Sair do Técnico como seres humanos mais ricos


Ser atleta e estudante é quase como levar uma vida dupla. As madrugadas começavam às 5h30 com um treino, seguindo-se longas horas no Técnico e finalizando o dia com mais um treino.


A jornada que travei nos últimos anos transcendeu em muito a esfera académica. Além do sonho de me tomar engenheiro, perseguia igualmente o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Embora este discurso chegue com dois anos de atraso, acredito piamente que as lições aprendidas, ao fazer escolhas e ao lidar com as respetivas consequências – fossem elas positivas ou negativas – moldaram-me uma pessoa mais completa e apta para enfrentar os desafios da vida. E não mudaria nada!

Recordo-me do 1º semestre no Instituto Superior Técnico em que enfrentei a disciplina de Cálculo 1, pensando que era o auge da dificuldade, sem imaginar o que estava para vir. Os tempos de conforto acabaram e deram lugar a uma vida de sacrifício. No início, tentei abraçar tudo: a vida social, académica e desportiva; no entanto, rapidamente percebi que o caminho que escolhera era árduo e que estar em todo o lado era impossível. Fui imensamente afortunado ao encontrar um grupo de amigos que partilhava de grandes ambições e que não só me motivou como também me proporcionou uma rede de apoio durante estes tempos exigentes. Sem eles, decerto que não estaria aqui hoje.

Ser atleta estudante é quase como levar uma vida dupla. As madrugadas começavam às 5h30 para o treino, seguindo-se as longas horas no Técnico e finalizando o dia com mais um treino. Houve momentos em que entre exames e projetos, o regresso ao Técnico era inevitável. Se fosse para contabilizar as horas, ficaria em dúvida sobre quem levaria a melhor: a piscina, o Técnico ou o meu quarto. Não foi um percurso fácil, mas foi o que escolhi! E quero frisar, mais uma vez, que sozinho não teria chegado a lado algum. Era com o inestimável apoio dos que me rodeavam que enfrentava o meu dia-a-dia.

Admito que, como muitos de vós, nunca me habituei à ideia de ter más notas ou mesmo de reprovar a cadeiras. A cada resultado aquém do esperado, sentia uma mistura de desapontamento e determinação. No entanto, esses momentos não definiram a minha jornada; pelo contrário, ensinaram-me lições valiosas. Compreendi que falhar numa tarefa não fazia de mim um fracasso; era, sim, um convite à reflexão e ao crescimento (foi assim que me apaixonei por programação por acaso). Mais importante, estes desafios ensinaram-me a resiliência. Aprender a levantar-me após uma queda e persistir, apesar das adversidades foram habilidades que desenvolvi não por escolha, mas por necessidade.

Este processo de superação e aprendizagem encontra um paralelo na natação onde enfrentei desafios semelhantes.  Nem sempre os resultados refletem o esforço investido. Houve competições onde, apesar de todo o treino e preparação, os resultados ficaram aquém das expectativas, como foi o caso da minha qualificação Olímpica. Tive imensas oportunidades de fazer a esperada marca e apontei todos os esforços para o campeonato da Europa onde a marca não surgiu. Mas duas semanas depois, na última competição possível no Porto, o improvável aconteceu. Foi um lembrete poderoso de que, enquanto houver possibilidade de tentar, nunca se deve abandonar a esperança.

Adicionalmente, enfrentámos a tempestade global que foi a pandemia. Tempos muito sombrios, em que a incerteza e o receio se tornaram partes integrais do nosso quotidiano. Apesar da gravidade da situação, para mim, paradoxalmente, trouxe um necessário respiro. Numa vida habitualmente marcada pelo ritmo acelerado entre treinos, estudos e compromissos pessoais, a pandemia impôs uma pausa forçada. Foi durante este tempo, em que o mundo parecia ter parado, que encontrei espaço para refletir profundamente sobre a minha vida, as minhas escolhas e os meus objetivos. A pandemia, apesar de todos os desafios, ofereceu-me a oportunidade reconectar comigo mesmo e com aqueles que são mais importantes. Aprendi a valorizar ainda mais o tempo, a saúde, a família e os amigos, percebendo que estes são os pilares da minha existência.

Neste momento tão especial de celebração, sinto uma necessidade de reservar um espaço especial para agradecer à minha família. Eles foram, sem exagero, o meu porto seguro durante todas as etapas desta jornada. Eles acreditaram em mim mesmo nos momentos em que duvidei de mim próprio, e sacrificaram (e continuam a sacrificar) imenso, de formas que agora começo a entender plenamente. Em especial, quero destacar a minha mãe que me mostrou como enfrentar a vida com coragem, como perseguir excelência com humildade e como tratar cada pessoa com compaixão e respeito. O seu incansável sacrifício e o seu amor altruísta não só moldaram a pessoa que sou hoje, como iluminaram o meu caminho. Um obrigado mãe e obrigado família.

Refletindo sobre tudo isto, vejo cada desafio como uma lição, uma oportunidade para crescer. A mensagem que quero deixar é que não estamos sós no mundo. A ajuda mútua não é apenas essencial: é o alicerce das nossas vidas. Que levemos daqui não só a conhecimento académico, mas também a consciência da importância de nos apoiarmos uns aos outros.

Concluo com um apelo a coragem e à solidariedade: sonhem, lutem pelos vossos sonhos, mas nunca esqueçam a importância de estender a mão, tanto para receber ajuda como para oferecê-la. Que todos saiamos daqui não só como mestres e doutores, mas como seres humanos mais ricos, prontos para transformar o mundo, juntos.

Alumuns recém-graduado do Mestrado cd Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do Instituto Superior Técnico; Nadador olímpicos nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

*Texto adaptado do discurso feito no âmbito Sessão Solene do XV Dia da Graduação do Instituto Superior Técnico, realizado a 16 de março, na Aula Magna da Universidade de Lisboa.

Sair do Técnico como seres humanos mais ricos


Ser atleta e estudante é quase como levar uma vida dupla. As madrugadas começavam às 5h30 com um treino, seguindo-se longas horas no Técnico e finalizando o dia com mais um treino.


A jornada que travei nos últimos anos transcendeu em muito a esfera académica. Além do sonho de me tomar engenheiro, perseguia igualmente o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. Embora este discurso chegue com dois anos de atraso, acredito piamente que as lições aprendidas, ao fazer escolhas e ao lidar com as respetivas consequências – fossem elas positivas ou negativas – moldaram-me uma pessoa mais completa e apta para enfrentar os desafios da vida. E não mudaria nada!

Recordo-me do 1º semestre no Instituto Superior Técnico em que enfrentei a disciplina de Cálculo 1, pensando que era o auge da dificuldade, sem imaginar o que estava para vir. Os tempos de conforto acabaram e deram lugar a uma vida de sacrifício. No início, tentei abraçar tudo: a vida social, académica e desportiva; no entanto, rapidamente percebi que o caminho que escolhera era árduo e que estar em todo o lado era impossível. Fui imensamente afortunado ao encontrar um grupo de amigos que partilhava de grandes ambições e que não só me motivou como também me proporcionou uma rede de apoio durante estes tempos exigentes. Sem eles, decerto que não estaria aqui hoje.

Ser atleta estudante é quase como levar uma vida dupla. As madrugadas começavam às 5h30 para o treino, seguindo-se as longas horas no Técnico e finalizando o dia com mais um treino. Houve momentos em que entre exames e projetos, o regresso ao Técnico era inevitável. Se fosse para contabilizar as horas, ficaria em dúvida sobre quem levaria a melhor: a piscina, o Técnico ou o meu quarto. Não foi um percurso fácil, mas foi o que escolhi! E quero frisar, mais uma vez, que sozinho não teria chegado a lado algum. Era com o inestimável apoio dos que me rodeavam que enfrentava o meu dia-a-dia.

