Os cinco maiores bancos a operar no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, Santander Totta, BCP, Novobanco e BPI – lucraram mais de 2,6 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano. Feitas as contas, dá uma média diária de quase 15 milhões de euros por dia.
Um resultado que não surpreende o economista do Banco Carregosa Paulo Monteiro Rosa, para quem «as elevadas taxas de juro continuam a beneficiar as margens financeiras dos bancos portugueses, contribuindo para o aumento dos lucros do setor bancário nacional». Ainda assim, admite que têm crescido a ritmos decrescentes, nomeadamente do primeiro para o segundo trimestre, «não só pelo aumento da base, mas também pelas taxas de elevadas juro que retraem o consumo, o investimento e tendem a aumentar o incumprimento e as provisões dos bancos».
E deixa alertas: «A subida das taxas de juro foi positiva para as margens dos bancos, mas, à medida que permanecem elevadas por um período mais longo, aumenta igualmente a probabilidade de incumprimentos e de uma recessão». Monteiro Rosa salienta que «uma recessão é, por vários motivos, um dos piores cenários para a banca, tendo em conta que a descida das taxas de juro, na tentativa de impulsionar novamente a economia, penaliza as margens financeiras do setor bancário. Além disso, a contração da atividade económica diminui a procura de crédito e aumenta os incumprimentos».
A Caixa Geral de Depósitos voltou a ser recordista nos lucros, ao apresentar um resultado de 889 milhões nos primeiros seis meses do ano, o que representa um aumento de 31,6% face a igual período do ano passado, altura, em que obteve um resultado de 608 milhões de euros. O banco liderado por Paulo Macedo vai entregar este ano um dividendo extraordinário de 825 milhões, depois de ter já pago 423 milhões de IRC referentes a 2023 e de ir pagar 417 milhões em pagamentos por conta de IRC no que diz respeito ao atual exercício. A margem financeira registou um crescimento homólogo de 11% para 1,4 mil milhões de euros, impulsionado pelo aumento da atividade de concessão de crédito, nomeadamente no crédito à habitação que aumentou 57% face a igual período do ano passado.
No segundo lugar do ranking surge o Santander Totta, depois de ter apresentado lucros de 547,7 milhões de euros, um aumento de 64,2 face a igual período do ano passado. O resultado de exploração ascendeu a 854,8 milhões de euros, um aumento de 48,7% face ao mesmo período do ano passado, enquanto a imparidade líquida de ativos financeiros ao custo amortizado ascendeu a -4,4 milhões de euros, que compara com -35 milhões registados no primeiro semestre de 2023.
A completar o pódio está o BCP. Os lucros do banco liderado por Miguel Maya subiram 14,7% para 485,3 milhões no 1.º semestre. A margem financeira do grupo ascendeu a 1397,5 milhões, crescendo 1,7% face aos 1374,4 milhões de euros apurados no mesmo período do ano anterior, com esta evolução a ser determinada pelo desempenho da atividade internacional.
Também o Novobanco apresentou resultados de 370,3 milhões , o que ainda assim representa uma queda marginal de 0,8% face aos 373,2 milhões registados em igual período do ano passado. A margem financeira foi de 594,9 milhões e a taxa da margem financeira foi de 2,83%, com a instituição financeira liderada por Mark Bourke a explicar que beneficia da gestão equilibrada das taxas de juro dos ativos e do custo de financiamento.
Por último, o BPI obteve um resultado líquido de 327 milhões, o que representa uma subida de 28% face aos 256 milhões registados no período homólogo do ano anterior. Só a atividade em Portugal contribuiu com 268 milhões de euros.
O que esperar?
De acordo com Paulo Monteiro Rosa, «um eventual abrandamento da economia global no segundo semestre e uma potencial aceleração nas descidas das taxas de juro pelo BCE, abrandariam muito provavelmente o ritmo de crescimento dos lucros dos bancos portugueses».
E refere que, para já, os bancos norte-americanos e europeus têm sido comedidos nos resultados neste segundo trimestre, lembrando que os principais bancos norte-americanos beneficiaram de uma forma geral de um aumento nas comissões cobradas na banca de investimento, quer no trading, quer na gestão de patrimónios, impulsionadas pelo bom desempenho dos mercados acionistas de abril a junho.
No entanto, refere que «já foi notório algum aumento das provisões para enfrentar um eventual aumento dos incumprimentos, não só devido às elevadas taxas de juro, mas também para responder a uma eventual desaceleração da economia no segundo semestre. Ainda esta quinta-feira, o Société Générale, terceiro maior banco francês, reduziu o seu objetivo de margem de juro líquida na banca de retalho, refletindo as dificuldades neste setor».