito aguardadas, por contraste com outras proclamações programáticas das últimas décadas.

REGRESSADO DE ALMOGRAVE: ALGO SE PASSA NA REPÚBLICA. Houve uma mudança política, há foguetes de esperança nos anúncios de medidas, o calor do Verão pontua os quotidianos, mas nas conversas com os agentes económicos está tudo retraído. O ânimo elevado não bate certo com a contração das atitudes e dos consumos. Vende-se e compra-se menos, em especial, em territórios que buscam no verão um conforto para o invernos dos esquecimentos do resto do ano.