Admito que, como muitos de vós, nunca me habituei à ideia de ter más notas ou mesmo de reprovar a cadeiras. A cada resultado aquém do esperado, sentia uma mistura de desapontamento e determinação. No entanto, esses momentos não definiram a minha jornada; pelo contrário, ensinaram-me lições valiosas. Compreendi que falhar numa tarefa não fazia de mim um fracasso; era, sim, um convite à reflexão e ao crescimento (foi assim que me apaixonei por programação por acaso). Mais importante, estes desafios ensinaram-me a resiliência. Aprender a levantar-me após uma queda e persistir, apesar das adversidades foram habilidades que desenvolvi não por escolha, mas por necessidade.

Este processo de superação e aprendizagem encontra um paralelo na natação onde enfrentei desafios semelhantes.  Nem sempre os resultados refletem o esforço investido. Houve competições onde, apesar de todo o treino e preparação, os resultados ficaram aquém das expectativas, como foi o caso da minha qualificação Olímpica. Tive imensas oportunidades de fazer a esperada marca e apontei todos os esforços para o campeonato da Europa onde a marca não surgiu. Mas duas semanas depois, na última competição possível no Porto, o improvável aconteceu. Foi um lembrete poderoso de que, enquanto houver possibilidade de tentar, nunca se deve abandonar a esperança.

Adicionalmente, enfrentámos a tempestade global que foi a pandemia. Tempos muito sombrios, em que a incerteza e o receio se tornaram partes integrais do nosso quotidiano. Apesar da gravidade da situação, para mim, paradoxalmente, trouxe um necessário respiro. Numa vida habitualmente marcada pelo ritmo acelerado entre treinos, estudos e compromissos pessoais, a pandemia impôs uma pausa forçada. Foi durante este tempo, em que o mundo parecia ter parado, que encontrei espaço para refletir profundamente sobre a minha vida, as minhas escolhas e os meus objetivos. A pandemia, apesar de todos os desafios, ofereceu-me a oportunidade reconectar comigo mesmo e com aqueles que são mais importantes. Aprendi a valorizar ainda mais o tempo, a saúde, a família e os amigos, percebendo que estes são os pilares da minha existência.

Neste momento tão especial de celebração, sinto uma necessidade de reservar um espaço especial para agradecer à minha família. Eles foram, sem exagero, o meu porto seguro durante todas as etapas desta jornada. Eles acreditaram em mim mesmo nos momentos em que duvidei de mim próprio, e sacrificaram (e continuam a sacrificar) imenso, de formas que agora começo a entender plenamente. Em especial, quero destacar a minha mãe que me mostrou como enfrentar a vida com coragem, como perseguir excelência com humildade e como tratar cada pessoa com compaixão e respeito. O seu incansável sacrifício e o seu amor altruísta não só moldaram a pessoa que sou hoje, como iluminaram o meu caminho. Um obrigado mãe e obrigado família.

Refletindo sobre tudo isto, vejo cada desafio como uma lição, uma oportunidade para crescer. A mensagem que quero deixar é que não estamos sós no mundo. A ajuda mútua não é apenas essencial: é o alicerce das nossas vidas. Que levemos daqui não só a conhecimento académico, mas também a consciência da importância de nos apoiarmos uns aos outros.

Concluo com um apelo a coragem e à solidariedade: sonhem, lutem pelos vossos sonhos, mas nunca esqueçam a importância de estender a mão, tanto para receber ajuda como para oferecê-la. Que todos saiamos daqui não só como mestres e doutores, mas como seres humanos mais ricos, prontos para transformar o mundo, juntos.

Alumuns recém-graduado do Mestrado cd Engenharia Eletrotécnica e de Computadores do Instituto Superior Técnico; Nadador olímpicos nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

*Texto adaptado do discurso feito no âmbito Sessão Solene do XV Dia da Graduação do Instituto Superior Técnico, realizado a 16 de março, na Aula Magna da Universidade de Lisboa.