As eleições autárquicas marcaram o arranque de um novo ciclo eleitoral em Moçambique, com eleições presidenciais agendadas para o próximo ano. Pobreza, corrupção, insegurança e falta de emprego, aliados à tensão política, são os temas que continuam a pautar o quotidiano dos moçambicanos.
As eleições estão a ser dominadas por alegações de fraude e episódios de violência. Em Maputo, o cabeça de lista da RENAMO, Venâncio Mondlane, reivindicou vitória e anunciou uma contagem paralela de votos. Também em Quelimane, tradicional bastião da oposição, houve tensões. Miguel Araújo, cabeça de lista da RENAMO, foi detido e posteriormente libertado na madrugada de quinta-feira.
Destaque merece também a votação na província de Cabo Delgado: o administrador de Mocímbo a da Praia acredita que as ações terroristas, que atormentam a região há 6 anos, estão em fase terminal, e que estariam reunidas condições para o ato eleitoral.
A FRELIMO mantém-se como partido hegemónico em Moçambique. No poder desde 1975, o partido tem sido criticado pelo envolvimento dos seus quadros em casos de corrupção e pela falta de eficácia na frente económica.
Em abril deste ano, época do registo de votantes, várias irregularidades foram denunciadas, principalmente nas autarquias em que a oposição tem mais simpatizantes. Concluiu-se que houve uma distribuição desigual de pontos de registo e que os computadores, onde se realiza o processo, eram escassos nas regiões onde a FRELIMO tem pouca influência, avançou a African Arguments.
Contabilizaram-se 164 postos de registo em Marracuene, autarquia favorável ao partido no poder, enquanto na Beira, onde governa o MDM, foram verificados apenas 66. É de salientar que Marracuene tinha 154.188 votantes registados e a Beira 389.093.
A campanha que antecedeu as autárquicas ficou marcada pelo clima de insegurança: dois membros do MDM estão acusados de raptar um membro da FRELIMO e a RENAMO denunciou a tentativa de assassinato de cabeças de lista do partido por parte das autoridades policiais. Quanto ao primeiro caso, a leitura da sentença dos membros da MDM estava prevista para a véspera das eleições, mas foi decidido o adiamento para 17 de outubro. No que à tentativa de assassinato do cabeça de lista de Metangula diz respeito, a RENAMO alegou uma tentativa de manipulação eleitoral e afirmou, pelo porta-voz José Manteigas, que “não há dúvidas que ele [agente policial] estava a agir a mando do próprio Comandante e a mando de ordens ilegais”.
A votação também foi marcada por acusações de irregularidades e violência. Na Beira, a votação esteve suspensa “porque o vice-presidente da mesa de voto tinha vários boletins de voto escondidos a favor da FRELIMO”, avançou Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Direitos Humanos.