Lembro-me bem da forma absolutamente vibrante como a AD entregou aos portugueses um projeto de esperança, confiança, alegria e vitória eleitoral em 1979 e 1980. Liderada por estadistas de calibre superior, Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Teles, a AD constituiu um balão de oxigénio na mudança que o país necessitava, à altura, para se livrar de um conjunto de práticas revolucionárias de uma esquerda absolutamente destruidora dos valores e da economia.
Essa força política, fruto da indiscutível competência e magnetismo que os seus líderes em si carregavam, criou uma onda de paixão e alegria política que mobilizou o eleitorado de um modo único na sociedade portuguesa. Apesar de várias vezes se ter formalmente repetido, a AD, nunca mais trouxe a paixão e alegria original após a morte do seu grande obreiro, Francisco Sá Carneiro.
Chamo muitas vezes à atenção dos meus alunos de gestão que as marcas valem apenas pelo que conseguem entregar. Quantas marcas de sucesso desapareceram por incapacidade de adaptação aos desafios que o futuro e a inovação carregam? Nokia, Kodak, e centenas de outras são alguns dos exemplos que muitos de nós conhecemos…
Quando observo e analiso o que o atual PSD e CDS representam sinto falta de agenda e trabalho que mobilizem com confiança e paixão os eleitores. Face à trapalhada em que o sistema político se encontra, até poderão ver o resultado eleitoral trazer-lhes, não por mérito próprio, mas por demérito dos adversários, a responsabilidade de governar.
A falta de líderes que inspirem confiança, mostrem trabalho sério realizado e mostrem horizonte de construção, constitui uma efectiva fragilidade da atualidade da política nacional. Sinto que a constituição da AD no final de 2023 corresponde à necessidade e tentativa de construção de uma tábua de salvação para a ausência de capacidade mobilizadora do PSD e do CDS na atualidade.
Portugal precisa de criatividade sócio política e de criatividade sócio económica. É a criação de desígnios sérios que salvará o país do continuado atrofio. A ausência de desígnio que caracteriza esta AD é bem demonstrativa que à frente do interesse nacional está a tentativa de salvar a face política do fracasso que constituem as atuais formas de estar destes dois partidos que já foram, num passado bem distante, aquilo que Portugal precisava que fossem, mas que efetivamente não são.
Também chamo frequentemente à atenção dos meus alunos de gestão que a história mostra bem que as imitações nunca superam o original. Considero que a Ausência de Desígnio vem desvalorizar a história da AD.
Professor de Gestão no ISCTE e CEO do Taguspark
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade”