Senhoras e senhores! Eis o futebol do futuro!!!

Senhoras e senhores! Eis o futebol do futuro!!!


A Riyadh Kingdom Arena é o maior pavilhão desportivo do mundo, com lugar no Livro do Guinness e tudo! Cabem nele 37 mil pessoas e passará, a partir de agora, a ser o estádio utilizado pelo Al Hilal, a equipa de Jorge Jesus.


RIADE – Já caíra a noite sobre a cidade quando cheguei à Kingdom Arena para assistir à final da Ryadh Season Cup, um torneio triangular que meteu ao barulho as duas mais fortes equipas sauditas do momento, o Al Hilal de Jorge Jesus e o Al Nassr de Luís Castro e Cristiano Ronaldo, e o Inter de Miami, de Lionel Messi, que acabou por não jogar devido a lesão. Estamos a falar do maior pavilhão do mundo, com lugar no Livro de Recordes do Guinness, com capacidade para 37 mil pessoas e preparado para ser transformado de um dia para outro no que for preciso para o desporto que der na gana aos sauditas quererem assistir, aliás como vai acontecer no próximo 18 de maio quando um português, Octávio Pudivitr, defrontar um ucraniano, Daniel Lapin, pelo título mundial da WBA, a World Boxing Association, uma das muitas que neste momento existem em simultâneo sem que a gente saiba verdadeiramente qual delas risca mais, se puder pôr o assunto nestes termos.

Mas deixemos para já o boxe, o wrestling, as corridas de jeeps sobre areia, o ténis, o voleibol e toda a panóplia de modalidades para as quais a Kingdom Arena está preparada e fiquemo-nos pelo futebol e pelo espetáculo de som, luzes e cor que envolveram o Al Hilal-Al Nassr, ganho pelo primeiro por 2-0, o que obrigou a uma imponente entrega de troféus com emires ao barulho e um corredor de vencedores a aplaudirem vencidos, algo que irritou de sobremaneira o capitão da seleção nacional e não serei a tirar-lhe a razão já que era dispensável fazer com que os derrotados ficassem por ali a ter de aturar a natural alegria espontânea dos vencedores, valesse o torneio aquilo que valesse, o que também não era grande coisa.

Todo o espetáculo que rodeou o encontro foi digno de uma entrega de óscares ou de um jogo da NBA. À medida que os espectadores iam entrando, o DJ Carnage dava gás à sua sede de barulho e fazia os possíveis para que os nossos tímpanos sofressem terríveis provações. De quando em vez, as luzes apagavam-se por completo, e jatos de laser cruzavam a sala gigantesca que tem um teto amovível mas que, nessa noite, estava fechado para que o som fosse mais impressionante. Quem ficou sentado, como eu, de frente para uma bancada apenas desenhada para conter camarotes do maior luxo que possam calcular, limitava-se a observar uma espécie de parede espelhada onde homens de dishdasha e turbante se passeavam com a vaidade própria de senhores do universo. Grupos de dança iam-se substituindo uns ao outros, o relvado (que é composto por uma mistura de relva natural e relva artificial) foi sendo coberto por oleados apropriados para cada uma das atuações, Amel, o press-officer da Riyadh Season Cup, a organização do torneio, cumulou-me de atenções, seguiu-me para todo o lado para explicar-me aquela inexplicabilidade que os meus olhos absorviam, disponibilizou-se para me encontrar um adaptador daqueles de três fichas porque, mea culpa, deixei o meu no hotel, as televisões não perdiam um segundo de tudo o que se iam passando. Do alto dos seus tronos iluminados, os familiares do rei Salman, membros da Casa Real de Saud acenavam ao seu povo, que delirava ao vê-los em tamanho gigante no ecrã quadriculado que se encontrava dependurado do teto da arena e criou uma confusão danada o jogo inteiro porque, não havendo VAR, os erros da árbitra miss Penso, vinda com as suas coadjuvantes diretamente dos Estados Unidos para atuar nestes torneio (agora não me venham dizer que os sauditas não estão a fazer esforços grandes para melhorar a sua imagem a nível mundial), era vistos por todos menos por ela que não se deixou afetar nem pela barulheira abafada dos que berravam de forma desgoelada nem pela falta de educação de vários jogadores, sobretudo os não-sauditas, pela feminina figura. Sendo quase certo que o Mundial de 1934 será entregue à Arábia Saudita e que, pelo caminho, teremos o próximo nos Estados Unidos (cujos dirigentes devem estar ansiosos para ter arenas como esta), não fico com grandes dúvidas que assisti a um encontro de futebol parecido com a Odisseia do Espaço. Faltou o Also Spracht Zarathrusta do velho Richard Strauss. Acho que vão continuar a preferir os mix dos DJ’s.